Sarah “Eu estava mortalmente quieta, minha respiração saindo por entre meus lábios com o mínimo de barulho possível. Se ele me visse, provavelmente eu estaria ferrada. Minha mente de criança estava uma bagunça medrosa, qualquer movimento feito por Carlos me levando a pular debaixo da mesa. Eu havia entrado no escritório por causa da janela que dava para a rua. Um dos meus novos amigos, Samuel, passava todos os dias ali e eu queria ter a chance de lhe dizer que eu não conseguiria sair de casa. Carlos estava furioso. A pós entrar e me colocar de frente para a janela, eu fui surpreendi com os passos pesados dele. Ele sempre andava como se estivesse marchando, um pé depois do outro, sempre com raiva de algo em particular. Tive a belíssima ideia de me esconder debaixo da mesa, meu corpo tremia tanto que eu tive que respirar fundo algumas vezes para não me delatar. Ouvi algo bater na madeira e eu tive que conter o susto, meu coração batendo louco no peito, tanto que eu quase tinha c
SarahObservo o corpo alto de Nina vir em minha direção, a saudade martelando em meu peito, quando ela envolve os braços ao meu redor, seu cheiro me inundando com uma sensação de pertencimento.Depois de ficar mais algum tempo na cama com Samuel, eu me levantei, tomei um longo banho, em que tive o prazer, literalmente, da companhia de Samuel e depois preparei eu mesma, sob os intensos protestos de Luci, um café bem recheado para todos nós.A tarefa cotidiana, assim como a companhia de Samuel, Luci e Rui, me ajudou a terminar de estabilizar meu coração.Em minha mente, criei uma imagem mental em que eu mandava todas essas lembranças para o inferno e dizia que se elas queriam jogar duro, haviam achado uma adversária a altura.Foi reconfortante.Depois disso, tirei um tempo considerável para ligar para Nina, em que descobri que ela estava saindo de uma consultoria que fez a uma loja de moda que acabara de abrir em uma cidade vizinha e louca de saudade como eu estava, fiz questão de chama
Nina Revejo a minha mala, só para ter a certeza de que estou com tudo que trouxe. Dependendo do resultado a da nossa busca em Illinois, retornarei o quanto antes para casa. Gosto de estar com Sarah, ainda mais em um momento crítico como esse, mas temo que não conseguirei manter minha pose de pessoa bem resolvida com Dylan por muito tempo. Droga... eu nem o vi ainda e já quero o mandar para o inferno! É por Sarah... só por ela. Há também esse inconveniente desejo que se revolve por mim cada vez que me lembro de tudo que passamos um com o outro. Merda... se ele não fosse tão perfeito na cama, talvez fosse mais fácil odiar o filho da mãe. Balanço a cabeça, rejeitando os pensamentos e saio do quarto, a noite de ontem sendo mais do que boa para acalmar o coração. Desço as escadas, agora percebendo melhor o estilo moderno e clássico muito bem organizados em cada detalhe da mansão. O homem literalmente mudou tudo em sua rotina, por causa da doninha dela e ainda assim Sarah acha que e
DylanVejo pelo espelho que tanto Nina, quanto Sarah se embalaram uma na outra, um sono tranquilo entre elas.Se descontar a diferença de altura e alguns traços muito característicos de Nina, provavelmente herdados de sua mãe indiana, elas passam muito facilmente por irmãs. Até no comportamento.Reconheço a cumplicidade que elas têm uma com a outra, pois eu mesmo tive isso com minha irmã.— Parecem tão inocentes. — Samuel comenta, um sorriso afetuoso ao olhar para Sarah e Nina.— Ledo engano. — Digo, ouvindo Samuel bufar em concordância.— As duas tem um potencial criminoso de dar inveja a qualquer malvado por aí. — Ele me diz, parando muito suavemente no posto que está ao lado.Estranhando ao ver o sinal de tanque cheio, eu o vejo olhar para Sarah uma última vez e depois sair do carro.Sigo-o, pois conheço Samuel bem o suficiente que ele não faz nada ao acaso.Vejo que Samuel entra na loja de conveniência, enchendo a cesta com todo tipo de porcaria calórica, que eu passo mal só de ol
