Sarah — Eu sou sua filha, não teria como ser de outra forma. — A respondo devagar, impedindo que a emoção me tome a oportunidade desse momento.Os lábios dela se esticam em um sorriso gentil e por esse instante, é quase como se nada tivesse mudado, como se nós ainda fossemos as mesmas.— Ser minha filha, foi o que tornou sua vida tão difícil, querida. — Ela me explica, balançando a cabeça com um desgosto real.Bloqueio as imagens do passado, não querendo que elas poluam esse momento, mas sabendo que isso é impossível.— Vamos te ajudar, mãe. — Afirmo.Vejo o olhar dela ir mudando, uma rudeza firme deixando a linha da sua testa e lábios tensos.— É tarde pra mim, Sarah. — Ela respira fundo — Esse advogado que arranjou é perigoso.— Dylan é a melhor chance que temos. — Ele é problema. — Ela retruca, a voz abaixando — Não permita que ele mexa no passado, não deixe que ele traga aquelas pessoas de volta.Sinto meu rosto se fechar, a confusão me dominando.Minha mãe balança a cabeça em u
SarahMeus pulsos encontram o saco de areia com força, o suor empapando a camiseta que uso, os músculos dos meus braços e pernas reclamando pelo esforço repetitivo, minha respiração soando alta e rascante.Eu quero mais... quero me movimentar até que meu cérebro esteja cansado demais para pensar, para lembrar.Eu uso a força disso desde jovem, cansando meu corpo, para acalmar a mente, mas hoje eu sinto que poderei cair de exaustão, mas o passado ainda permanecerá comigo, esperando meu primeiro sinal de fraquejo.Ontem, depois que cheguei, tive Samuel ao meu lado, esperando o momento em que eu diria algo, em que eu diria o que estava me corroendo de dentro para fora, mas esse momento não chegou.Não consegui lhe dizer que eu estava até a borda de emoções, não consegui sequer lhe dizer que tive finalmente minha primeira visita com ela, desde que foi presa.Eu não disse absolutamente nada e sei que isso o está consumindo.Depois de uma noite em que eu fiquei virando na cama, decidi vir a
Sarah— Vamos tomar um banho. — Ele chama e me pega pela cintura, minhas pernas envolvendo seu corpo.Descanso minha cabeça em seu ombro, enquanto ele me leva sem pressa até o andar de cima, para o quarto que temos dormido juntos desde que viemos morar aqui.Relaxo contra seu corpo, agradecida por ele ter vindo até mim, por estar sendo paciente com minhas questões mais difíceis e que mesmo dizendo não ser capaz de me amar, ainda me trata com tanto carinho.Teria ele a percepção de que isso é muito mais do que muitos já fizeram?Ele sabe o quanto significa para mim?Minha vontade é lhe dizer o quanto eu o amo, o quanto seu apoio é importante, mas temo que ele fuja de mim ou que me rejeite.Já estou sensível demais esses dias para ainda lidar com isso... não posso.Samuel entra no quarto e caminha direto para o banheiro, me colocando sentada na banheira, enquanto ele liga a ducha, ajustando uma temperatura. Me levanto, tirando a camisa suada e a calça. Percebendo como Samuel me encara,
Samuel Observo os homens descarregarem os carros devagar, com uma certa animação infantil, que me vergonha um pouco. Já se ouve nas baias o som dos cavalos que ainda reconhecem o ambiente novo. Desde que acordei cedo, eu fiquei com medo de não conseguir conter animação e acabar dizendo a ela, que hoje chegariam finalmente os cavalos que temos esperado desde que comecei a reformar o estábulo. Sarah e eu dormimos como anjos após nossa primeira noite juntos e admito que eu me senti como um homem mais feliz do mundo, o que me alertou demais para o quanto tenho me envolvido por Sarah. Percebo quão perto estou de me apaixonar de novo e isso me assusta. Não quero estar mais à mercê de um sentimento tão ingrato, mas também não consigo me conter perto dela, o que já me diz muito. Vejo Patrício vir em minha direção, o senhor de olhar astuto e barriga saliente, que contratei para cuidar dos cavalos e treiná-los. — Como estamos? — Pergunto, ansioso para dar a notícia a Sarah. — Todos parec
