SamuelAbro o pequeno armário do banheiro, que Sarah me indicou e pego uma toalha branca. Sinto o cheiro delicado e floral que está no tecido e sorrio um pouco.Sarah é do tipo de mulher que se atenta aos mínimos detalhes, antes de chamar uma casa de lar realmente.Passo o tecido macio por minha pele, me secando e depois envolvo a toalha em meu pescoço, procurando no armário as roupas que ela deixa separadas para meu pai.Acho uma calça moletom que fica um pouco curta em minhas pernas, mas serve bem ao propósito de me aquecer durante a noite. Procuro uma camisa, mas o mais próximo disso que consigo, é um casaco longo e largo dele. O coloco e só fecho até a metade do corpo. Me olho no espelho e faço uma careta, percebendo que pareço mais um garoto propaganda de algum pornô de garagem.Retiro o casaco e decido ficar sem camisa mesmo.Se Sarah e eu vamos seguir com essa ideia de casamento ela terá que se habituar a ver um pouco de pele, pois em casa é muito difícil eu ficar de camisa.N
SarahUm som estridente começa a se infiltrar em minha névoa cansada do sono. Abro um pouco meus olhos tiro uma densa mecha de cabelo do meu rosto. Murmurando um palavrão, eu pego o responsável por me tirar de uma noite de sono merecida: meu celular.A irritação vai perdendo lugar para a preocupação, ao perceber que é Nina que me liga repetidamente.— Nina? — pergunto, o celular prensado no ouvido com força, enquanto tiro os cobertores de cima de mim.— Sah... — ela me chama, o timbre tremendo tanto que um arrepio de medo desce por minhas costas — Eu não sabia para onde ir... estou na sua porta, mas não quero acordar seus vizinhos.Meus passos apressados, contornam a caminha de Xerez, que se levanta, eriçando as costas como se sentisse em mim a tensão. Abro a porta do quarto e desço as escadas de três em três.Destranco a minha porta da frente, a iluminação automática revelando o rosto de nina lavado de lágrimas, um corte extenso no lábio inferior, algo que desperta memórias que eu pr
SarahParo o carro na garagem de Nina, como faço desde que ela se mudou para um bairro mais próximo do meu.A casa de fachada azul com delicadas janelas brancas, tem somente uma luz acesa. Desligo o carro e penso bem em como terei que agir daqui para frente.— Contatou seu advogado? — pergunto.— Sim. Faça parecer que foi legítima defesa e ele me garantiu que nos tira de qualquer problema em menos de duas horas. — Samuel me responde, muito tranquilo.— Duas horas? Explicou toda a situação para ele? — pergunto, dividida entre a admiração e a surpresa.— Sim. Acredita em mim, o cara sabe o que faz. Ele pegou um jatinho para cá e chega em menos de uma hora, ele só advertiu para não exagerarmos. — Ele me responde.— Sabe que o que terei que fazer para parecer realmente legítima defesa, certo? — pergunto, não querendo deixar nenhuma ponta solta.Samuel olha firme pela janela do carro e vejo o seu maxilar trabalhar freneticamente.— Um único golpe, Sarah — ele diz autoritário e estou pronta
NinaO som da porta se fechando é tudo que preciso para que a tremedeira me tome de vez. Olho para a sala de Sarah, o ambiente familiar aliviando um pouco o peso em meu peito.Subo as escadas devagar, sentindo como cada passo me custa um pouco do meu controle.Como eu pude ser tão tola? Não era eu, que sempre dizia como agiria diferente das mulheres agredidas? Eu não dizia que saberia discernir os sinais e que nunca, em hipótese alguma, me tornaria mais uma dentre muitas nas estatísticas?Porra, eu me tornei só mais uma.Depois de tudo que passei até chegar aqui, eu deixei um babaca qualquer me agredir.Sinto algumas lágrimas descerem livres por meu rosto e não tento pará-las.“Nada disso é sua culpa e não deixe que esse infeliz te tire mais nada.” Sarah havia me dito.Paro um pouco na escada, minha mão apertando o corrimão com força e fecho os olhos, tentando ordenar meus pensamentos.Eu não tenho culpa do infeliz se achar no direito de fazer o que ele fez. Não fui eu a tornar outra
