RebeccaEu não conseguia me concentrar em nada na aula daquela manhã. Aaron estava diferente. Ele tentou me convencer de que nada havia mudado, de que ainda confiava em mim, mas eu sentia no fundo do peito que algo estava errado.Ele estava distante.A forma como me olhou ao me deixar na escola de artes antes de ir para o escritório, como se estivesse travando uma batalha interna, apenas reforçava essa sensação.— Rebecca, você está bem? — Lilian perguntou ao meu lado, me tirando de meus devaneios.Pisquei algumas vezes antes de forçar um sorriso.— Sim, claro. Só estou um pouco cansada.Lilian pareceu hesitante, mas então sorriu.— Se quiser conversar, estou aqui.— Obrigada.Ela hesitou novamente antes de perguntar:— Conseguiu resolver as coisas com o seu namorado?O aperto no meu peito aumentou.Aaron.Fiz o possível para fingir uma animação que eu não sentia.— Sim, está tudo bem.Lilian pareceu acreditar, ou pelo menos fingiu que acreditava.— Ótimo! Então, vamos almoçar juntas?
AaronEu queria acreditar nela.Mas como acreditar quando as provas estavam bem diante de mim? Quando aquelas malditas fotos pareciam gritar uma verdade que eu não queria aceitar?Eu não queria ver Rebecca como uma traidora, como alguém capaz de brincar com meus sentimentos. Mas já havia passado por isso antes. Paolla me implorou para acreditar nela. Disse que tudo não passava de uma armação. E, no final, eu descobri que a única pessoa sendo enganada era eu.E se eu estivesse sendo enganado de novo?Os seguranças me avisaram que Rebecca estava parada na frente da escola de artes, aparentemente esperando por alguém. Meu estômago se revirou. Se não era eu, quem ela estava esperando?Acelerei o carro, praticamente ignorando os sinais vermelhos, guiado por uma urgência irracional. Algo me dizia que eu precisava estar lá. Que alguma coisa estava prestes a acontecer.E eu estava certo.Assim que estacionei, o que vi revirou o meu estômago. Rebecca estava lá, e ao lado dela, Eric. Ele segura
RebeccaEu não conseguia respirar.Aaron virou as costas para mim. Ele escolheu não acreditar. O homem que dizia me amar, que prometeu estar ao meu lado contra tudo e todos… foi embora.E me deixou ali. Sozinha. Com Eric.Minha visão ficou turva com as lágrimas, mas eu me recusei a deixá-las cair. Não na frente de Eric. E ele se aproveitou do momento.— Está vendo, Rebecca? — Sua voz era suave, mas carregada de veneno. — Se Aaron realmente te amasse, ele nunca teria acreditado em mim.Suas palavras cortaram fundo. Porque, de alguma forma cruel, eram verdadeiras. Meus punhos se fecharam, e eu senti minha respiração ficar irregular. Mas não era tristeza. Era raiva.Raiva de mim mesma por acreditar que ele nunca faria isso. Raiva por ter permitido que alguém como Eric entrasse na minha vida.Eric percebeu meu silêncio e tentou se aproximar.— Vamos, Rebecca. — Ele gesticulou para o carro, como se estivesse oferecendo uma salvação. — Entre. Eu vou te ajudar.Meu corpo estremeceu de desgos
AaronO cheiro do café recém-passado pairava no ar quando me aproximei da sala de jantar para tomar o café da manhã, o que trazia algum ânimo após uma péssima noite. Mas o clima na mesa dizia o contrário.Além dos meus avós, também estavam sentados à mesa Anton e Anneliese, mas o silêncio carregado e as expressões fechadas indicavam que havia algo de errado. E, principalmente, o olhar tempestuoso de Leonel.— O que está acontecendo? — Perguntei, pegando uma xícara e servindo-me de café.Leonel bufou, o que não era um bom sinal.— Seu irmão não cansa de envergonhar esta família.Franzi o cenho.— Qual deles?Antes que meu avô pudesse explodir de vez, Anneliese entrou na conversa.— Axel. — Ela revirou os olhos, pegando uma fatia de bolo. — A mídia inglesa está noticiando que uma mulher está grávida dele. Fiz uma careta. De novo?— Isso já aconteceu antes. — Dei de ombros, bebendo meu café.— Um encontro que aconteceu durante as férias de Axel em Santorini — Anneliese completou.Meu ol
