DylanVejo pelo espelho que tanto Nina, quanto Sarah se embalaram uma na outra, um sono tranquilo entre elas.Se descontar a diferença de altura e alguns traços muito característicos de Nina, provavelmente herdados de sua mãe indiana, elas passam muito facilmente por irmãs. Até no comportamento.Reconheço a cumplicidade que elas têm uma com a outra, pois eu mesmo tive isso com minha irmã.— Parecem tão inocentes. — Samuel comenta, um sorriso afetuoso ao olhar para Sarah e Nina.— Ledo engano. — Digo, ouvindo Samuel bufar em concordância.— As duas tem um potencial criminoso de dar inveja a qualquer malvado por aí. — Ele me diz, parando muito suavemente no posto que está ao lado.Estranhando ao ver o sinal de tanque cheio, eu o vejo olhar para Sarah uma última vez e depois sair do carro.Sigo-o, pois conheço Samuel bem o suficiente que ele não faz nada ao acaso.Vejo que Samuel entra na loja de conveniência, enchendo a cesta com todo tipo de porcaria calórica, que eu passo mal só de ol
DylanA pego pelo braço e a viro com tudo, nossos olhares se encontrando, um mais irado que o outro.— Eu posso saber de que merda estava falando quando me chamou de mentiroso? — Guincho para ela e mesmo brava, vejo que ela se surpreende com meu rompante.Nina retira o braço dos meus dedos com um safanão e ajeita a postura, pronta para o embate que ela parece querer desde que nos vimos.— Não sabe mesmo, Monet? — ela pergunta, novamente usando o tratamento formal, o que me irrita pra cacete.Não a vi me chamando de Monet quando eu estava enterrado em sua boceta.— Se eu soubesse querida, não estaria perguntando a você! — Digo para ela, meu tom aumentando, minha paciência evaporando.— Filho da mãe mentiroso! — ela empurra o meu peito e eu dou um passo para trás — Depois de me foder ainda teve a coragem de atender sua esposa no banheiro, Dylan! Eu já conheci homens cafajestes, mas porra, isso foi o ápice...Minha cabeça dá um tranco para trás, assim como meu corpo, o choque se misturan
Sarah — Tem certeza de que vai levar esse almoço para eles? — Samuel me pergunta e depois bebe o seu refrigerante. Ajeito a sacola plástica, em que pus o almoço que pedi para o garçom embalar para Nina e Dylan. O de Nina foi algo fácil, pois ela gosta de tudo que for condimentado e com sabores fortes, já com o prato de Dylan foi Samuel quem me ajudou, ao me alertar que Dylan sofre de diabete crônica. Foi além de uma surpresa, pois desde que o conheci, nunca vi o homem reclamar de nada. — Eles estão tendo momentos conturbados hoje e depois que pegarmos a estrada, demorará mais três horas até pararmos. — Lhe explico. — Dylan está ferrado. — Samuel comenta, o olhar pensativo na janela as minhas costas. Penso em Nina e na forma como ela tem tentado, desde que chegou na mansão a evitar o atrito que Dylan causou hoje. Me sentindo um pouco na defensiva, eu respondo: — Foi ele quem veio agindo como macho dela e Nina detesta essa merda. Samuel me olha, um sorriso compreensivo em seu r
Sarah Ouço a ducha ser ligada e espalho na cama de cobertores floridos de doer os olhos, os documentos que Dylan me trouxe a uns cinco minutos. “Serafina Smith, 67 anos, viúva, sem filhos. Trabalhou como enfermeira por três anos após sua formação, mas foi demitida após um caso suspeito em 1973. Os dados da denúncia, foram retirados do sistema e sete semanas após o ocorrido, Serafina foi demitida. Manteve alguns empregos ao longo dos anos, mas se fixou como empresária de um pequeno negócio em meados de 2010.” A ficha de Serafina continua por mais duas folhas e eu permaneço lendo, tentando achar algo que possa ser útil. O que teria sido essa denúncia que custou seu emprego? E o que teria de tão ruim ao ponto de deletarem as informações? Esfrego meu rosto e junto os papéis, o cansaço me cobrando alto. Olho para a porta do banheiro e me espreguiço um pouco, a ideia de um Samuel nu e se banhando sendo um estimulante e tanto. Não importa quantas vezes eu o tenha, ainda assim não par
