Olívia não perdeu tempo. Ignorou a histeria e o nariz sangrando de Kyara. Falou com o namorado como se desse uma ordem:— Nick, me ajuda! Ele não tá respirando!O rapaz ficou paralisado. Não sabia como ajudar, nem sequer tinha percebido quando o pai de Kyara perdeu os sentidos. Estava hipnotizado pela namorada. Enquanto ela defendia Zuri, ele viveu todos os sentimentos possíveis. Primeiro, um orgulho imenso de ter ao seu lado uma mulher que, mesmo depois de tudo o que viveu, era incansável para proteger os seus. Depois, quando lembrou da gestação, teve medo de que ela perdesse o bebê. Estranhamente, logo em seguida, pensou que isso poderia acontecer que, se Deus olhasse para eles, Olívia nem precisaria saber. Por último, ele apenas não queria que ela se ferisse.Nick segurou o pai de Kyara apenas porque não permitiria que mais ninguém machucasse Olívia. Nunca quis matar aquele homem. Ao contrário, até gostava dele.Seus olhos estavam presos no rosto pálido e imóvel do homem. Mas não er
Nem todas as pessoas lidam com a dor da mesma forma, Olívia enfrentou o sofrimento com o coração, Kyara optou por responder fogo com fogo.Foi rejeitada pela mãe desde o instante em que nasceu, uma criança com deficiência nunca é bem recebida na máfia e para piorar ainda mais, Kyara nasceu menina.Quando fechou a porta do quarto deixando o pai para fora, ela se lembrou de todas às vezes em que aconteceu a mesma coisa com ela. Era só uma criança em uma cadeira de rodas, precisava fazer um esforço enorme para chegar até o quarto dos pais e quando finalmente conseguia, Ana levantava da cama e batia a porta.O homem que agora estava lá fora batendo e pedindo para entrar quase sempre assistia o que a esposa fazia. Muitas vezes os dois estavam juntos na cama.— SAI DAQUI!Gritou com ódio, mesmo que não ele nunca tivesse feito nada, ainda que as mãos dele não fossem culpadas, ele assistiu, não só quando a mãe esfregava o seu rosto no assento da privada, mas também agora enquanto Olívia a hum
Quando o casal bateu na porta de Júlia, o garotinho já tinha tomado banho e estava comendo torta no sofá enquanto assistia a um vídeo no ipad de Théo.Zuri em compensação não quis mais desgrudar do rapaz, estava encantada com um jogo que Théo tinha apresentado e assim como ele, não quis comer.— Posso levar?— Pode, eu faço uma cópia e você joga no seu computador.Zuri baixou o tom de voz antes de explicar para que precisava daquele jogo.— Não é para mim, meu irmão não sabe contar ainda e a minha mãe não para de falar de escola, quero ensinar o Arjun antes da gente ir, para ninguém rir dele.Théo lembrou da própria infância e acabou sorrindo, o irmão tinha dado a ele um jogo para que ele conseguisse aprender a ordem das letras no alfabeto. Endi não era muito falante, às vezes ciumento, mas sempre o ajudava.— Excelente ideia, Zuri. Vou baixar uma cópia para você e criar um bem mais legal para brincarem juntos, o que acha?— Você sabe fazer jogos? Do jeito que eu quiser? Qualquer cois
Voltaram para casa juntos, porque era exatamente assim que Nick queria passar o resto da vida, muitas vezes precisou se esforçar para não se perder para a necessidade de vingança, mas quando viu Olívia ir até a Kyara e dar o recado da forma mais incisiva possível, percebeu que algumas coisas precisam ser ditas.Levou Zuri no colo, mas fez questão de pegar Arjun, mesmo que o garotinho preferisse ficar agarrado a mãe. Por algum tipo de ironia do destino, a menina que conheceu primeiro a mãe, era colado ao pai e o garotinho que havia pedido Nick como pai ao Papai Noel, amava ficar com a mãe.Uma troca perfeita onde ninguém perdia nada, como uma soma sem fim onde todos se amavam.— Nem pensar, campeão! Falta equilíbrio. Preciso de um em cada braço ou vou ficar com dor nas costas.Arjun refletiu e se deixou pegar, mas a irmã perguntou a Nick se sentindo curiosa.— Mas e quando tivermos um irmão pequeno?Nick se lembrou com tristeza que o irmão de Zuri e Arjun já estava a caminho. Tentou de
