O som do despertador era desnecessário naquela manhã. Eu já estava acordado antes mesmo de ele tocar, algo raro para mim. Talvez fosse o incômodo de saber que Olivia estava no quarto ao lado, ou os pensamentos incessantes que martelavam em minha cabeça. De qualquer forma, levantar cedo parecia mais fácil do que continuar lutando contra o sono. Levantei-me com movimentos controlados, tentando não fazer barulho. A última coisa que eu queria era acordá-la. Caminhei até o banheiro, deixando a água quente cair sobre mim por mais tempo do que o habitual. O calor relaxava meu corpo, mas minha mente continuava inquieta. A ideia de Olivia dormindo sob o mesmo teto era algo que eu simplesmente não conseguia ignorar. O que exatamente me incomodava? O modo como ela parecia tão inatingível, mesmo estando tão perto? Ou o fato de que, de alguma forma, ela sempre conseguia desestabilizar meu controle impecável? Eu não sabia responder. Depois do banho, vesti uma camisa cinza de algodão e uma calça
Dormir nunca me pareceu tão difícil quanto na noite passada. Tenho sérios problemas em descansar em lugares que não conheço bem, e a cama estranha de um apartamento que não era meu só intensificava isso. Embora a culpa fosse minha, porque não quis voltar para casa. Precisava de um momento sozinha, longe daqueles que me amam. Sabia que estavam preocupados, especialmente por causa da matéria que explodiu nas redes sociais, mas lidar com isso era a última coisa que queria. Fingir que estava tudo bem era um fardo que, naquele momento, eu não tinha forças para carregar. Adormeci por volta das quatro da manhã, quando o vislumbre do amanhecer já era visível. O sono, quando finalmente veio, foi profundo. Meu corpo parecia ceder ao cansaço, como se estivesse entregue ao frio matinal que me envolvia. Não sei quanto tempo se passou até que despertei com breves selares na bochecha. O cheiro doce de uma fragrância familiar me fez sorrir antes mesmo de abrir os olhos. — Bom dia, alma gêmea. — Pux
O silêncio no carro parecia um campo minado. Cada segundo que passava era uma nova explosão prestes a acontecer. Olívia estava sentada ao meu lado, inquieta, mexendo nas alças da bolsa como se o peso do clima entre nós a estivesse sufocando. Eu podia sentir sua hesitação, o esforço para escolher as palavras certas, mas ainda assim não disse nada. A princípio, achei que tivesse ouvido errado. Ela falou casualmente o nome dele, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Mas não era. O nome dele nunca poderia ser normal para mim. Easton Royal. Meu ex-melhor amigo. O homem que destruiu a pouca fé que eu tinha nas pessoas. Continuei dirigindo, os dedos apertando o volante com mais força do que o necessário. As palavras dela não paravam de ecoar na minha cabeça. Por que, de todos os nomes possíveis, ela tinha que dizer o dele? O rosto de Easton surgiu em minha mente, sorrindo como fazia nos velhos tempos, antes de tudo desmoronar. Ele não só roubou Holly – minha ex-namorada, a mulher que
Após muito tempo fora, finalmente eu estava em casa. Descer em um ponto aleatório foi um pouco complicado, mas pegar um táxi para o trajeto final até minha casa acabou sendo mais fácil do que imaginei. Retirei as chaves da minha bolsa e abri a porta, sendo recebida imediatamente por uma das empregadas, que pareceu surpresa ao me ver. — Senhorita Olívia! Que bom vê-la novamente. Seu pai e seu irmão estavam preocupados. Vou ligar para avisar que a senhora já chegou. — Tudo bem. Eu vou subir para descansar um pouco. Por favor, me acorde na hora do jantar. Ela assentiu, e eu subi as escadas até o meu quarto. Assim que entrei, tirei os saltos, joguei minha bolsa na cama e fui direto para o banheiro. A água quente do banho era o alívio perfeito para lavar o estresse acumulado do dia. Eu queria evitar pensar em Damien, mas a verdade era que ele não ficaria impune. Ele é um adulto responsável por suas ações, e terá que pagar pelo que me fez passar. Vesti roupas confortáveis e sentei-me na
