Sarah— O que você me deu? — Becka pergunta, a voz quase inexistente.— Ué... — Digo, a cara da inocência — Eu só preparei as amoras que havia pedido... por Deus... será que eu coloquei pimenta no lugar da calda de morango? — pergunto, vendo como os olhos dela me miram com um ódio puro neles.— Sarah. — Samuel diz e leva a mão ao rosto, mas eu posso ver o sorriso que ele tenta esconder.— Me desculpe de verdade, só quis ajudar, pois achei que as amoras não estavam tão doces quanto deveriam. — Digo, mas percebo como minha fachada inocente começa a ruir, a vontade de rir aumentando.Becka se aproxima um passo e eu ajeito minha postura, tão pronta para ela, que provavelmente ela só vai saber o que a atingiu quando já estiver caída.Samuel percebe e se coloca a minha frente. Não vejo seu rosto, mas seja lá qual for o olhar que meu marido dá a ela, a faz recuar, a expressão pálida.— Acho que minha esposa se enganou. Peço desculpas, mas acho que nossa reunião termina por aqui. — Samuel dis
Sarah A tarde já começa a escurecer quando saio do quarto, meu estômago vazio me obrigando a isso. Na primeira hora que me decidi deixar isso que rola entre Samuel e eu simplesmente acontecer, a vergonha veio com força, depois de refletir como fui irracional e até cruel. Não me arrependo de ter provocado Becka, pois ela devia ter um pouco de noção ao ficar dando em cima de homens casados. Ela sabia e ficou feliz em vir aqui me provocar... bem, agora ela não deve estar mais tão disposta a isso. O que me envergonhou, foi a minha atitude com Samuel. Eu poderia ter sido mais fria, ter segurado a barra, mas ao invés disso agi por impulso, lhe mostrando tudo. Agora ele deve estar me achando o ser mais louco dessa terra. Caminho pelos corredores, vendo como a casa já denota aquele silêncio característico de quando os empregados se recolhem. O padrão já parece ter se estabelecido entre eles, sendo na manhã a maior parte do movimento, que vai diminuindo com o passar das horas. Hoje nós
SarahSinto as mãos de Samuel girarem a banqueta em que estou e ele se coloca bem entre minhas pernas, sua mão levantando meu queixo com suavidade, seus olhos me dizendo muito mais do que estou preparada para ver.— Depois de uma longa conversa com Rui e olha que aquele senhor gosta de conversar... — Samuel sorri, sem conseguir esconder o afeto pelo idoso — Eu percebi que se eu estivesse em seu lugar, provavelmente nem teria usado pimenta ou manteria a calma como tentou fazer. Se fosse comigo, provavelmente já estaríamos tendo que contatar Dylan. Eu ficaria furioso, então me desculpe não ter percebido a tempo. Encaminhei Becka para outro executivo na empresa, claro, depois de indenizar todos os gastos com o médico.Travo meu olhar em seu queixo, uma emoção boa me fazendo ficar sem palavras, os pensamentos correndo soltos por cada palavra que saiu da sua boca.Ele pode não me amar, mas está tentando e isso poderia bastar, não é?Por enquanto, sim. Levo minhas mãos ao seu peitoral, sen
SarahDivido minha atenção em Samuel que está de um lado da mesa e Dylan do outro. Samuel olha para os papéis que o advogado pôs a sua frente e Dylan olha para mim, como se pudesse retirar na base do poder mental, qualquer informação que o agrade.Olho para os dois homens, que apesar de estarem me irritando profundamente com esse silêncio interminável, se tornam uma visão e tanto para qualquer mulher que respire.Dylan hoje está um pouco mais informal, que na verdade consiste em uma blusa social um pouco aberta no peitoral, a pele negra mostrando alguns músculos muito bem torneados. Ele chegou com o paletó em um dos braços e a sua bolsa pesada em outro.Ele parece estar cansado até a alma, os olhos acinzentados estando um pouco avermelhados.Me pergunto se esse cansaço tem pernas longas e quase um metro e oitenta. Quando perguntei a Nina sobre o que tinha acontecido sobre o plano dela e ir atrás do que ela queria, ela só me respondeu que Dylan Monet era o ser mais idiota da face da t
