Os nós dos dedos de Bernardo estavam esbranquiçados, tamanha a força com que ele segurava o volante à sua frente. Pelo menos estávamos parados, ele tentava recuperar a calma antes de começar a dirigir. Seu rosto estava tenso, mandíbula cerrada, e eu podia sentir a raiva irradiando dele.— Como você conseguiu passar três anos com aquele otário? — Ele praticamente cuspiu as palavras, seu tom repleto de uma raiva mal controlada.— Ele não era um otário quando estávamos juntos... — defendi mais a mim mesma do que a Jonas. — Mas... ele sempre foi ciumento e... não está sabendo muito bem lidar com o término, pelo que parece.Bernardo respirou fundo, tentando se acalmar, mas era evidente que ele ainda estava furioso.— Ninguém saberia lidar com o fato de te perder, Alice. Mas isso não lhe dá o direito de te agarrar e te beijar à força.Assim que Bernardo irrompeu a sala, Jonas me largou, surpreso por um momento. Antes que eles pudessem começar outra briga física, gritei por seguranças e prat
~BERNARDO~Acordei com o som suave de risadas vindas da cozinha, e preciso dizer que o upgrade do sofá para a cama tinha sido muito conveniente, mesmo depois de eu ter trocado o sofá. O sol já estava alto, e pelos raios que entravam pela janela, parecia um belo dia lá fora. Estiquei-me, sentindo os músculos relaxarem depois de uma boa noite de sono, e levantei-me, indo em direção ao som que preenchia o apartamento.Ao entrar na cozinha, encontrei Alice de avental, os cabelos alaranjados soltos, caindo em ondas suaves sobre os ombros, enquanto ela preparava o café da manhã. Ian estava em seu carrinho, balbuciando alegremente, e Alice parecia irradiar felicidade enquanto interagia com ele.— Bom dia, dorminhoco — disse Alice, sem olhar para mim, mas com um sorriso perceptível na voz.— Bom dia — respondi, aproximando-me e passando a mão carinhosamente pelo cabelo de Ian. — Você fez o café?Sei que soo surpreso, mas Alice não era exatamente o tipo de pessoa que gostava de se aventurar na
Eu estava de pé em frente ao espelho de corpo inteiro do meu quarto, ajeitando o vestido longo e elegante que escolhi para a festa de confraternização da Orsini Tech. Meu cabelo estava preso em um penteado sofisticado, com algumas mechas soltas caindo suavemente ao redor do rosto. O batom vermelho destacava meus lábios, e os brincos delicados que tinha ganhado de Bernardo completavam o visual. O brilho das luzes refletindo no espelho parecia intensificar cada detalhe, tornando o momento ainda mais real.— Uau! — disse Bernardo, parando na porta do quarto, seus olhos brilhando de admiração. Ele vestia um terno impecável que realçava sua figura imponente. — Você está... Uau!— Obrigada — respondi, sorrindo nervosamente. — Estou me sentindo um pouco como uma impostora, para ser honesta.Bernardo se aproximou, um sorriso dançando em seu rosto na imagem refletida no espelho logo atrás de mim.— Uma impostora?— Sei lá... Não pareço eu mesma sem um jaleco e um pouco de sangue ou... alguma c
Clarice estava ali, diante de mim, mas completamente diferente do que eu estava acostumada a ver. No hospital, ela sempre estava com o jaleco, o cabelo preso de maneira prática e o rosto cansado de tantas horas de plantão. Agora, com um vestido justo de cor vinho que realçava suas curvas, maquiagem impecável e o cabelo loiro solto em ondas brilhantes, ela parecia uma modelo saída de uma revista de moda. Sua presença era imponente, e a confiança com que ela se movia só aumentava sua beleza.Eu a tinha considerado com uma das minhas melhores amigas durante todo o nosso tempo de residência, e nunca tinha reparado nela dessa forma, no quanto ela era bonita e um tanto intimidadora longe das paredes do hospital. Sinto um breve aperto no perto. Eu não percebi, mas Jonas percebera. Bernardo também não estava deixando passar.— O que eu estou fazendo aqui? Estou aqui pelo mesmo motivo que v
~BERNARDO~Fiquei observando Alice se afastar rapidamente da festa, o coração apertado ao vê-la tão perturbada. Queria ir atrás dela, mas sabia que precisava cumprir o protocolo e ficar pelo menos o suficiente para não levantar mais suspeitas.Respirei fundo e me virei para encarar meus pais, que me olhavam com curiosidade e preocupação. Minha mãe, sempre perspicaz, foi a primeira a falar.— Bernardo, o que aconteceu com a sua convidada? Ela parecia perturbada... Era a garota que queria nos apresentar? A médica?Fiz um esforço para sorrir e manter a calma.— Sim, mãe. Ela... recebeu uma mensagem do hospital. Algo de urgente com um dos seus pacientes. Sabe como são os médicos — menti.Um pequeno sorriso se formou nos lábios de meu pai.— Uma trabalhadora. Gosto de pessoas assim.— Ce
~BERNARDO~Alice tentou manter a postura firme, mas percebi que suas defesas começaram a ceder um pouco. Apesar da sua fachada de médica durona e fria, suas expressões estavam começando a se tornar transparentes demais para mim, tornando fácil lê-la em certos momentos. Ela suspirou, balançando a cabeça levemente.— Você fala sobre essas mudanças em nossas vidas como se fosse algo bom, e, de fato, Ian foi um presente. Um presente que eu nunca quis ou pedi, mas um presente. Mas não podemos simplesmente levar essa história como se não houvesse nada de problemático nela, ainda mais agora, depois do que Clarice fez — disse ela, tentando soar resoluta.— Eu entendo isso, Alice. E se aquilo realmente for verdade, eu quero lidar com isso da melhor maneira possível. Claro que não vou deixar um possível filho meu desamparado,
Tinha algo curioso sobre trabalhar em um hospital público em uma cidade como o Rio de Janeiro: eu sempre conseguia me surpreender com quão caótico aquilo poderia ficar. Claro, nada se comparava ao dia da invasão, mas em se tratando de trabalho pesado, quando eu achava que já tinha atingido o meu limite, aparecia um dia como o de hoje. Pacientes entrando e saindo, emergências surgindo a cada minuto. Era um daqueles dias que parecia não ter fim, onde o cansaço se acumulava e o estresse estava à flor da pele. Mesmo assim, eu tentava me concentrar em cada tarefa, mantendo a cabeça fria. Era a única maneira de sobreviver àquele turbilhão.E quer saber? Eu gostava daquele caos! Eu era o tipo de pessoa que trabalhava bem sob pressão. A adrenalina me mantinha focada, cada emergência era um desafio a ser vencido, e eu me sentia viva a cada batimento cardíaco acelerado. Cada gr
~BERNARDO~Meu dia na Orsini Tech começou como qualquer outro: reuniões intermináveis, telefonemas constantes e uma montanha de decisões a serem tomadas. A equipe já estava praticamente toda em férias coletivas, mas eu precisei de mais uns dias para deixar tudo organizado. Sentado em minha espaçosa sala com vista para a cidade, eu tentava manter o foco em meio ao turbilhão de pensamentos que minha vida pessoal estava gerando. A questão de Clarice pairava no ar como uma sombra, ameaçando minha paz.— Senhor Orsini, aqui estão os relatórios de desempenho do último trimestre — disse Cláudia, minha eficiente assistente, enquanto colocava uma pilha de documentos sobre a mesa.— Obrigado, Cláudia — respondi, pegando o primeiro relatório e tentando me concentrar.Mas minha mente insistia em voltar para Alice. Como