O copo de uísque girava na minha mão, mas eu não tinha coragem de beber. O líquido âmbar parecia um alívio tentador, mas eu sabia que não resolveria nada. A culpa continuava queimando dentro de mim, como uma chama persistente, me lembrando, a cada segundo, do erro que cometi. Eu tinha deixado Olívia sozinha na estrada. Por quê? Porque perdi o controle. De novo. Levantei de repente, o som do copo batendo na mesa ecoando pelo ambiente vazio da sala. Andei de um lado para o outro, os passos ecoando como uma batida constante que não acompanhava o caos em minha mente. — Ela está bem. Claro que está — murmurei para mim mesmo. Mas a voz na minha cabeça era uma mentira, uma tentativa patética de justificar o injustificável. Eu sabia que tinha exagerado. Fui longe demais. Passei a mão pelo cabelo, frustrado. A imagem dela, vulnerável, com os olhos cheios de algo que poderia ser mágoa ou fúria, não saía da minha mente. O jeito como ela ficou parada, firme, mesmo depois de tudo. As chaves
Eu observava Damien deitado na cama, a respiração calma e seu corpo relaxado, como se nada tivesse acontecido, como se suas palavras não tivessem atingido em cheio o meu coração. Ele estava ali, completamente alheio à tempestade que se passava dentro de mim, e isso só aumentava a frustração que se acumulava em meu peito. O contraste entre o seu estado sereno e a minha mente caótica parecia quase irônico. Ele dormia com a mesma tranquilidade de sempre, enquanto eu me sentia dilacerada. Como ele podia continuar a ser tão insensível, tão indiferente a tudo que estávamos vivendo? Ele falava de Olívia com uma intensidade que eu não conseguia ignorar. A maneira como se lamentava por ela, como se ela fosse a única coisa que importava, me causava uma dor aguda. Cada palavra que saía de sua boca soava como uma lâmina, cortando-me profundamente. Eu sentia uma raiva crescente, um nó apertado na garganta, mas ao mesmo tempo, uma necessidade crescente de controlar a situação. Eu sabia que não pod
O som de uma notificação ecoa pela madrugada, me arrancando de um sono agitado. Estico o braço, pego o celular e vejo o nome na tela: Ofélia. Meu coração se aperta, mas abro a mensagem. São fotos dela com Damien. Ele está deitado, dormindo profundamente. As imagens falam mais do que qualquer palavra que ela pudesse enviar. É um ataque claro, uma provocação.Fecho os olhos e deixo o celular de lado. Não vou dar esse gosto a ela. Não vou permitir que suas ações me tirem o pouco de paz que ainda tenho. Damien e eu não somos nada além de um acordo, um contrato. O que ele faz fora disso não me interessa… ou ao menos deveria ser assim. Então por que essas imagens me incomodam tanto? Será que quando ele me beijou naquela noite, ele estava pensando nela?Afundo a cabeça no travesseiro e tento expulsar os pensamentos. Não consigo.Acordo com a dor de cabeça habitual. Depois de uma higiene rápida e um mínimo de maquiagem, escolho uma calça jeans escura, uma camisa vermelha de cetim e meu scarpi
O som insuportável da campainha me arranca do sono profundo. Eu olho para o relógio de cabeceira: 2h34 da manhã. Quem estaria me perturbando nessa hora? Com um suspiro pesado, me arrasto até a porta, ainda meio atordoado. Ao abrir, encontro Damien parado ali, com a expressão fechada, como se estivesse carregando o peso do mundo.— O que aconteceu? — Pergunto, tentando esconder a irritação pela madrugada interrompida. — Isso é uma emergência?— Pode me deixar entrar? — Ele quase implora, a voz baixa, quase inaudível.— Claro, entra logo. — Falo, cedendo à sua pressão, mas meu olhar ainda é desconfiado.Damien entra, tira o casaco e se joga no sofá. Ele parece em frangalhos, e isso me deixa ainda mais confuso.— Então, o que houve? — Sento ao lado dele e coloco um copo de uísque nas suas mãos. — Eu sei que você não está aqui só porque está com sede, então o que está acontecendo?Ele pega o copo, mas não o levanta até os lábios. Fica olhando o líquido por um momento, como se estivesse te