Sarah “Eu estava mortalmente quieta, minha respiração saindo por entre meus lábios com o mínimo de barulho possível. Se ele me visse, provavelmente eu estaria ferrada. Minha mente de criança estava uma bagunça medrosa, qualquer movimento feito por Carlos me levando a pular debaixo da mesa. Eu havia entrado no escritório por causa da janela que dava para a rua. Um dos meus novos amigos, Samuel, passava todos os dias ali e eu queria ter a chance de lhe dizer que eu não conseguiria sair de casa. Carlos estava furioso. A pós entrar e me colocar de frente para a janela, eu fui surpreendi com os passos pesados dele. Ele sempre andava como se estivesse marchando, um pé depois do outro, sempre com raiva de algo em particular. Tive a belíssima ideia de me esconder debaixo da mesa, meu corpo tremia tanto que eu tive que respirar fundo algumas vezes para não me delatar. Ouvi algo bater na madeira e eu tive que conter o susto, meu coração batendo louco no peito, tanto que eu quase tinha c
SarahObservo o corpo alto de Nina vir em minha direção, a saudade martelando em meu peito, quando ela envolve os braços ao meu redor, seu cheiro me inundando com uma sensação de pertencimento.Depois de ficar mais algum tempo na cama com Samuel, eu me levantei, tomei um longo banho, em que tive o prazer, literalmente, da companhia de Samuel e depois preparei eu mesma, sob os intensos protestos de Luci, um café bem recheado para todos nós.A tarefa cotidiana, assim como a companhia de Samuel, Luci e Rui, me ajudou a terminar de estabilizar meu coração.Em minha mente, criei uma imagem mental em que eu mandava todas essas lembranças para o inferno e dizia que se elas queriam jogar duro, haviam achado uma adversária a altura.Foi reconfortante.Depois disso, tirei um tempo considerável para ligar para Nina, em que descobri que ela estava saindo de uma consultoria que fez a uma loja de moda que acabara de abrir em uma cidade vizinha e louca de saudade como eu estava, fiz questão de chama
Nina Revejo a minha mala, só para ter a certeza de que estou com tudo que trouxe. Dependendo do resultado a da nossa busca em Illinois, retornarei o quanto antes para casa. Gosto de estar com Sarah, ainda mais em um momento crítico como esse, mas temo que não conseguirei manter minha pose de pessoa bem resolvida com Dylan por muito tempo. Droga... eu nem o vi ainda e já quero o mandar para o inferno! É por Sarah... só por ela. Há também esse inconveniente desejo que se revolve por mim cada vez que me lembro de tudo que passamos um com o outro. Merda... se ele não fosse tão perfeito na cama, talvez fosse mais fácil odiar o filho da mãe. Balanço a cabeça, rejeitando os pensamentos e saio do quarto, a noite de ontem sendo mais do que boa para acalmar o coração. Desço as escadas, agora percebendo melhor o estilo moderno e clássico muito bem organizados em cada detalhe da mansão. O homem literalmente mudou tudo em sua rotina, por causa da doninha dela e ainda assim Sarah acha que e
DylanVejo pelo espelho que tanto Nina, quanto Sarah se embalaram uma na outra, um sono tranquilo entre elas.Se descontar a diferença de altura e alguns traços muito característicos de Nina, provavelmente herdados de sua mãe indiana, elas passam muito facilmente por irmãs. Até no comportamento.Reconheço a cumplicidade que elas têm uma com a outra, pois eu mesmo tive isso com minha irmã.— Parecem tão inocentes. — Samuel comenta, um sorriso afetuoso ao olhar para Sarah e Nina.— Ledo engano. — Digo, ouvindo Samuel bufar em concordância.— As duas tem um potencial criminoso de dar inveja a qualquer malvado por aí. — Ele me diz, parando muito suavemente no posto que está ao lado.Estranhando ao ver o sinal de tanque cheio, eu o vejo olhar para Sarah uma última vez e depois sair do carro.Sigo-o, pois conheço Samuel bem o suficiente que ele não faz nada ao acaso.Vejo que Samuel entra na loja de conveniência, enchendo a cesta com todo tipo de porcaria calórica, que eu passo mal só de ol