SarahSinto as mãos de Samuel girarem a banqueta em que estou e ele se coloca bem entre minhas pernas, sua mão levantando meu queixo com suavidade, seus olhos me dizendo muito mais do que estou preparada para ver.— Depois de uma longa conversa com Rui e olha que aquele senhor gosta de conversar... — Samuel sorri, sem conseguir esconder o afeto pelo idoso — Eu percebi que se eu estivesse em seu lugar, provavelmente nem teria usado pimenta ou manteria a calma como tentou fazer. Se fosse comigo, provavelmente já estaríamos tendo que contatar Dylan. Eu ficaria furioso, então me desculpe não ter percebido a tempo. Encaminhei Becka para outro executivo na empresa, claro, depois de indenizar todos os gastos com o médico.Travo meu olhar em seu queixo, uma emoção boa me fazendo ficar sem palavras, os pensamentos correndo soltos por cada palavra que saiu da sua boca.Ele pode não me amar, mas está tentando e isso poderia bastar, não é?Por enquanto, sim. Levo minhas mãos ao seu peitoral, sen
SarahDivido minha atenção em Samuel que está de um lado da mesa e Dylan do outro. Samuel olha para os papéis que o advogado pôs a sua frente e Dylan olha para mim, como se pudesse retirar na base do poder mental, qualquer informação que o agrade.Olho para os dois homens, que apesar de estarem me irritando profundamente com esse silêncio interminável, se tornam uma visão e tanto para qualquer mulher que respire.Dylan hoje está um pouco mais informal, que na verdade consiste em uma blusa social um pouco aberta no peitoral, a pele negra mostrando alguns músculos muito bem torneados. Ele chegou com o paletó em um dos braços e a sua bolsa pesada em outro.Ele parece estar cansado até a alma, os olhos acinzentados estando um pouco avermelhados.Me pergunto se esse cansaço tem pernas longas e quase um metro e oitenta. Quando perguntei a Nina sobre o que tinha acontecido sobre o plano dela e ir atrás do que ela queria, ela só me respondeu que Dylan Monet era o ser mais idiota da face da t
SarahO silêncio constrangedor no veículo é quase sepulcral. Quando Dylan me disse que iria ver minha mãe, eu não imaginava que viríamos os dois no mesmo carro. Eu não tenho nada contra ele, mas também não é como se nós dois fossemos pessoas com assuntos em comum. Desde nossa reunião na outra semana, eu senti que Samuel nos isolou em uma bolha de descobertas sensuais, das quais eu não reclamei nem um pouco.Eu sei o que ele quer me conhecer, me deixar em um ponto de desejo em que eu não consiga fazer muito se não ceder, mas sei também que ele me envolveu nisso, para me impedir de pensar muito nas descobertas, que ainda vamos ter que lidar e as lembranças que isso vai trazer.Samuel me conhece bem o suficiente para saber como essas visitas a minha mãe me deixam arrasada e quis vir comigo, mas eu já o tive a minha volta o bastante por esses dias.Gosto do seu apoio, mas preciso lidar com meus demônios, como Rui mesmo me dissera, ao meu jeito.Agora, entretanto, começo a me arrepender d
Sarah — Eu sou sua filha, não teria como ser de outra forma. — A respondo devagar, impedindo que a emoção me tome a oportunidade desse momento.Os lábios dela se esticam em um sorriso gentil e por esse instante, é quase como se nada tivesse mudado, como se nós ainda fossemos as mesmas.— Ser minha filha, foi o que tornou sua vida tão difícil, querida. — Ela me explica, balançando a cabeça com um desgosto real.Bloqueio as imagens do passado, não querendo que elas poluam esse momento, mas sabendo que isso é impossível.— Vamos te ajudar, mãe. — Afirmo.Vejo o olhar dela ir mudando, uma rudeza firme deixando a linha da sua testa e lábios tensos.— É tarde pra mim, Sarah. — Ela respira fundo — Esse advogado que arranjou é perigoso.— Dylan é a melhor chance que temos. — Ele é problema. — Ela retruca, a voz abaixando — Não permita que ele mexa no passado, não deixe que ele traga aquelas pessoas de volta.Sinto meu rosto se fechar, a confusão me dominando.Minha mãe balança a cabeça em u