SarahEspreito através da minha caneca de chocolate quente, os rostos em volta da bancada da minha cozinha. Depois de uma volta para casa no mínimo constrangedora, todos nos instalamos na minha cozinha com expressões muito diferentes.Dylan estava taciturno, encarando os papéis a sua frente, como se eles tivessem a cura para o câncer.Samuel digitava algo em seu celular, as olheiras debaixo dos seus olhos, me dizendo que o pouco tempo que passou comigo, já o mostrou que sou um poço de problemas.Bom... talvez assim ele desista dessa ideia ridícula de casamento.Nina tentava furiosamente não ficar encarando Dylan, enquanto bebericava o café que ela preparou.Eu só os observava com um misto de cansaço e curiosidade.A ideia de lhes preparar algo para beber foi de Nina, talvez querendo preencher o silêncio constrangedor, com alguma função.Eles optaram pelo café, apesar de eu não ter visto Samuel sequer encostar na caneca. Eu fiz um chocolate quente, com toda coragem que ainda tinha, poi
SarahUma sensação gostosa começa singela em meu pescoço e desce por meu ombro. Pressiono mais meu rosto na textura quente que me envolve, imaginando que faz tempo que não acordo tão bem assim.Abro meus olhos devagar, a névoa do sono me fazendo perceber tarde que a textura quente que eu tão languidamente me esfrego é o peito de Samuel.O constrangimento vai me submetendo a um estado gaguejante, enquanto eu vejo como eu me enrolei no corpo de Samuel, minha coxa muito bem presa em seu quadril, meu joelho cutucando algo rígido em sua virilha.Santo Deus... — Bom dia. — Samuel diz, a voz rouca e não tenho a certeza se é pelo sono.Me desvencilho dele, sentindo como se meu corpo tivesse me traído durante a noite. E aquele volume na calça? Deveria ser assustador, mas eu me sinto... Curiosa?— Me desculpe Sam... — peço, levando minha mão ao rosto.Solto uma lamúria estridente, quando sinto a mão quente de Samuel envolver meu pulso e erguer meu braço acima da minha cabeça. Ele separa as mi
— Olha eu só preciso trocar algumas palavras com vocês duas, prometo não demorar. — Tento, usando meu tom mais conciliador.Vejo a menina titubear, mas ainda parece resistente a ideia de me deixar entrar.— Nós podemos resolver isso logo e evitar que mais pessoas venham aqui. — Digo, sabendo que tomei a atenção dela.Assisto com certo triunfo, a jovem abrir a porta para mim, fazendo questão de deixar a irmã longe do meu alcance.Entro na casa, que apesar de simples parece bem limpa.Ela me encaminha para um sofá surrado, que já foi de um vermelho intenso.Sento-me, vendo que a sala tem a tinta descascando em vários pontos, um pequeno vaso com flores parecendo ser uma tentativa de por um pouco de vida no ambiente.Há uma troca de olhares intensa entre as irmãs, até que com um bater de pés indignado a mais jovem se retira, entrando em um corredor e nos deixando a sós.Vanessa me olha com uma rudeza crua, que não combina com os traços jovens do seu rosto. Olhando bem para ela, eu reconhe
Sarah— Promete vir olhá-la pelo menos uma vez duas vezes por semana? — pergunto a Nina, no que eu já acho ser a quarta vez.— Não Sarah... vou matar esse bicho cruel e enterrar no quintal. — Nina me diz, um sorriso zombeteiro em seu rosto.Estreito meus olhos para ela, não conseguindo desconsiderar exatamente a ideia de que ela faria isso. Nina e Xerez tiveram um começo conturbado.Na primeira vez que se viram a doninha mal humorada fez questão de mostrar a Nina que não era tão fofinha quanto a sua imagem sugeria. Foi um trabalho duro tirar Xerez do braço da minha amiga. Depois de ficar morta de vergonha e acompanhar Nina para levar alguns pontos no braço ferido, eu me tranquei no banheiro e ri até meu estômago começar a doer.Por Deus... eu ainda consigo rir da cena...Os meses após aquilo exigiram uma boa dose de paciência e muitas conversas, mas por fim Xerez aceitou na medida do tolerável a minha amiga.Ainda não considero as duas os seres mais tranquilos uma com a outra, mas no