O dia tinha sido pesado. Não que tivesse sido muito diferente de qualquer um outro, mas talvez estivesse mais cansada. As costas doíam, os machucados também, e sua cabeça parecia prestes a explodir. Contudo, a última coisa que queria era ir para casa. Nem mesmo a promessa de um colchão macio e quentinho, além de um banho bem mais relaxante do que o que tinha acabado de tomar no quartinho da oficina pareciam capazes de mudar sua opinião.
Felizmente tinha uma ótima amiga, que sabia exatamente quando ela precisava de apoio e a chamava para tomar uma cerveja gelada depois do expediente.
Claro que os acontecimentos do dia anterior a tinham deixado preocupada, pois com certeza haveria uma retaliação, mas tomara algumas providências para dificultar a vida de Igor
Viver era doloroso. Cristine sabia muito bem disso. Era uma dor diária, emocional, que parecia ferver suas entranhas quando tentava vislumbrar um futuro para aquela sua existência medíocre permeada por pesadelos reais e sonhos cada vez mais distantes. Mas quando a for se manifestava como algo físico também, ela sentia que chegava ao limite. Já tinha sentido dor muitas vezes, mas nada se comparava àquilo.‘ Era como se houvessem cacos de vidro penetrando cada um de seus órgãos, como se pequenas labaredas de fogo queimassem pontos específicos de sua pele. A primeira vez que tentou se movimentar foi suficiente para fazê-la ter vontade de gritar, mas se controlou. Não sabia exa
Enzo costumava se considerar um cara pacífico. Poucas coisas na vida eram capazes de lhe tirar do sério. Uma delas, com certeza, era a injustiça, como tinha falado para Cristine algumas horas antes. Passara o resto da madrugada inteira observando-a, apenas pensando que tinha chegado naquela cidade com o coração coberto pelo gosto amargo da vingança, e não fazia ideia de como tinha chegado naquele estágio de bater à porta da casa de um bandido para negociar pela vida do pai da mulher que ele jurara odiar por toda uma existência. Sim, a vida dava voltas. Era fodidamente imprevisível. O bandido em questão era conhecido como “O Patrão”. Era o chefe do tráfico em
O resto dos dias que antecederam a viagem passou como um foguete, afinal, eram muitas coisas a fazer e muito pouco tempo. Cristine contratou o ajudante, que se tratava de um rapazinho de dezenove anos que costumava lhe quebrar alguns galhos sempre que precisava se ausentar por um tempo da oficina — o que, na maioria das vezes, tinha a ver com seu pai. Porém, ele nunca tinha passado tantos dias sozinho por lá, por isso, ela precisou lhe passar várias coordenadas. Ele era esperto, responsável e de confiança, ou seja, a melhor escolha possível. Essa parte estava resolvida, sem nenhum problema. Contudo, havia outras coisas a serem estabelecidas. Venâncio tinha sido levado para a clínica de reabilitação no dia anterior, e Enzo lhe contou que o local era lindo e que t
A viagem de lancha durou pouco mais de uma hora, mas foi consideravelmente maistranquila do que a de carro. Apesar do susto inicial, Cristine estava bem maiscomunicativa, comentando sobre a beleza do local e do quanto gostava de Angrados Reis. O que era, sem dúvida, um progresso.E ele não podia negar que ficou extremamente satisfeito ao perceber o olhar deespanto dela quando viu o local exato onde iriam ficar. Havia algo de muito estranho naquela história, era o que Cristine pensava enquanto subia as escadas da casa — ou melhor, mansão — de Enzo. Ele tinha lhe comprado uma roupa especial para alguma ocasião e ainda haveria uma terceira pessoa envolvida... Bem, desde que ele não estivesse pensando em um ménage a tròis, ela achava que estaria tudo certo. Ao encontrar o quarto mencionado por Enzo, Cristine entrou e contemplou o lugar, sem conseguir conter uma expressão maravilhada. Não queria enxergar aquela viagem como parte de um conto de fadas, mas Enzo estava fazendo de tudo para dificultar os seus planos. E ela não tinha a menor dúvida de que estava fazendo isso intencionalmente. Apesar de todo o resto da casa ter aquele aspecto masculino, quase cheiraCapítulo 13
— Tudo bem. Pode começar. — Se era para arrancar o band-aid, que fosse logo. E Enzo nem precisou pensar. Parecia ter todas as perguntas na ponta da língua. — Se algum dia você tivesse a chance de sair de São Valentim, o que faria? Como iria viver? Uau! Ele não dava ponto sem nó e resolveu pegar logo bem na ferida. — Sabe que eu já pensei nisso tantas vezes que até já perdi a conta? Cristine parecia ter toda a atenção de Enzo, e pela forma como ele se remexeu na cadeira, ela compreendeu que não estava com pressa par
Enzo parecia aprofundar o beijo cada vez mais, deixando escapar um gemido abafado dos lábios de Cristine. Isso o deixou louco ao ponto de agarrar seus quadris, erguendo-a do chão e entrelaçando as pernas dela em sua cintura, deitando-a direto na areia. