~BERNARDO~
Fiquei observando Alice se afastar rapidamente da festa, o coração apertado ao vê-la tão perturbada. Queria ir atrás dela, mas sabia que precisava cumprir o protocolo e ficar pelo menos o suficiente para não levantar mais suspeitas.
Respirei fundo e me virei para encarar meus pais, que me olhavam com curiosidade e preocupação. Minha mãe, sempre perspicaz, foi a primeira a falar.
— Bernardo, o que aconteceu com a sua convidada? Ela parecia perturbada... Era a garota que queria nos apresentar? A médica?
Fiz um esforço para sorrir e manter a calma.
— Sim, mãe. Ela... recebeu uma mensagem do hospital. Algo de urgente com um dos seus pacientes. Sabe como são os médicos — menti.
Um pequeno sorriso se formou nos lábios de meu pai.
— Uma trabalhadora. Gosto de pessoas assim.
— Ce
~BERNARDO~Alice tentou manter a postura firme, mas percebi que suas defesas começaram a ceder um pouco. Apesar da sua fachada de médica durona e fria, suas expressões estavam começando a se tornar transparentes demais para mim, tornando fácil lê-la em certos momentos. Ela suspirou, balançando a cabeça levemente.— Você fala sobre essas mudanças em nossas vidas como se fosse algo bom, e, de fato, Ian foi um presente. Um presente que eu nunca quis ou pedi, mas um presente. Mas não podemos simplesmente levar essa história como se não houvesse nada de problemático nela, ainda mais agora, depois do que Clarice fez — disse ela, tentando soar resoluta.— Eu entendo isso, Alice. E se aquilo realmente for verdade, eu quero lidar com isso da melhor maneira possível. Claro que não vou deixar um possível filho meu desamparado,
Tinha algo curioso sobre trabalhar em um hospital público em uma cidade como o Rio de Janeiro: eu sempre conseguia me surpreender com quão caótico aquilo poderia ficar. Claro, nada se comparava ao dia da invasão, mas em se tratando de trabalho pesado, quando eu achava que já tinha atingido o meu limite, aparecia um dia como o de hoje. Pacientes entrando e saindo, emergências surgindo a cada minuto. Era um daqueles dias que parecia não ter fim, onde o cansaço se acumulava e o estresse estava à flor da pele. Mesmo assim, eu tentava me concentrar em cada tarefa, mantendo a cabeça fria. Era a única maneira de sobreviver àquele turbilhão.E quer saber? Eu gostava daquele caos! Eu era o tipo de pessoa que trabalhava bem sob pressão. A adrenalina me mantinha focada, cada emergência era um desafio a ser vencido, e eu me sentia viva a cada batimento cardíaco acelerado. Cada gr
~BERNARDO~Meu dia na Orsini Tech começou como qualquer outro: reuniões intermináveis, telefonemas constantes e uma montanha de decisões a serem tomadas. A equipe já estava praticamente toda em férias coletivas, mas eu precisei de mais uns dias para deixar tudo organizado. Sentado em minha espaçosa sala com vista para a cidade, eu tentava manter o foco em meio ao turbilhão de pensamentos que minha vida pessoal estava gerando. A questão de Clarice pairava no ar como uma sombra, ameaçando minha paz.— Senhor Orsini, aqui estão os relatórios de desempenho do último trimestre — disse Cláudia, minha eficiente assistente, enquanto colocava uma pilha de documentos sobre a mesa.— Obrigado, Cláudia — respondi, pegando o primeiro relatório e tentando me concentrar.Mas minha mente insistia em voltar para Alice. Como
~BERNARDO~Hoje era meu último dia de trabalho na Orsini Tech antes das festas de fim de ano, e talvez, pela primeira vez em anos eu me sentia confortável com a ideia de férias, ainda que curtas. Estava ansioso por passar o Natal com a família de Alice e conhecê-los, assim como apresentar Ian. E, claro, também estava ansioso por passar mais tempo a sós com ela. Não que Alice fosse ter muito tempo livre, ela já tinha avisado que precisou fazer algumas trocas loucas para conseguir a véspera de Natal. Mas talvez por isso, havia uma ansiedade crescente em finalizar tudo antes do recesso, e eu sabia que teria que lidar com algumas questões importantes antes de poder realmente relaxar.Após uma manhã cheia de compromissos, sentei-me em minha sala, observando a vista panorâmica da cidade. Meu celular vibrou, avisando-me que meu advogado havia chegado. Levantei-me, aje
