Era 1h30 da manhã, eu estava exausta. Depois de pegar dois ônibus eu só queria saber da minha cama.
Tomei um banho rápido, escovei os dentes e vesti o pijama. Até pensei em cozinhar algo para não ficar de estômago vazio, mas o cansaço me venceu.
Deitei na cama e me permiti dormir, no meu sonho eu estava em um cruzeiro, pedi um champanhe e bebi tudo de uma vez.
Eu estava comemorando alguma coisa, mas não sabia o que era, já tinha bebido muito para me lembrar.
Respirei fundo e disse para uma mulher do meu lado:
- Eu não vou conseguir chegar na cabine sozinha...
Senti tudo balançar, então acordei com o despertador. Os primeiros raios de sol entravam pela persiana me fazendo querer chorar.
Era meu sonho de princesa ter um dia inteiro para descansar. Me levantei, fiz a minha higiene matinal, vesti o meu uniforme de camareira e arrumei a minha mochila.
Fui até a cozinha, fiz um pão com ovo que devorei ainda quente, preparei a minha marmita e me preparei para pegar o trem CPTM até o hotel.
Quando estava quase chegando no hotel um rapaz alto começou a se aproximar demais de mim.Tentei apertar o passo, mas foi em vão. Ele correu atrás de mim e disse:- Você sabe quem eu sou, não é?Suspirei.- Estou a mando do Orlando aqui.Não, jura? Dei de ombros, era a nonagésima vez que isso acontecia comigo em menos de três meses.- Ou você dá o dinheiro ou ele vai agir... Você que sabe...- Diga para ele que eu não tenho essa grana...- Ele não quer saber se você tem ou não tem o dinheiro, ele só quer a grana caindo na conta dele até meia noite do dia 22 do mês que vem ou, você sabe... Ele vai agir...O que ele queria que eu fizesse? Não tinha muito o que eu pudesse fazer para me safar dessa, eu sabia que era uma questão de tempo.____________Entrei no hotel Le Carménère, passei o meu crachá pela catraca e bati o ponto. Desci a
Saí do hotel, peguei o ônibus e corri até o restaurante onde fazia bico na hora do almoço.Coloquei o uniforme de garçonete, lavei as mãos e o rosto e fui atender os clientes.Esse era o trabalho que eu menos gostava porque os caras acham que só porque visto um uniforme de saia significa que eu estou querendo dar para eles.Estava entregando o hambúrguer de uma cliente quando um cara assobiou para mim e disse:- Depois venha pegar o meu pedido, gracinha...Suspirei desanimada. Se eu não precisasse do dinheiro eu abandonaria esse lugar sem nem pensar duas vezes.Fui até o cara e ele pediu um cachorro quente sem purê, uma coca cola zero e a minha buceta para levar para a hora do jantar.No início eu ficava chocada em como eles falavam isso sem rodeios, mas agora nada mais me impressionava.Quando entreguei o troco para o último cliente respirei fundo,
- Eu chamei vocês aqui porque a quarentena nos deu um prejuízo sem precedentes e bom... Precisarei dispensar vocês.Isso deve ser algum tipo de piada... Não pode ser... E agora?- Eu sinto muito por ter que fazer isso com vocês, mas ou diminuímos o pessoal ou vamos falir e todo mundo vai ficar sem emprego.Suspirei derrotada. Todos tivemos que entregar os nossos aventais e assinar os documentos para o encerramento do contrato.Fui para casa chorando, cheguei no apartamento, larguei tudo em cima da mesa e fui para o chuveiro.Tomei um banho demorado, então fui deitar sem jantar mesmo.____________Quando acordei no dia seguinte eu senti cada parte do meu corpo doer.Mesmo assim prossegui com a minha rotina, preparei a marmita, tomei banho, vesti o uniforme de camareira, comi uma banana de café da manhã e prossegui para o hotel Carménère.
