Nick se sentou no sofá, colocou uma perna sobre o assento e fez com que Olíe se encostasse em seu peito, gostava de tê-la daquela forma, perto, protegida, dele.Contou o que sabia, falou com cuidado o que tinha ouvido de Endi e como todas as coisas tinham saído do controle.— Você nasceu aqui, ratinha. Uma filha da máfia exatamente igual a Mel e a mim. O problema é que a sua mãe não teve a sorte de poder cuidar de você. Alguns dizem que você é filha de um soldado baixo que aproveitou a ascensão do meu pai para fugir para o Brasil. Não quis assumir o relacionamento que tinha com a sua mãe e ela terminou sozinha.— Um soldado? Meu pai está no Brasil?— Não, quer dizer, eu não sei. Outras pessoas acham que a sua mãe já estava grávida quando se envolveu com esse soldado e essa seria a explicação para ele ter abandonado ela quando descobriu a gravidez. Homens como nós valorizamos a família, seria quase impossível que um soldado abandonasse a mulher esperando um filho dele.— Mas abandonari
Nick contou o que viu naquela tarde, havia demorado mais do que Olívia para que o corpo cedesse ao efeito da droga e por isso, sabia o nome do homem que a levou.— Vikran? Eu lembro dele! Ele namorava com ela, sempre ia na nossa casa e eu me escondia, eu sempre me escondia. Aqueles homens eram estranhos, diferentes dos professores da escola ou do meu padrinho.Olívia se lembrou da forma como os homens que frequentavam a casa de Helena olhavam para ela, mesmo sem saber o porquê, ela sentia medo, repulsa, nojo.Ela não sabia o motivo que eles a olhavam com desejo, mas Nick sim. Eles eram clientes e não visitantes, conheciam o corpo de Olívia desde que ela era só uma criança e cada um deles gostaria de ser o primeiro a ultrapassar os toques.O rapaz sentiu o estômago embrulhar, era doentio demais que pessoas fossem capazes de olhar uma criança daquela maneira.Nick respirou mais fundo, apertou ainda mais o abraço em torno do corpo pequeno da menina, um movimento involuntário, como se qui
Nunca foi sobre falta de confiança, muito menos sobre achar que Nick não conseguiria lidar com aquele mundo, só que para Olívia nada valia o risco de vê-lo machucado. Ela ainda estava com as costas no peito do namorado e Nick abaixou para falar, não afrouxou o abraço, a queria daquele jeito, com ele, para ele e se havia algo que o rapaz podia entender eram aquelas lágrimas, também entrava em pânico todas as vezes que se lembrava de que aquela história ainda não tinha acabado. — Vem comigo, ratinha? A gente cuida um do outro. Nick cochichou no ouvido da namorada quase como se fosse um segredo, algo só deles. E era exatamente assim que o rapaz enxergava o amor, não o cuidado exagerado de Muralha por Lara, nem a entrega total de Júlia por Sombra. Se deu conta naquele momento que tudo o que sabia sobre amor tinha aprendido com os pais. Na casa de Sara e Ivan não havia aquele que mandava mais, que cedia sempre, nem o que cuidava acima de tudo. Existia uma espécie de equilíbrio bonito
E foi em meio as lágrimas desconfiadas de Arjun e o abraço doce de Zuri que Nick saiu da casa de Lis deixando para trás duas pessoinhas que praticamente tinha acabado de conhecer e ainda assim amava como se carregassem realmente o seu sangue.Pensou sobre isso por alguns segundos.Será que a genética é mesmo tão importante quanto dizem?Afastou o pensamento quando a mente o fez olhar direto para a barriga inexistente, mas que carregava um bebê que ele não sabia se seria capaz de amar.Não podia pensar sobre aquele assunto, não agora que tanta coisa estava em jogo, saiu com a namorada lutando para conseguir lidar com os soluços que ficaram para trás, ao menos Zuri estava com Arjun e parecia destemida como uma guerreirinha.Assim que saíram Sara pediu que o filho conversasse com o piloto, primeiro ela havia planejado irem de helicóptero até o hangar, depois o senhor explicou que seria mais rápido de fossem para o aeroporto comercial, onde poderiam usar um jatinho ao invés de um avião co
