Assim que meus pais souberam que meu irmão estava no Brasil eles anunciaram que iriam fazer um almoço de boas vindas para ele.
Convidei Melina e ela ficou nervosa, afinal, pouco conhecia os dois, tirando o tempo de farsa.
Lina foi embora da nossa casa depois do café da manhã e agora todos estávamos no meu carro indo para a casa dos meus pais.
Rad estava no banco de trás tagarelando sobre as coisas que queria fazer no Brasil antes de virar um "empresário chato":
- Eu vou querer ir na Ballroom ali na Rua Estados Unidos.
Dei uma risadinha e disse:
- Rad, a Ballroom fechou a uns anos.
- E a Pink Elephant?
- Não sei como tá depois da pandemia.
- Precisamos fechar um camarote lá, cheio das gatinhas gostosas.
Vincos se formaram na testa de Melina. Eu logo tratei de falar:
- Você precisa fechar esse camarote, o cachaceiro aqui virou
Assim que Rhavy me disse que iríamos almoçar na casa dos pais dele eu me senti pesarosa.Eu nunca gostei da ideia de ter enganado os pais dele na cara dura, fora que essa sensação de ter feito coisa errada só aumentou quando eles se preocuparam comigo no hospital.Para piorar toda a situação Rad ficou insinuando que faria só um camarote com mulher bonita na balada e, apesar de Rhavy ter pulado fora logo em seguida, eu fiquei com ciúmes imaginando ele com outras mulheres.Assim que entramos na casa deles, Shankar e Lakshimi foram super simpáticos comigo e perguntaram como estava indo a gravidez depois de tantos traumas.Agora estamos aqui almoçando como uma linda e grande família feliz e é tudo o que eu desejava quando vivia sozinha:- Que história é essa de viajar sozinho pros Estados Unidos? Todos nós queremos estar lá na sua formatura - falou Lakshimi.- Não é uma coisa tão importante - falo
- Pode entrar - eu falei para Melina.Ela abriu os olhos, então viu o chão e leu as pétalas de rosa:- Quer namorar comigo?Olhei para ela e perguntei:- Quer? Dessa vez é de verdade.- Rhavy... É claro que eu quero!Nos beijamos apaixonadamente, então ela disse:- Nem precisava ter pedido, a resposta é óbvia. Se eu não quisesse namorar com você eu nem teria ido morar junto de você.- Eu só queria oficializar as coisas, só isso.Nos beijamos de novo, então eu peguei as alianças que tinha comprado e coloquei a dela no dedo dela e a minha no meu dedo:- Como seus pais não desconfiaram quando você trouxe essas pétalas para cá?- Desconfiariam do que?- Ué, do nosso namoro falso.Parece que eu tinha esquecido de contar para ela que eu já abri o jogo:- Querida, eles sabem da farsa a um tempo já,
Pela primeira vez na vida tudo parecia ter entrado nos eixos.Estávamos morando juntos, estávamos namorando oficialmente e eu me sentia parte de uma família.Era o dia de descobrir o sexo do bebê e eu estava pra lá de animada.Quando estávamos a caminho do consultório Rhavy disse:- Vamos fazer uma aposta?- Aposta?! - perguntei confusa.- Sim, eu acho que é menino, você acha que é menina.Assenti.- Se eu acertar o sexo do bebê você me dá um presente. Se você acertar o sexo do bebê eu te dou um presente.Só um presente? Por mim tá tudo bem!- Desafio aceito, senhor Himesh.Chegamos na consulta, falamos com a recepcionista, eu me pesei e constatei que eu tinha engordado nove fucking quilos e o médico nos chamou.Primeiro fez as perguntas de rotina, depois me passou algumas recomendações e nós fomos
Estávamos deitados na cama do nosso apartamento em São Paulo quando eu senti a cama umedecer. Olhei para Melina e ela disse:- Acho que a bolsa estourou...Como das outras vezes eu levantei desesperado e Melina se manteve calma. Ela levantou, foi até o banheiro, abriu o chuveiro e passou uma água no corpo.Ela colocou um vestido, calçou as sandálias havaianas e ainda conseguiu amarrar o cabelo em um coque.Eu já tinha terminado de colocar a última mala no carro quando vi o carro da babá estacionando, olhei para a Sueli e disse:- Maya e Dinesh estão dormindo.A babá assentiu e disse:- Boa sorte hoje, que o bebê venha com muita saúde.Melina entrou correndo no carro e fomos para o hospital, assim que ela entrou na recepção deu uma contração. Ela parou uns minutos e eu pedi:- Uma cadeira por favor...Poucos segundos
