Desço o primeiro degrau das escadas do jatinho enquanto Damien segura minha mão com firmeza, seus dedos entrelaçados aos meus como se nunca quisesse me deixar ir. Fazem seis meses desde que nos casamos e decidimos nos isolar na ilha para aproveitar nossa lua de mel. Inicialmente, seria uma estadia de três meses, mas Damien, sendo quem é, decidiu estender esse período. Ele dizia que precisávamos de mais tempo, que merecíamos aproveitar nossa nova vida juntos. Se eu tivesse deixado, talvez nunca tivéssemos voltado. A verdade é que eu não teria reclamado. Muita coisa mudou nos últimos meses. Nossa relação evoluiu de uma forma que eu jamais poderia imaginar. Damien não é apenas meu marido; ele se tornou uma extensão de mim, uma parte essencial da minha existência. É como se ele fosse a outra metade da minha alma. Palavras não são suficientes para expressar o quanto ele me faz bem, o quanto sua presença me tranquiliza e ao mesmo tempo me provoca uma inquietação deliciosa. Penso, às vez
Embora não fosse uma memória completamente clara, em algum lugar perdido na minha infância, lembrava-me de um período em que meu pai assumiu a liderança da Orion. Lembro-me de como a vida em casa mudou drasticamente. Meu pai, outrora presente e caloroso, tornou-se um fantasma. Passava tanto tempo mergulhado no trabalho que raramente compartilhava uma refeição conosco. O vazio que ele deixou em casa era quase palpável. Minha mãe, sempre tão forte e resiliente, não conseguia esconder a tristeza nos olhos, mesmo tentando. As noites eram particularmente difíceis: ela ficava acordada até tarde, sentada na poltrona da sala de estar, esperando por ele, na esperança de que naquela noite ele entrasse pela porta antes do amanhecer. Eu era apenas uma criança, mas podia sentir o peso do silêncio e a dor dela. Aquele período me marcou profundamente. Agora, quando vi a Olívia parada ali, no escritório, algo em seu olhar me transportou de volta àquele tempo. Ela estava hesitante, quase cautelosa,
Damien levou suas mãos ao meu rosto com uma ternura áspera, tentando, de forma quase desesperada, limpar as lágrimas que escorriam sem cessar. A sensação de suas mãos tocando minha pele estava tão presente que quase me senti ancorada por aquele toque. Seus dedos, firmes e rápidos, pareciam querer apagar não apenas as lágrimas, mas também o sofrimento que as causava. Eu o olhava, mas havia algo em seu olhar que me deixava sem palavras — uma mistura de desespero e um amor tão profundo que chegava a me sufocar. Como alguém pode amar tanto outra pessoa e, ainda assim, estar disposto a sacrificar tudo, até mesmo a sua própria felicidade, por ela? Eu sabia que Alex, meu pai e Ana fariam qualquer coisa para garantir meu bem-estar. Eles eram minha família, meus pilares. Mas Damien… Damien era diferente. Nosso casamento, que começou de forma tão incomum, com tantas dúvidas e receios, era agora um pacto muito mais forte do que qualquer um dos dois poderia ter imaginado. O que me chocava, no e
Olivia dormia profundamente em meus braços na cama. O quarto estava totalmente escuro, exceto pela iluminação suave do luar que entrava pela janela. Sua respiração era calma e serena. Ela dormia tão tranquila que aquela era a imagem que eu mais desejava ver todos os dias. De algum modo, ainda não conseguia dormir. Estava irritado. A ideia de que Victoria, sendo mãe de Olivia, fosse tão maldosa com a filha, só porque ela tinha uma preferência clara pela Ofélia, me deixava intrigado. Como uma mãe poderia ser tão cruel a ponto de negar o amor ao próprio filho? Elas não mereciam nem metade do respeito e do zelo que Olivia tinha por elas. Ela havia decidido se sacrificar, lidar com seus próprios traumas, apenas para proteger quem mais a desprezava. Fiquei tão perdido em meus pensamentos que só fui despertado pela voz suave de Olivia. — Damien… ainda está acordado? — Shhh, você deveria estar dormindo, esposa. — Repreendi-a, olhando para ela, embora tudo estivesse ainda escuro. Mesmo as
