SarahParo o carro na garagem de Nina, como faço desde que ela se mudou para um bairro mais próximo do meu.A casa de fachada azul com delicadas janelas brancas, tem somente uma luz acesa. Desligo o carro e penso bem em como terei que agir daqui para frente.— Contatou seu advogado? — pergunto.— Sim. Faça parecer que foi legítima defesa e ele me garantiu que nos tira de qualquer problema em menos de duas horas. — Samuel me responde, muito tranquilo.— Duas horas? Explicou toda a situação para ele? — pergunto, dividida entre a admiração e a surpresa.— Sim. Acredita em mim, o cara sabe o que faz. Ele pegou um jatinho para cá e chega em menos de uma hora, ele só advertiu para não exagerarmos. — Ele me responde.— Sabe que o que terei que fazer para parecer realmente legítima defesa, certo? — pergunto, não querendo deixar nenhuma ponta solta.Samuel olha firme pela janela do carro e vejo o seu maxilar trabalhar freneticamente.— Um único golpe, Sarah — ele diz autoritário e estou pronta
NinaO som da porta se fechando é tudo que preciso para que a tremedeira me tome de vez. Olho para a sala de Sarah, o ambiente familiar aliviando um pouco o peso em meu peito.Subo as escadas devagar, sentindo como cada passo me custa um pouco do meu controle.Como eu pude ser tão tola? Não era eu, que sempre dizia como agiria diferente das mulheres agredidas? Eu não dizia que saberia discernir os sinais e que nunca, em hipótese alguma, me tornaria mais uma dentre muitas nas estatísticas?Porra, eu me tornei só mais uma.Depois de tudo que passei até chegar aqui, eu deixei um babaca qualquer me agredir.Sinto algumas lágrimas descerem livres por meu rosto e não tento pará-las.“Nada disso é sua culpa e não deixe que esse infeliz te tire mais nada.” Sarah havia me dito.Paro um pouco na escada, minha mão apertando o corrimão com força e fecho os olhos, tentando ordenar meus pensamentos.Eu não tenho culpa do infeliz se achar no direito de fazer o que ele fez. Não fui eu a tornar outra
SarahEspreito através da minha caneca de chocolate quente, os rostos em volta da bancada da minha cozinha. Depois de uma volta para casa no mínimo constrangedora, todos nos instalamos na minha cozinha com expressões muito diferentes.Dylan estava taciturno, encarando os papéis a sua frente, como se eles tivessem a cura para o câncer.Samuel digitava algo em seu celular, as olheiras debaixo dos seus olhos, me dizendo que o pouco tempo que passou comigo, já o mostrou que sou um poço de problemas.Bom... talvez assim ele desista dessa ideia ridícula de casamento.Nina tentava furiosamente não ficar encarando Dylan, enquanto bebericava o café que ela preparou.Eu só os observava com um misto de cansaço e curiosidade.A ideia de lhes preparar algo para beber foi de Nina, talvez querendo preencher o silêncio constrangedor, com alguma função.Eles optaram pelo café, apesar de eu não ter visto Samuel sequer encostar na caneca. Eu fiz um chocolate quente, com toda coragem que ainda tinha, poi
SarahUma sensação gostosa começa singela em meu pescoço e desce por meu ombro. Pressiono mais meu rosto na textura quente que me envolve, imaginando que faz tempo que não acordo tão bem assim.Abro meus olhos devagar, a névoa do sono me fazendo perceber tarde que a textura quente que eu tão languidamente me esfrego é o peito de Samuel.O constrangimento vai me submetendo a um estado gaguejante, enquanto eu vejo como eu me enrolei no corpo de Samuel, minha coxa muito bem presa em seu quadril, meu joelho cutucando algo rígido em sua virilha.Santo Deus... — Bom dia. — Samuel diz, a voz rouca e não tenho a certeza se é pelo sono.Me desvencilho dele, sentindo como se meu corpo tivesse me traído durante a noite. E aquele volume na calça? Deveria ser assustador, mas eu me sinto... Curiosa?— Me desculpe Sam... — peço, levando minha mão ao rosto.Solto uma lamúria estridente, quando sinto a mão quente de Samuel envolver meu pulso e erguer meu braço acima da minha cabeça. Ele separa as mi