Cinco anos atrásNasci em uma família de classe média, meu pai era contador, minha mãe era professora de ensino fundamental.Desde que me dou por gente a minha família sempre viveu afastada de nós três. Nunca soube o motivA única exceção era o meu tio Sebastião, que sempre estava comigo, era o meu segundo pai e também era rechaçado pelo resto da famíliQuando tinha sete anos o meu pai um dia foi trabalhar e ,na hora do almoço, ligaram para a minha mãMeu pai tinha sido vítima de uma bala perdida e estava passando por uma cirurgia de risco. Infelizmente ele não sobreviveu, então passou a ser eu, minha mãe e o tio SebastiãQuando eu fiz dezesseis anos a minha mãe apareceu com um novo namorado lá em casa, o nome dele era SidneEra um cara mal encarado, vivia fumando e algumas vezes ele falou como gostaria de transar comigo e com a minha mãe ao mesmo temp
3 anos atrásNo dia seguinte ao meu aniversário de 18 anos eu tinha saído para trabalhar, era vendedora em uma banca de jornal e quando voltei fui chamar o tio para jantar comigo.Entrei no apartamento dele e vi ele sentado na poltrona, chamei por ele duas vezes e não obtive resposta.Me aproximei dele, chacoalhei o seu braço e ele permaneceu imóvel. Fechei as pálpebras dele e chorei no seu colo.Dois dias depois do enterro dele fui no apartamento começar a organizar as coisas, quando olhei a estante vi uma pasta verde com uma etiqueta escrito: Melina.Fiquei curiosa, abri a pasta e vi um bilhete:"Eu te amo acima de tudo e se está tendo acesso a esta pasta é porque eu já me fui, espero que esteja bem e que já tenha concluído a faculdade, mas caso ainda esteja na escola ou na faculdade eu quero que você use o dinheiro do aluguel desse apartamento para bancar os seus estudos até ter
Aqui vai um guia de coisas que você precisa saber antes de herdar qualquer coisa:1 - Não é porque o seu ente querido morreu que os impostos ligados a herança vão parar de ser cobrados;2 - No Brasil tem um imposto chamado ITCMD (Imposto sobre transmissão causa mortis e doação) que precisa ser pago para você se tornar dono da herança (e o valor é muito alto!)3 - Você precisa entrar com o pedido de inventário até 90 dias depois da morte do seu ente querido.Dito isso, agora eu vou contar como a minha vida deu uma rodada de 360°, só que ao invés de parar onde tudo começou eu fui empurrada em um poço sem fundo.Dois meses depois da morte do meu tio deu um vazamento no apartamento e eu contratei um encanador para consertar, ou melhor, eu contratei um trambiqueiro.O cara cobrou adiantado, fez um serviço porco e sumiu no mundo. Poucos meses depois recebi a intimação de que a vizinha deb
Estava saindo do trabalho quando eu recebi uma ligação de um número desconhecido. Decidi atender:- Senhorita Schwartzman, por favor...- É ela...- Boa tarde, não nos conhecemos, meu nome é Orlando Savignion, sou advogado e eu sei do seu problema e gostaria que você viesse ao meu escritório para que eu possa te ajudar...- Eu não tenho dinheiro - já avisei.- Eu não vou cobrar a consulta, pode ficar tranquila, eu só quero ajudar...- Ok, então...Ele me enviou o endereço por mensagem e eu fui. Sabe quando você sabe que está caindo em um golpe e mesmo assim prossegue com a burrada?Eu sabia... No momento em que ele falou que queria me ajudar sem cobrar nada em troca eu lembrei daquele ditado popular "Quando a esmola é demais o santo desconfia".O problema que ele me chamou para resolver era um novo processo por vazamento da mesma vizinha.Quando ele perguntou se eu tinha
Na semana seguinte eu assinei o contrato e quinze dias depois eu estava livre de qualquer dívida.Bastava um conserto básico e já poderíamos vender e cada um seguir o seu caminho. Pelo menos assim pensava eu...Duas semanas depois eu descobri que o conserto básico se transformou em uma reforma enorme, tinha arquiteto, decorador de interiores e tudo mais.O que era para custar no máximo dois mil reais ia sair por vinte mil reais. Quando cheguei no Orlando e perguntei porque os planos tinham mudado ele me disse que estava fazendo aquilo para valorizar o apartamento e aí eu receberia quinhentos mil.Fiquei muito feliz, então aceitei, mesmo com a minha intuição me mandando cancelar tudo. Depois de um tempo quando fui cobrar o advogado da venda ele me disse que não poderíamos vender por causa das cláusulas do testamento."Porra, tio Sebastião... Essas cláusulas vão acabar comigo" pensei mentalmente. Já t