SarahO salão em cores roxas me parece fofo quando eu o encaro do lado de fora. Ao meu lado estão Samuel, Dylan e Nina e começo a achar uma comitiva e tanto, só para fazer algumas perguntas, mas não conseguindo abdicar do apoio deles, eu só respiro fundo e entro no salão, a sineta da porta anunciando que entramos.Uma senhora de cabelos vermelhos, a cor viva combinando com o corte curto que ela usa, está varrendo o chão e não se vira de imediato quando nós entramos.— Menino, avise a sua mãe que não poderei cortar seu cabelo hoje. Minhas duas meninas ficaram presas naquele curso na cidade vizinha e minhas costas estão me matando hoje. — Ela avisa, a voz rugosa de quem fuma um ou mais maços por dia.Troco um olhar com Dylan, que dá de ombros. Demoro um pouco a desviar o olhar dele, reparando que Dylan me parece um pouco pálido, sua pele geralmente de um tom retinto forte, hoje quase acinzentada.Ele não está bem.— Desculpe decepcionar, mas eu não vim cortar o cabelo. — Digo, alto o su
NinaTodos nós começamos um caminho tortuoso até o carro, todos em um silêncio pesado. Sarah caminha com os ombros retos, cabeça levantada, mas só de olhar para seu rosto, percebe-se que o estrago feito pelas revelações de Serafina foram grandes.Samuel caminha bem perto dela, todo seu corpo tensionado, a forma como ele parece cercar Sarah se tornando um padrão que eu entendo muito bem.Ela vai quebrar e temo que não demorará muito...Dylan está um pouco as minhas costas e não o olhei bem o suficiente para saber como ele está lidando com isso tudo.Eu tenho evitado olhar para ele e ponto.A forma como eu fui dura com ele ontem ainda parece me rachar o peito, a cada vez que me lembro, mas mesmo assim, não sinto que cometi um erro ou que não fiz o certo.Dylan me tratou como uma transa de uma noite e não tinha o direito de agir a minha volta daquela forma. Eu já tive relacionamentos ruins o suficiente para não ter a menor paciência com homens ciumentos, ainda mais aqueles que não querem
Nina Entro no quarto, meus sentimentos entrando em um estado caótico ao ver Dylan cochilar, a pele escura tendo recuperado aquele tom vivo que eu tanto gosto. Não parece mais um fantasma, prestes a desmaiar. Coloco a bolsa de lado e me coloco ao seu lado, meus dedos tocando suas bochechas como se tivessem vida própria. Não é como se eu achasse que ele fosse morrer, mas foi aterrorizante vê-lo tão fraco, o suficiente para eu perceber e aceitar que o que sinto por ele é bem mais do que uma atração de queimar meus neurônios. As pestanas de Dylan tremem e ele abre os olhos, a cor cinza clara me fitando com uma intensidade de destruir defesas, essa que eu nem consigo mais erguer. Afasto meu braço, mas a mão dele me segura no lugar. — Não se afaste. — Ele pede e não sei se é a vulnerabilidade em seu tom ou a ambiguidade que ele deixa na pergunta, mas me pego acariciando seu maxilar. Dylan fecha os olhos como se gostasse do meu toque o suficiente para não tentar fingir o contrário.
Sarah— Dylan... poderíamos muito bem esperar mais dois dias e voltar para casa. — Argumento, vendo-o colocar a bolsa no ombro.Hoje foi a alta de Dylan e apesar dele parecer muito melhor, com as bochechas coradas como antes e andar confiante de volta, eu ainda me sinto mal por continuarmos nessa busca, sendo que ele acabou de sair do hospital.— Nossa audiência e única chance em muito tempo é em apenas algumas semanas Sarah e não quero contar com mais nenhuma novidade. — Dylan me diz e abre o banco de trás, logo se sentando.Vejo que Nina o imita, os dois parecendo muito satisfeitos em estar um ao lado do outro.Ora... acho que algumas coisas mudaram então...Sorrindo o mais discretamente que consigo, eu me sento no banco do passageiro, meu olhar encontrando o de Samuel, a pergunta neles me fazendo respirar fundo.Ele quer saber se estou pronta para continuar... bom, não muito, mas vou tentar.Assinto para Samuel, de certa forma mais do que grata por ter não somente o apoio dele, com