Olívia ficou um tempo olhando para Dallia como se quisesse desvendar o que a garota estava escondendo por trás daquelas palavras. E então, infelizmente, baseada na experiência que teve arriscou errado.— Você acha que ele te enxerga e que mesmo sendo a pior coisa do mundo, ainda é o melhor que você merece.Nunca foi a pior coisa, ao contrário, era intenso, às vezes silencioso e carregado de medo e culpa, mas de todos os adjetivos existentes Dallia jamais poderia chamar o que tinha com Tank de ruim. Na verdade, era como tocar o paraíso.O peito apertou, puxou o ar tentando aliviar a sensação e respondeu quase sem pensar.— Vão matar a única pessoa que eu tenho no mundo e não sei o que fazer, por favor, me ajuda.Olíe pensou que poderia falar com Mel talvez a amiga pudesse argumentar com o marido, quem sabe se o capo ouvisse a história da por outro ponto de vista pudesse repensar aquela situação, queria ouvir mais, mas foram interrompidas pela chegada de Nick, o rapaz estava procurando
Rodolpho foi até o amigo, apesar da hierarquia da máfia, o subchefe enxergava Endi como alguém em quem poderia confiar sem nenhum medo. Existia algo que parecia tão linear quanto o horizonte, para o capo, só havia o certo e o errado e isso, por mais estranho que pudesse parecer para alguns, para o subchefe era perfeito.Para alguém como Rodolpho, saber que só ouviria a verdade dava a ele um tipo de paz que o fazia ter certeza de que era sua função cuidar de Endi. Apesar de cada vez mais desconfiar que o filho de Sombra não precisava de proteção de ninguém.— BranqueloO subchefe havia passado pelo portão, não digitou a senha porque não quis, provavelmente era um dos únicos que conhecia cada um dos detalhes das decisões do capo e os mantinha em segredo absoluto, mesmo quando discordava.Desativou o alarme porque sabia que o barulho irritava o chefe, mas deixou que o sistema de segurança fosse ativado, gostava de cachorros. Estava sendo lambido no rosto por um dos dobermans quando o cap
Endi esticou a mão para o subchefe, queria o isqueiro, tinha quase certeza de que passaria algumas horas no seu recanto e em momentos como aquele, o capo apreciava um bom cigarro e um café. — Pega leve, eu não descobri nada ainda. — Uma conversa, não mais do que uma conversa e se Russo não tiver nada a esconder, será só isso. O subchefe entregou o isqueiro e estava prestes a sair quando se lembrou de algo que também achou importante. — Ah, tem mais uma coisa. O Tank esconde a namorada do pai, ninguém sabe o motivo, mas ele falta aos treinos para se encontrar com ela longe do Russo. O capo nem mesmo imaginava que a tal namorada misteriosa fosse a madrasta do rapaz, mas a mente vagou por rumos tão escuros quanto. — Bem normal que ele proteja a irmã e a namorada de um pedófilo. Se Russo foi capaz de se aproveitar de uma criança como está me dizendo, talvez a resposta também esteja aí. O subchefe também odiava a ideia de que a desconfiança do chefe pudesse se concretizar, mas não ne
Russo olhou todos os detalhes do caminho, não esperava que o capo tivesse um local secreto dentro da propriedade, concluiu que provavelmente fosse o lugar que o capo levava suas amantes, a oferta de mulheres para homens como eles era farta, tinha certeza de que era impossível ser fiel.Normalmente nem escondiam, as esposas eram obrigadas a aceitar, mas como Mel era a herdeira de Fera, isso limitava as coisas para o novo capo, assim, um lugar discreto era mais do que explicável.A mente do soldado passeou por vários assuntos, mas acabou voltando para o filho, Tank era a luz dos olhos de Rosie e ela era como se fosse a vida de Russo. Talvez pudesse pedir outra vez pelo rapaz, quem sabe conseguisse que Endi transferisse Tank para outro condomínio.Os ruídos dos próprios passos amassando os gravetos secos no caminho se espalhavam no ar como uma trilha sonora, o subchefe não disse uma única palavra enquanto eles desviavam de árvores e passavam por caminhos estreitos entre rochas enormes.D