~BERNARDO~Quando Alice sugeriu que eu a mostrasse como me divertia, uma ideia surgiu na minha mente. Em vez de irmos a uma balada ou a um evento extravagante, decidi levá-la para um lugar que, apesar de ser minha segunda casa, ainda guardava alguns segredos. Poucos sabiam, mas eu tinha uma paixão secreta por games, algo que mantinha escondido de muitos. Imaginei a expressão em seu rosto quando visse o que eu tinha em mente, e isso me animou. A diversão não precisava ser algo convencional, queria algo que revelasse mais sobre mim. Queria mostrar a ela que, mesmo no meio do meu mundo de negócios e responsabilidades, havia espaço para o inesperado e o divertido.— Vamos lá, eu tenho algo em mente — disse, sorrindo enigmaticamente.Alice me pediu apenas alguns minutos para que pudesse tomar um banho e se trocar, e fiz o mesmo. Depois, entramos no carro, e dirigi em direç&
Bernardo sorriu, pegando um taco e girando-o habilmente entre os dedos.— Então vamos tornar as coisas mais... interessantes. — Seu tom era sedutor, seus olhos brilhando com malícia.— Interessantes como? — respondi, aceitando o desafio.— Vamos apostar. Para cada bola que encaçaparmos, o outro deve tirar uma peça de roupa.Minha risada ecoou na sala.— Estou de vestido, Bernardo. Isso não me parece muito justo.— Você me pareceu bem segura das suas aptidões para o jogo. — Ele sorriu, aproximando-se e entregando-me um taco. — Vamos ver quem é melhor.Começamos o jogo, e logo ficou claro que Bernardo subestimara minhas habilidades. Cada vez que eu me inclinava sobre a mesa para fazer uma tacada, sentia seus olhos fixos em mim, o que só aumentava minha determinação. Concentrei-me em cada movimento, apr
~BERNARDO~Dirigia com Alice ao meu lado e Ian seguro na cadeirinha no banco de trás, observando o movimento da cidade que lentamente se transformava em paisagem rural. O silêncio entre nós era pesado. Alice mal me olhara desde a noite passada, e sua decisão de me fazer dormir no sofá era um claro sinal de ciúmes. Isso me divertia um pouco. Se ela estava com ciúmes, então ela tinha sentimentos por mim, o que era um bom sinal, eu diria. Eu podia sentir a intensidade de suas emoções, mesmo sem ela dizer uma palavra. O contraste entre a tranquilidade do campo e o turbilhão de sentimentos no carro era quase irônico. Eu queria quebrar o gelo, então tentei me agarrar a um tema seguro quando puxei assunto.— Você costuma viajar muito para a fazenda dos seus pais? — perguntei, tentando iniciar uma conversa leve.— Não tanto quanto gostari
Enquanto Bernardo estacionava o carro, eu olhava ao redor, sentindo uma mistura de nostalgia e animação ao chegarmos na casa dos meus pais. A casa grande e aconchegante parecia nos receber de braços abertos, com suas janelas iluminadas e o cheiro de comida caseira no ar. As lembranças da minha infância inundavam minha mente, cada canto do lugar trazendo à tona um momento especial. Ian, na cadeirinha no banco de trás, observava tudo com curiosidade, seus olhos brilhando com a excitação de estar em um novo lugar, enquanto balbuciava sons animados. Virei-me rapidamente para ele e comecei a dizer:— Mamãe... mamãe...Bernardo riu. E eu ri de volta. Eu tinha pegado a mania de fazer isso quando Ian começava a emitir sons desconexos.— Para de tentar influenciá-lo, é claro que ele vai falar papai primeiro.— Ah, cala a boca! — brinco.D