SarahO silêncio constrangedor no veículo é quase sepulcral. Quando Dylan me disse que iria ver minha mãe, eu não imaginava que viríamos os dois no mesmo carro. Eu não tenho nada contra ele, mas também não é como se nós dois fossemos pessoas com assuntos em comum. Desde nossa reunião na outra semana, eu senti que Samuel nos isolou em uma bolha de descobertas sensuais, das quais eu não reclamei nem um pouco.Eu sei o que ele quer me conhecer, me deixar em um ponto de desejo em que eu não consiga fazer muito se não ceder, mas sei também que ele me envolveu nisso, para me impedir de pensar muito nas descobertas, que ainda vamos ter que lidar e as lembranças que isso vai trazer.Samuel me conhece bem o suficiente para saber como essas visitas a minha mãe me deixam arrasada e quis vir comigo, mas eu já o tive a minha volta o bastante por esses dias.Gosto do seu apoio, mas preciso lidar com meus demônios, como Rui mesmo me dissera, ao meu jeito.Agora, entretanto, começo a me arrepender d
Sarah — Eu sou sua filha, não teria como ser de outra forma. — A respondo devagar, impedindo que a emoção me tome a oportunidade desse momento.Os lábios dela se esticam em um sorriso gentil e por esse instante, é quase como se nada tivesse mudado, como se nós ainda fossemos as mesmas.— Ser minha filha, foi o que tornou sua vida tão difícil, querida. — Ela me explica, balançando a cabeça com um desgosto real.Bloqueio as imagens do passado, não querendo que elas poluam esse momento, mas sabendo que isso é impossível.— Vamos te ajudar, mãe. — Afirmo.Vejo o olhar dela ir mudando, uma rudeza firme deixando a linha da sua testa e lábios tensos.— É tarde pra mim, Sarah. — Ela respira fundo — Esse advogado que arranjou é perigoso.— Dylan é a melhor chance que temos. — Ele é problema. — Ela retruca, a voz abaixando — Não permita que ele mexa no passado, não deixe que ele traga aquelas pessoas de volta.Sinto meu rosto se fechar, a confusão me dominando.Minha mãe balança a cabeça em u
SarahMeus pulsos encontram o saco de areia com força, o suor empapando a camiseta que uso, os músculos dos meus braços e pernas reclamando pelo esforço repetitivo, minha respiração soando alta e rascante.Eu quero mais... quero me movimentar até que meu cérebro esteja cansado demais para pensar, para lembrar.Eu uso a força disso desde jovem, cansando meu corpo, para acalmar a mente, mas hoje eu sinto que poderei cair de exaustão, mas o passado ainda permanecerá comigo, esperando meu primeiro sinal de fraquejo.Ontem, depois que cheguei, tive Samuel ao meu lado, esperando o momento em que eu diria algo, em que eu diria o que estava me corroendo de dentro para fora, mas esse momento não chegou.Não consegui lhe dizer que eu estava até a borda de emoções, não consegui sequer lhe dizer que tive finalmente minha primeira visita com ela, desde que foi presa.Eu não disse absolutamente nada e sei que isso o está consumindo.Depois de uma noite em que eu fiquei virando na cama, decidi vir a
Sarah— Vamos tomar um banho. — Ele chama e me pega pela cintura, minhas pernas envolvendo seu corpo.Descanso minha cabeça em seu ombro, enquanto ele me leva sem pressa até o andar de cima, para o quarto que temos dormido juntos desde que viemos morar aqui.Relaxo contra seu corpo, agradecida por ele ter vindo até mim, por estar sendo paciente com minhas questões mais difíceis e que mesmo dizendo não ser capaz de me amar, ainda me trata com tanto carinho.Teria ele a percepção de que isso é muito mais do que muitos já fizeram?Ele sabe o quanto significa para mim?Minha vontade é lhe dizer o quanto eu o amo, o quanto seu apoio é importante, mas temo que ele fuja de mim ou que me rejeite.Já estou sensível demais esses dias para ainda lidar com isso... não posso.Samuel entra no quarto e caminha direto para o banheiro, me colocando sentada na banheira, enquanto ele liga a ducha, ajustando uma temperatura. Me levanto, tirando a camisa suada e a calça. Percebendo como Samuel me encara,