Era 1h30 da manhã, eu estava exausta. Depois de pegar dois ônibus eu só queria saber da minha cama.Tomei um banho rápido, escovei os dentes e vesti o pijama. Até pensei em cozinhar algo para não ficar de estômago vazio, mas o cansaço me venceu.Deitei na cama e me permiti dormir, no meu sonho eu estava em um cruzeiro, pedi um champanhe e bebi tudo de uma vez.Eu estava comemorando alguma coisa, mas não sabia o que era, já tinha bebido muito para me lembrar.Respirei fundo e disse para uma mulher do meu lado:- Eu não vou conseguir chegar na cabine sozinha...Senti tudo balançar, então acordei com o despertador. Os primeiros raios de sol entravam pela persiana me fazendo querer chorar.Era meu sonho de princesa ter um dia inteiro para descansar. Me levantei, fiz a minha higiene matinal, vesti o meu uniforme de camareira e arrumei a minha mochila.Fu
Quando estava quase chegando no hotel um rapaz alto começou a se aproximar demais de mim.Tentei apertar o passo, mas foi em vão. Ele correu atrás de mim e disse:- Você sabe quem eu sou, não é?Suspirei.- Estou a mando do Orlando aqui.Não, jura? Dei de ombros, era a nonagésima vez que isso acontecia comigo em menos de três meses.- Ou você dá o dinheiro ou ele vai agir... Você que sabe...- Diga para ele que eu não tenho essa grana...- Ele não quer saber se você tem ou não tem o dinheiro, ele só quer a grana caindo na conta dele até meia noite do dia 22 do mês que vem ou, você sabe... Ele vai agir...O que ele queria que eu fizesse? Não tinha muito o que eu pudesse fazer para me safar dessa, eu sabia que era uma questão de tempo.____________Entrei no hotel Le Carménère, passei o meu crachá pela catraca e bati o ponto. Desci a
Saí do hotel, peguei o ônibus e corri até o restaurante onde fazia bico na hora do almoço.Coloquei o uniforme de garçonete, lavei as mãos e o rosto e fui atender os clientes.Esse era o trabalho que eu menos gostava porque os caras acham que só porque visto um uniforme de saia significa que eu estou querendo dar para eles.Estava entregando o hambúrguer de uma cliente quando um cara assobiou para mim e disse:- Depois venha pegar o meu pedido, gracinha...Suspirei desanimada. Se eu não precisasse do dinheiro eu abandonaria esse lugar sem nem pensar duas vezes.Fui até o cara e ele pediu um cachorro quente sem purê, uma coca cola zero e a minha buceta para levar para a hora do jantar.No início eu ficava chocada em como eles falavam isso sem rodeios, mas agora nada mais me impressionava.Quando entreguei o troco para o último cliente respirei fundo,
- Eu chamei vocês aqui porque a quarentena nos deu um prejuízo sem precedentes e bom... Precisarei dispensar vocês.Isso deve ser algum tipo de piada... Não pode ser... E agora?- Eu sinto muito por ter que fazer isso com vocês, mas ou diminuímos o pessoal ou vamos falir e todo mundo vai ficar sem emprego.Suspirei derrotada. Todos tivemos que entregar os nossos aventais e assinar os documentos para o encerramento do contrato.Fui para casa chorando, cheguei no apartamento, larguei tudo em cima da mesa e fui para o chuveiro.Tomei um banho demorado, então fui deitar sem jantar mesmo.____________Quando acordei no dia seguinte eu senti cada parte do meu corpo doer.Mesmo assim prossegui com a minha rotina, preparei a marmita, tomei banho, vesti o uniforme de camareira, comi uma banana de café da manhã e prossegui para o hotel Carménère.