SarahMeus pulsos encontram o saco de areia com força, o suor empapando a camiseta que uso, os músculos dos meus braços e pernas reclamando pelo esforço repetitivo, minha respiração soando alta e rascante.Eu quero mais... quero me movimentar até que meu cérebro esteja cansado demais para pensar, para lembrar.Eu uso a força disso desde jovem, cansando meu corpo, para acalmar a mente, mas hoje eu sinto que poderei cair de exaustão, mas o passado ainda permanecerá comigo, esperando meu primeiro sinal de fraquejo.Ontem, depois que cheguei, tive Samuel ao meu lado, esperando o momento em que eu diria algo, em que eu diria o que estava me corroendo de dentro para fora, mas esse momento não chegou.Não consegui lhe dizer que eu estava até a borda de emoções, não consegui sequer lhe dizer que tive finalmente minha primeira visita com ela, desde que foi presa.Eu não disse absolutamente nada e sei que isso o está consumindo.Depois de uma noite em que eu fiquei virando na cama, decidi vir a
Sarah— Vamos tomar um banho. — Ele chama e me pega pela cintura, minhas pernas envolvendo seu corpo.Descanso minha cabeça em seu ombro, enquanto ele me leva sem pressa até o andar de cima, para o quarto que temos dormido juntos desde que viemos morar aqui.Relaxo contra seu corpo, agradecida por ele ter vindo até mim, por estar sendo paciente com minhas questões mais difíceis e que mesmo dizendo não ser capaz de me amar, ainda me trata com tanto carinho.Teria ele a percepção de que isso é muito mais do que muitos já fizeram?Ele sabe o quanto significa para mim?Minha vontade é lhe dizer o quanto eu o amo, o quanto seu apoio é importante, mas temo que ele fuja de mim ou que me rejeite.Já estou sensível demais esses dias para ainda lidar com isso... não posso.Samuel entra no quarto e caminha direto para o banheiro, me colocando sentada na banheira, enquanto ele liga a ducha, ajustando uma temperatura. Me levanto, tirando a camisa suada e a calça. Percebendo como Samuel me encara,
Samuel Observo os homens descarregarem os carros devagar, com uma certa animação infantil, que me vergonha um pouco. Já se ouve nas baias o som dos cavalos que ainda reconhecem o ambiente novo. Desde que acordei cedo, eu fiquei com medo de não conseguir conter animação e acabar dizendo a ela, que hoje chegariam finalmente os cavalos que temos esperado desde que comecei a reformar o estábulo. Sarah e eu dormimos como anjos após nossa primeira noite juntos e admito que eu me senti como um homem mais feliz do mundo, o que me alertou demais para o quanto tenho me envolvido por Sarah. Percebo quão perto estou de me apaixonar de novo e isso me assusta. Não quero estar mais à mercê de um sentimento tão ingrato, mas também não consigo me conter perto dela, o que já me diz muito. Vejo Patrício vir em minha direção, o senhor de olhar astuto e barriga saliente, que contratei para cuidar dos cavalos e treiná-los. — Como estamos? — Pergunto, ansioso para dar a notícia a Sarah. — Todos parec
Sarah “Eu estava mortalmente quieta, minha respiração saindo por entre meus lábios com o mínimo de barulho possível. Se ele me visse, provavelmente eu estaria ferrada. Minha mente de criança estava uma bagunça medrosa, qualquer movimento feito por Carlos me levando a pular debaixo da mesa. Eu havia entrado no escritório por causa da janela que dava para a rua. Um dos meus novos amigos, Samuel, passava todos os dias ali e eu queria ter a chance de lhe dizer que eu não conseguiria sair de casa. Carlos estava furioso. A pós entrar e me colocar de frente para a janela, eu fui surpreendi com os passos pesados dele. Ele sempre andava como se estivesse marchando, um pé depois do outro, sempre com raiva de algo em particular. Tive a belíssima ideia de me esconder debaixo da mesa, meu corpo tremia tanto que eu tive que respirar fundo algumas vezes para não me delatar. Ouvi algo bater na madeira e eu tive que conter o susto, meu coração batendo louco no peito, tanto que eu quase tinha c