AaronO silêncio do meu escritório era ensurdecedor. O peso das palavras de Anneliese ainda ressoava em minha cabeça e eu senti como se o chão tivesse desaparecido sob meus pés. Isso não pode estar acontecendo.Sem perder mais um segundo, agarrei minhas chaves e saí do prédio como um furacão. Os funcionários me olharam confusos, mas eu não parei. No estacionamento, entrei no carro e acelerei sem um destino certo. Eu precisava encontrá-la.Liguei para Anneliese enquanto dirigia.— Você tem certeza de que ela levou tudo? — Minha voz saiu cortante, desesperada.— Sim, Aaron. Não há dúvidas. O porteiro me disse que ela foi embora! — O desespero na voz de minha irmã apenas alimentava meu próprio pânico. — Na escola de artes falaram que ela trancou a matrícula.Eu engoli seco, apertando o volante. Como eu deixei isso acontecer? Eu estava tão preso às minhas dúvidas que não percebi que estava a afastando.— O porteiro viu ela indo embora com tudo?— Insisti, o carro cortando as ruas da cidade
RebeccaAssim que desci do ônibus e meus pés tocaram o chão de paralelepípedos, senti um aperto no peito. Castilho parecia exatamente como eu me lembrava: pequena e acolhedora. Por um breve instante, uma onda de nostalgia me invadiu. Era estranho sentir paz depois de tudo o que vivi.Respirei fundo, deixando o ar fresco do interior preencher meus pulmões, tentando ignorar o peso das lembranças que tentavam me puxar para trás. Eu não queria pensar no que aconteceu depois que fui para São Paulo. Não agora.Ajeitei a alça da mala e comecei a caminhar. As ruas, antes tão familiares, agora pareciam um território incerto. Eu podia sentir os olhares sobre mim, pessoas espiando por trás de cortinas, sussurros atravessando o vento. Em Castilho, ninguém era invisível. E eu, com certeza, não passaria despercebida.Quando alcancei a pousada, hesitei por um segundo antes de empurrar a porta. O pequeno sino tilintar, anunciando minha chegada.Dona Suely estava atrás do balcão, contando algumas nota
RebeccaApesar da forte convicção em manter a calma, eu saí caminhando desnorteada, cada passo mais rápido que o anterior, como se pudesse deixar para trás as palavras duras que minha mãe havia cravado em mim. A praça, a igreja, a escola... tudo parecia se fundir em uma névoa de memórias e dor. Eu só queria voltar para a pousada, trancar a porta do quarto e tentar me recompor. Mas o mundo parecia girar mais rápido do que eu conseguia acompanhar.Na pressa de fugir, nem olhei para os lados ao atravessar a rua. Foi então que ouvi o som de um carro se aproximando. Meu corpo congelou por um instante, e quando me virei, não tive dúvidas de que aquele era o carro do pastor Antônio. Meu pai. Meu coração parou, e eu não consegui me mover. Tudo parecia acontecer em câmera lenta: o carro desviando bruscamente, os pneus cantando no asfalto, o impacto que me atingiu de raspão. Senti meu corpo sendo arremessado contra o chão, e a dor explodiu em meu lado esquerdo.Caí no chão com um baque surdo, o
AaronFazia um pouco mais de 24 horas desde que descobri que Rebecca havia sumido. Desaparecido. Sem deixar rastros, sem uma palavra, sem nada. Eu estava desesperado. Não consegui ir para a Baumann no dia anterior, e naquela manhã, após um pedido de Ettore para que eu tivesse paciência, decidi tentar me distrair indo para a empresa. Que grande bobagem. Não conseguia me concentrar em nada. Minha mente não parava de girar em torno dela. Onde ela estava? Estava bem? Por que foi embora? Eu tinha tantas perguntas e nenhuma resposta. Já estava com a pasta na mão, prestes a abrir a porta do meu escritório, quando dei de cara com meu avô. Ele estava ali, imponente como sempre, com aquele olhar penetrante que parecia ver tudo, saber tudo. — Para onde você está indo? — ele perguntou, ignorando completamente o fato de que eu estava claramente de saída. Eu suspirei, tentando manter a calma. — Não estou com cabeça para conversar agora, vô. Preciso sair. Ele não se moveu. Em vez disso, entrou