PietraEu estava terminando de limpar a cozinha quando a campainha tocou. Coloquei o pano de prato no cabide ao lado da pia e me perguntei quem poderia ser. Sem me dar conta de que deveria ir atender a porta — ou que um dos meus irmãos poderia fazer isso — fiquei parada, observando a roupa que estava usando: um conjunto de lycra para malhação, que comprei na esperança de começar a me exercitar, mas que nunca usei para esse fim. Continuava sem tempo, e as condições financeiras não ajudavam.Imaginei que poderia ser Mirella, o que seria estranho considerando que ela havia comentado sobre um cliente importante para aquela noite de sábado. Quando a campainha não voltou a tocar, algo dentro de mim despertou. Isso não era normal. Franzi o cenho e fui em direção à sala de estar, já supondo que fosse apenas alguma criança da vizinhança pregando uma peça.Mas, para minha surpresa, a porta estava aberta, e ouvi vozes do lado de fora. Acelerei o passo, sentindo uma pontada de preocupação. À medi
PietraAo ouvir a minha recusa, a decepção no rosto de Andressa foi imediata, e isso me atingiu em cheio.— Por que não podemos ir, Pietra? — Andressa perguntou, lançando em minha direção um olhar triste.A expressão no rosto de Andressa, assim como a sua pergunta, deixaram claro que ela pensava que se eu estivesse tirando dela uma oportunidade única. E, de certa forma, eu estava. Não era apenas sobre o convite de Anton, mas sobre algo maior. Sabia que oportunidades como essa — uma manhã na casa de uma família rica, com uma piscina e sem preocupações — eram raras. E, com a cirurgia de Andressa se aproximando, quem sabe quando ela teria a chance de fazer algo assim novamente? A recupe
AntonOuvi o suspiro resignado de Pietra, mas não deixei que aquele pequeno detalhe atrapalhasse o momento. A felicidade que sentia era forte demais para ser ofuscada. Finalmente, Pietra estava ao meu lado, ao menos naquele dia, e isso era tudo que eu precisava agora.Quando a ajudei a descer do carro e observei seus irmãos, Isaque e Andressa, com a animação visível em seus rostos, senti como se um sonho antigo estivesse se concretizando. Eu sempre imaginei um domingo como aquele, com Pietra e sua família, desfrutando de um dia tranquilo e divertido juntos. Tinha idealizado esse momento tantas vezes que, agora que ele estava finalmente acontecendo, mal conseguia acreditar.— Venha, quero mostrar a vocês a área da piscina — disse, tentan
PietraO domingo na casa dos Baumann estava se revelando uma experiência completamente diferente de tudo que eu poderia ter imaginado. Os avós de Anton, Berenice e Leonel, me surpreenderam desde o início. Eram gentis, acolhedores, e tratavam tanto a mim quanto a meus irmãos como se fôssemos parte do mesmo meio, sem qualquer distinção. Era algo que eu realmente não esperava.Cresci estudando em escolas particulares caras através de bolsas de estudo, convivendo com a elite. Sabia muito bem como essas pessoas poderiam ser esnobes e cruéis. Tinha sofrido bastante preconceito ao longo dos anos, mas aprendi a lidar com isso, porque nunca esperei nada diferente. Estava preparada para o desprezo e a condescendência, mas o que encontrei na casa dos Baumann foi o oposto. Durante anos,
PietraNa segunda-feira de manhã, a tensão na casa era palpável e meu nervosismo era quase insuportável. Tentei manter a calma, mostrar força para amparar minha irmã, mas por dentro, sentia-me prestes a desabar. Cada movimento parecia pesar o dobro, como se o peso do que estava por vir estivesse sobre meus ombros.Mesmo com a mente tumultuada, segui minha rotina diária. Deixei Isaque na escola, onde ele ficaria até a tarde. O pensamento de que talvez eu não estivesse de volta a tempo para buscá-lo me atormentava, mas felizmente, Mirella, sempre pronta a ajudar, se ofereceu para buscá-lo e ficar em minha casa até que eu retornasse. Sua generosidade me deixou sem palavras. Não sabia como agradecer por esse apoio num momento tão difícil.
AntonSentei-me ao lado de Pietra e segurei sua mão com firmeza. Ela tentou se afastar no início, talvez para evitar qualquer gesto de conforto, mas não soltei. Eu me sentia péssimo. Nas últimas horas, todas as peças começaram a se encaixar, e a culpa me atingiu com força.Lembrei-me do dia em que descobri que Pietra estava trabalhando como acompanhante de luxo. Naquele momento, fui mesquinho e superficial, fazendo julgamentos que agora me envergonhavam. Nunca imaginei que ela estivesse enfrentando algo tão sério como a cirurgia da irmã. Eu não tinha a menor noção da gravidade da situação.Olhei para Anneliese, que estava um pouco mais afastada, observando tudo em silêncio. Ela fo
PietraApesar das palavras da médica sobre a cirurgia ter sido um sucesso, quatro dias depois do procedimento, Andressa ainda não tinha despertado, e eu estava à beira do colapso. A cada minuto que passava, a angústia me consumia mais. Anton estava tentando ficar sempre ao meu lado, me dar apoio, o rosto dele refletindo a mesma preocupação que eu sentia, mesmo quando eu o mandava voltar para a sua vida e o seu trabalho.Ele mal conhecia Andressa, tinha visto minha irmã apenas duas vezes, mas seu cuidado era genuíno. Eu me sentia grata por ele e Anneliese estarem tentando fazer parte disso, me apoiando. Mirella também estava ao meu lado sempre que podia, e isso me dava alguma força, mesmo que, por dentro, eu estivesse desmoronando.Na
AntonNa manhã de sábado, assim que acordei, a primeira coisa que fiz foi me preparar para ir até a casa de Pietra, como havia prometido na noite anterior. Após o jantar que preparei para ela — uma massa leve que, felizmente, ela aceitou comer —, fiquei mais tranquilo. Tinha me certificado de que ela estava se alimentando, o que era algo que ela vinha negligenciando há dias, por causa da preocupação com Andressa.Enquanto descia as escadas da mansão para sair, dei de cara com Anneliese. Ela me olhou com aquele sorriso esperto que sempre dava quando sabia que eu estava envolvido com algo sério.— Indo para a casa de Pietra? — perguntou, já sabendo a resposta.&mdash