— Olha eu só preciso trocar algumas palavras com vocês duas, prometo não demorar. — Tento, usando meu tom mais conciliador.Vejo a menina titubear, mas ainda parece resistente a ideia de me deixar entrar.— Nós podemos resolver isso logo e evitar que mais pessoas venham aqui. — Digo, sabendo que tomei a atenção dela.Assisto com certo triunfo, a jovem abrir a porta para mim, fazendo questão de deixar a irmã longe do meu alcance.Entro na casa, que apesar de simples parece bem limpa.Ela me encaminha para um sofá surrado, que já foi de um vermelho intenso.Sento-me, vendo que a sala tem a tinta descascando em vários pontos, um pequeno vaso com flores parecendo ser uma tentativa de por um pouco de vida no ambiente.Há uma troca de olhares intensa entre as irmãs, até que com um bater de pés indignado a mais jovem se retira, entrando em um corredor e nos deixando a sós.Vanessa me olha com uma rudeza crua, que não combina com os traços jovens do seu rosto. Olhando bem para ela, eu reconhe
Sarah— Promete vir olhá-la pelo menos uma vez duas vezes por semana? — pergunto a Nina, no que eu já acho ser a quarta vez.— Não Sarah... vou matar esse bicho cruel e enterrar no quintal. — Nina me diz, um sorriso zombeteiro em seu rosto.Estreito meus olhos para ela, não conseguindo desconsiderar exatamente a ideia de que ela faria isso. Nina e Xerez tiveram um começo conturbado.Na primeira vez que se viram a doninha mal humorada fez questão de mostrar a Nina que não era tão fofinha quanto a sua imagem sugeria. Foi um trabalho duro tirar Xerez do braço da minha amiga. Depois de ficar morta de vergonha e acompanhar Nina para levar alguns pontos no braço ferido, eu me tranquei no banheiro e ri até meu estômago começar a doer.Por Deus... eu ainda consigo rir da cena...Os meses após aquilo exigiram uma boa dose de paciência e muitas conversas, mas por fim Xerez aceitou na medida do tolerável a minha amiga.Ainda não considero as duas os seres mais tranquilos uma com a outra, mas no
SarahOlho no espelho, observando como o tecido azul escuro parece acender meu tom de pele quente, o decote que desce cavado até o meu umbigo sendo ousado, o corte valorizando minha cintura.Passo a mão, encantada com os pequenos pontos de luz que sobressaem no tecido e eu me sinto quase mágica.Ajeito alguns fios que saem pelo penteado elegante que a cabelereira fez em mim, um pouco soberba em como ela conseguiu deixar meu aspecto distinto.Ainda sou eu, mas é como uma outra versão minha, uma mulher modelada pelo dinheiro e requinte.Estou linda, mas é a mesma sensação de estar usando uma máscara.Saio do banheiro enorme, ainda um pouco assustada com o tamanho da casa de Samuel. Só o quarto que ele separou para mim já é quase o dobro da minha sala.Depois da nossa ida a loja, em que eu me encantei de imediato pelo vestido que estou usando, Samuel me trouxe para sua casa e além do luxo absurdo do lugar, eu também percebi algo muito interessante: Samuel é querido por cada funcionário d
SarahSamuel e eu circulamos pelo salão, ambos tensos demais para sequer tentar fingir algum sorriso. Esperamos o dono da festa começar a discursar sobre os diversos projetos e saímos do evento.Samuel anda ao meu lado, seu marchar rígido e maxilar travado. Nós nada dissemos quando entramos no carro e também nada dissemos durante toda a viagem.Eu sequer imaginava que Lucas e Samuel tinham um avô e muito menos que era um homem tão insuportável. Silos nunca o mencionou e o conhecendo por menos de dez minutos já imagino o motivo.Nós chegamos à mansão de fachada de cores brancas e detalhes em preto, com estilo moderno. Saio do carro, admirando como o jogo de luzes na fachada dá um toque especial.Samuel sai andando a minha frente e sinto que seu humor não é dos melhores.Sigo-o, vendo que ele segue o caminho que se eu me lembro bem da na biblioteca. Ele entra, se jogando na poltrona em frente a mesa. Vejo sua respiração pesada e fecho a porta as minhas costas, admirando brevemente a en