— Olha eu só preciso trocar algumas palavras com vocês duas, prometo não demorar. — Tento, usando meu tom mais conciliador.Vejo a menina titubear, mas ainda parece resistente a ideia de me deixar entrar.— Nós podemos resolver isso logo e evitar que mais pessoas venham aqui. — Digo, sabendo que tomei a atenção dela.Assisto com certo triunfo, a jovem abrir a porta para mim, fazendo questão de deixar a irmã longe do meu alcance.Entro na casa, que apesar de simples parece bem limpa.Ela me encaminha para um sofá surrado, que já foi de um vermelho intenso.Sento-me, vendo que a sala tem a tinta descascando em vários pontos, um pequeno vaso com flores parecendo ser uma tentativa de por um pouco de vida no ambiente.Há uma troca de olhares intensa entre as irmãs, até que com um bater de pés indignado a mais jovem se retira, entrando em um corredor e nos deixando a sós.Vanessa me olha com uma rudeza crua, que não combina com os traços jovens do seu rosto. Olhando bem para ela, eu reconhe
Sarah— Promete vir olhá-la pelo menos uma vez duas vezes por semana? — pergunto a Nina, no que eu já acho ser a quarta vez.— Não Sarah... vou matar esse bicho cruel e enterrar no quintal. — Nina me diz, um sorriso zombeteiro em seu rosto.Estreito meus olhos para ela, não conseguindo desconsiderar exatamente a ideia de que ela faria isso. Nina e Xerez tiveram um começo conturbado.Na primeira vez que se viram a doninha mal humorada fez questão de mostrar a Nina que não era tão fofinha quanto a sua imagem sugeria. Foi um trabalho duro tirar Xerez do braço da minha amiga. Depois de ficar morta de vergonha e acompanhar Nina para levar alguns pontos no braço ferido, eu me tranquei no banheiro e ri até meu estômago começar a doer.Por Deus... eu ainda consigo rir da cena...Os meses após aquilo exigiram uma boa dose de paciência e muitas conversas, mas por fim Xerez aceitou na medida do tolerável a minha amiga.Ainda não considero as duas os seres mais tranquilos uma com a outra, mas no
SarahOlho no espelho, observando como o tecido azul escuro parece acender meu tom de pele quente, o decote que desce cavado até o meu umbigo sendo ousado, o corte valorizando minha cintura.Passo a mão, encantada com os pequenos pontos de luz que sobressaem no tecido e eu me sinto quase mágica.Ajeito alguns fios que saem pelo penteado elegante que a cabelereira fez em mim, um pouco soberba em como ela conseguiu deixar meu aspecto distinto.Ainda sou eu, mas é como uma outra versão minha, uma mulher modelada pelo dinheiro e requinte.Estou linda, mas é a mesma sensação de estar usando uma máscara.Saio do banheiro enorme, ainda um pouco assustada com o tamanho da casa de Samuel. Só o quarto que ele separou para mim já é quase o dobro da minha sala.Depois da nossa ida a loja, em que eu me encantei de imediato pelo vestido que estou usando, Samuel me trouxe para sua casa e além do luxo absurdo do lugar, eu também percebi algo muito interessante: Samuel é querido por cada funcionário d
SarahSamuel e eu circulamos pelo salão, ambos tensos demais para sequer tentar fingir algum sorriso. Esperamos o dono da festa começar a discursar sobre os diversos projetos e saímos do evento.Samuel anda ao meu lado, seu marchar rígido e maxilar travado. Nós nada dissemos quando entramos no carro e também nada dissemos durante toda a viagem.Eu sequer imaginava que Lucas e Samuel tinham um avô e muito menos que era um homem tão insuportável. Silos nunca o mencionou e o conhecendo por menos de dez minutos já imagino o motivo.Nós chegamos à mansão de fachada de cores brancas e detalhes em preto, com estilo moderno. Saio do carro, admirando como o jogo de luzes na fachada dá um toque especial.Samuel sai andando a minha frente e sinto que seu humor não é dos melhores.Sigo-o, vendo que ele segue o caminho que se eu me lembro bem da na biblioteca. Ele entra, se jogando na poltrona em frente a mesa. Vejo sua respiração pesada e fecho a porta as minhas costas, admirando brevemente a en