Nick foi atraído para um rosnado que parecia ter vindo do inferno e a visão que teve em seguida o fez se sentir exatamente assim, como uma alma perdida em frente a entrada do caos.Um doberman extremamente elegante se posicionou ao lado de Miran e outro de Edgar. Os outros seis cercaram Nick e o rapaz apenas fechou os olhos, os rosnados e latidos pareciam cortar a sua carne como se antecedessem o fim.Pensou que passar por tudo o que viveu para no final ser destroçado por cães era a bosta de um destino de merda!Um dos dobermans tinha uma cicatriz horrível na lateral da cabeça, realmente parecia um cão do inferno, colou as patas no peito de Nick e o encarou rosnando.O rapaz ficou imóvel, não havia o que fazer.O cachorro parecia estar avaliando a refeição enquanto os outros rosnavam e latiam. Nick podia sentir o hálito do animal até que o líder da matilha desceu e voltou para perto de Endi.Os outros o seguiram e formaram uma espécie de muro de proteção na frente das crianças.Edgar
Nick começou a explicar, tentou contextualizar todos os detalhes da postura de Kyara desde que ele e Olíe retornaram ao condomínio, mas foi interrompido.— Você respondeu o meu padrinho?O rapaz parou de falar, ficou confuso com a pergunta, parecia completamente sem lógica. A cada dia achava o novo capo mais louco.— Você está me ouvindo, estou falando da Kyara, aquela garota que tinha problemas nas pernas, a de cabelo preto e bundão.— Sua namorada sabe que andou reparando na bunda da sua amiga de infância?Nick suspirou impaciente, Endi mudava de assunto mais rápido do que ele conseguia processar, principalmente com a dor de cabeça que estava sentindo. Resolveu entrar na onda do amigo.— Não respondi o meu pai, estou sem telefone, deixei o meu com a ratinha e depois esqueci. E não, Endi, não reparei em ninguém, só no óbvio, a menina é bonita e ponto, acabou por aí. Pessoas são bonitas ou feias, mas isso não muda nada para mim eu amo a minha ratinha e ela sabe disso.— Deveria respon
Nick saiu da casa da irmã com mais dor de cabeça do que tinha chegado, mas pelo menos tinha respostas, algumas confusas, outras completas, ainda assim era mais do que tinha até chegar ali, saiu intrigado com uma das falas do capo, na verdade com várias, mas uma em especial o deixou quase preocupado.— O seu sangue tem esse hábito de não ver o óbvio.Quis entender, mas refletiu sobre aquilo somente até chegar na propriedade de Dragon, o conselheiro da organização bem diferente da maioria daqueles homens, praticamente vivia em um mundo paralelo.Conversava com todos, não gostava de lutar se não fosse para matar, lidava bem com facas e armas, mas dificilmente era visto com algo além da faca curvada de caça. Era gentil com todas as pessoas, mas preferia ficar afastado.Não aceitava as cestas de alimentos que mandavam entregar nas casas dos soldados e era o único entre eles que não aceitava receber pelos serviços, pagou pelo terreno em que morava com a esposa e os filhos e ajudava com quas
Nada pode piorar. Essa é uma das frases menos corretas usadas pela humanidade.Algo sempre pode ser pior e foi isso que Enfim fez com os castigos usados na máfia. Por muitos anos, o pior que poderia acontecer a um soldado seria ficar confinado ao que chamavam de A câmara, uma ideia simples, mas cruel o bastante para fazer matadores profissionais chorarem como crianças.Um buraco de três metros e meio cavado na terra, meio metro de largura e uma tampa de grade. O infrator era posto em pé dentro do foço e permanecia confinado até o fim do prazo dado pelo capo.Só isso já faria muitos enlouquecerem, mas havia seus requintes de crueldade. O prisioneiro não recebia nada, água apenas a que caia do céu, comida só se fosse visitado por algum animal e tivesse forças para devora-lo cru.A única forma de receber algum auxílio era caso alguém aceitasse se submeter a dez chicotadas a cada item que quisesse levar ao castigado.Um castigo para o prisioneiro e para os que ousavam amar um traidor do c