— Ofélia, eu quero perguntar mais uma vez, e quero que tu sejas sincera. — Minha mãe me encarou, e sua expressão era quase impassível, mas seu olhar não mentia. Era evidente que ela estava controlando um furor interno. — Você realmente sabia onde a Olivia estava?Eu respirei fundo, tentando controlar a raiva que começava a se formar dentro de mim. Como ela podia ser tão cega? Como podia me fazer sentir a vilã, quando tudo que fiz, fiz para atender às expectativas dela?— Sério que tu vais perder o teu tempo a questionar-me isso? — Revirei os olhos, já sentindo a paciência esgotar. — Sim, eu sabia onde ela estava. Satisfeita?Minha mãe estremeceu, mas manteve o olhar fixo em mim, como se estivesse esperando uma explicação, uma desculpa. Eu podia sentir a tensão no ar, o peso das palavras não ditas, a dor de um relacionamento quebrado entre nós duas.— Como tu podes ser tão maldosa assim? Ela é tua irmã! Tu poderias ter… — A voz dela tremia, mas havia mais culpa nela do que raiva. Eu sa
Não sei por quanto tempo fiquei sentada no carro, as mãos no volante, os olhos fixos no prédio do escritório de advocacia. O céu começava a nublar, e as pessoas passavam apressadas pela calçada, mas tudo parecia estático para mim. O peso de tudo que estava acontecendo na minha vida parecia ter me paralisado.Fechei os olhos e respirei fundo. Eu precisava me recompor. Precisava ser corajosa. Peguei as marmitas que preparei no restaurante e saí do veículo. Meus saltos ecoavam pelo piso brilhante do edifício enquanto funcionários conhecidos me cumprimentavam calorosamente, mas eu só conseguia murmurar respostas automáticas.No andar de cima, notei que a secretária do meu pai não estava em sua mesa. O silêncio no corredor parecia mais pesado do que o normal, mas continuei andando. Decidi que era melhor não esperar. Girei a maçaneta e entrei na sala.O que vi me fez congelar.Meu pai estava de pé, com uma mulher nos braços. Seus rostos estavam próximos, íntimos, e o beijo que eles comparti
Assim que Olivia me enviou uma mensagem dizendo que estava voltando para casa, senti um alívio imediato. Tentei me concentrar no trabalho, mas fui interrompido por uma ligação do segurança da casa. Atendi, e o que ouvi me fez perder completamente o controle. — Não deixem ela entrar. Tirem-na daí antes que minha esposa veja — ordenei com firmeza. Eu havia sido claro: ninguém deveria perturbar Olivia. Mesmo tentando focar no trabalho, uma inquietação crescia em mim, tornando impossível permanecer no escritório. Decidi sair mais cedo, ainda que houvesse muito a ser feito. Olivia era minha prioridade. — Parks, envie o restante do trabalho para mim. — Avisei, já me dirigindo à saída. Entrei no carro e dirigi o mais rápido que pude até a casa. Assim que cheguei, o silêncio absoluto me envolveu. Subi as escadas até o nosso quarto e a encontrei sentada no chão. Olivia usava uma camisola branca longa, o cabelo solto caía sobre os ombros, e seu olhar estava perdido no vazio. Um cheiro sutil
Eu segui Ofélia até a biblioteca em completo silêncio. Meu coração estava inquieto, mas minha mente estava ainda pior, completamente tomada por pensamentos desconexos. O que eu poderia dizer a ela? Como começar uma conversa que parecia impossível de se ter? A verdade era que aquela era a primeira vez, em anos, que tínhamos um momento de interação sem gritos, acusações ou olhares carregados de desprezo. A biblioteca era um ambiente silencioso e acolhedor, mas naquele momento o ar parecia pesado. As altas estantes repletas de livros formavam corredores intermináveis, e o cheiro de papel antigo se misturava ao perfume sutil que Ofélia usava. Assim que entramos, ela se dirigiu a uma cadeira próxima à janela, sentando-se de forma casual, como se tentasse não demonstrar a tensão que claramente sentia. Eu, por outro lado, me sentei na cadeira em frente a ela, ajustando a barra do meu vestido com dedos trêmulos. Sua expressão era difícil de ler. Os olhos dela, tão semelhantes aos meus, pare