SarahOlho pelo restaurante em que paramos, a cacofonia dos sons me deixando um pouco perdida. Samuel me acordou hoje cedo, em meu último dia aqui, antes do nosso oficial casamento. Eu estranhei a sua disposição matutina, pois até onde me lembrava, Samuel sempre fora um homem que tinha um péssimo humor pela manhã. Ele me disse que tinha uma surpresa e sabendo que quando ele teimava com algo, era quase impossível fazê-lo desistir, eu me arrumei, ficando pronta em poucos minutos para sairmos.Isso se desenrolou em uma viagem de mais de quarenta minutos, comigo no carro perguntando a cada oportunidade sobre o que era a suposta surpresa.Ele obviamente não me contou.Agora, nós fazemos uma pausa merecida em um restaurante de estrada, mas olhando para a decoração temática de piratas e o som estridente das crianças, eu me pergunto se não era mais fácil ter parado em um posto e comprado alguns salgadinhos.Eu realmente gosto de crianças, mas depois de uma noite inteira mal dormida, após ter
SarahSinto meus lábios se abrirem em surpresa, com a mansão que se ergue a minha frente. Tem cerca de cinco minutos que Samuel parou o carro e me disse com tranquilidade.“Essa será a nossa casa pelos próximos dois anos.”Desde então, eu encaro a fachada de pedras claras, o telhado e detalhes das janelas em um preto fosco, uma luz amarelada vindo de lá de dentro.O tamanho, além de desproporcional para duas pessoas, também se encaixa perfeitamente na mata que cerca a propriedade, dando-lhe um aspecto mais isolado e mágico do que eu penso ser possível.É demais... é linda.— Sam... você alugou essa casa, só por causa de Xerez? — pergunto, não crendo que ele possa ser real.Samuel se aproxima, o olhar avaliativo na fachada.— Eu não aluguei, comprei. — Ele me corrige, indicando com a mão a densa camada de árvores que envolve a casa. — Fiz o meu dever de casa com um pesquisador ambiental e ele me disse que essa área é repleta de pequenas presas, ideais para o apetite duvidoso de Xerez e
SarahEncaro o vidro a minha frente como se ele de alguma forma pudesse fazer desaparecer toda a vergonha que ameaça me engolir agora. Eu sei que os acontecimentos de minutos atrás deveriam ser vistos como normais na visão de qualquer um, mas eu ainda não consigo crer que gozei sem reservas nos dedos de Samuel Scott.Daqui a poucos dias seremos casados e terei ainda mais situações como essa... céus...considerando todo aparente apetite sexual de Samuel, eu diria que essas situações não chegam nem perto.— Sarah... olhe para mim. — Ele pede, o tom suave.Meus ombros travam, a vergonha me fazendo agir com uma timidez que não me é comum.Viro-me, um pouco farta disso tudo.Eu havia decidido por ele, certo? Então não há motivo para isso.... bem mais fácil na teoria.Miro em seus olhos ímpares, vendo uma compreensão carinhosa neles.— Eu te fiz sentir mal em algum momento? — ele pergunta, os dedos retirando um fio persistente da frente dos meus olhos.Respiro fundo, sabendo o quão dramática
SarahMinha visão passeia pela sala da minha casa, a mesma sensação que tive ao visitar Samuel dias atrás retornando.É como se eu nunca mais fosse voltar aqui.Concordei com o locatário em não manter o contrato de aluguel por mais meses, pois eu sabia que minha vida a partir de hoje será uma incógnita.Eu estou com medo... merda, estou aterrorizada, mas minha mãe merece mais, muito mais do que já recebeu até hoje e se eu puder fazer alguma coisa, vou fazer.Aprumando meus ombros e esperando que meu coração esteja blindado até os últimos recantos, eu olho para Nina, que se aproxima como uma gaiola grande e de um material reforçado.— Certo... como faremos isso? — ela me pergunta, a voz baixa.Olho para Xerez, que já começa a se mover impaciente em torno do sofá.Isso pode se tornar complicado.— Deixe que eu tento, não posso te levar no hospital, logo hoje. — Brinco, mas vejo como o rosto dela empalidece um pouco.— Muito sensata. — Ela retruca, se afastando alguns passos.Pego a gaio