DylanA pego pelo braço e a viro com tudo, nossos olhares se encontrando, um mais irado que o outro.— Eu posso saber de que merda estava falando quando me chamou de mentiroso? — Guincho para ela e mesmo brava, vejo que ela se surpreende com meu rompante.Nina retira o braço dos meus dedos com um safanão e ajeita a postura, pronta para o embate que ela parece querer desde que nos vimos.— Não sabe mesmo, Monet? — ela pergunta, novamente usando o tratamento formal, o que me irrita pra cacete.Não a vi me chamando de Monet quando eu estava enterrado em sua boceta.— Se eu soubesse querida, não estaria perguntando a você! — Digo para ela, meu tom aumentando, minha paciência evaporando.— Filho da mãe mentiroso! — ela empurra o meu peito e eu dou um passo para trás — Depois de me foder ainda teve a coragem de atender sua esposa no banheiro, Dylan! Eu já conheci homens cafajestes, mas porra, isso foi o ápice...Minha cabeça dá um tranco para trás, assim como meu corpo, o choque se misturan
Sarah — Tem certeza de que vai levar esse almoço para eles? — Samuel me pergunta e depois bebe o seu refrigerante. Ajeito a sacola plástica, em que pus o almoço que pedi para o garçom embalar para Nina e Dylan. O de Nina foi algo fácil, pois ela gosta de tudo que for condimentado e com sabores fortes, já com o prato de Dylan foi Samuel quem me ajudou, ao me alertar que Dylan sofre de diabete crônica. Foi além de uma surpresa, pois desde que o conheci, nunca vi o homem reclamar de nada. — Eles estão tendo momentos conturbados hoje e depois que pegarmos a estrada, demorará mais três horas até pararmos. — Lhe explico. — Dylan está ferrado. — Samuel comenta, o olhar pensativo na janela as minhas costas. Penso em Nina e na forma como ela tem tentado, desde que chegou na mansão a evitar o atrito que Dylan causou hoje. Me sentindo um pouco na defensiva, eu respondo: — Foi ele quem veio agindo como macho dela e Nina detesta essa merda. Samuel me olha, um sorriso compreensivo em seu r
Sarah Ouço a ducha ser ligada e espalho na cama de cobertores floridos de doer os olhos, os documentos que Dylan me trouxe a uns cinco minutos. “Serafina Smith, 67 anos, viúva, sem filhos. Trabalhou como enfermeira por três anos após sua formação, mas foi demitida após um caso suspeito em 1973. Os dados da denúncia, foram retirados do sistema e sete semanas após o ocorrido, Serafina foi demitida. Manteve alguns empregos ao longo dos anos, mas se fixou como empresária de um pequeno negócio em meados de 2010.” A ficha de Serafina continua por mais duas folhas e eu permaneço lendo, tentando achar algo que possa ser útil. O que teria sido essa denúncia que custou seu emprego? E o que teria de tão ruim ao ponto de deletarem as informações? Esfrego meu rosto e junto os papéis, o cansaço me cobrando alto. Olho para a porta do banheiro e me espreguiço um pouco, a ideia de um Samuel nu e se banhando sendo um estimulante e tanto. Não importa quantas vezes eu o tenha, ainda assim não par
SarahO salão em cores roxas me parece fofo quando eu o encaro do lado de fora. Ao meu lado estão Samuel, Dylan e Nina e começo a achar uma comitiva e tanto, só para fazer algumas perguntas, mas não conseguindo abdicar do apoio deles, eu só respiro fundo e entro no salão, a sineta da porta anunciando que entramos.Uma senhora de cabelos vermelhos, a cor viva combinando com o corte curto que ela usa, está varrendo o chão e não se vira de imediato quando nós entramos.— Menino, avise a sua mãe que não poderei cortar seu cabelo hoje. Minhas duas meninas ficaram presas naquele curso na cidade vizinha e minhas costas estão me matando hoje. — Ela avisa, a voz rugosa de quem fuma um ou mais maços por dia.Troco um olhar com Dylan, que dá de ombros. Demoro um pouco a desviar o olhar dele, reparando que Dylan me parece um pouco pálido, sua pele geralmente de um tom retinto forte, hoje quase acinzentada.Ele não está bem.— Desculpe decepcionar, mas eu não vim cortar o cabelo. — Digo, alto o su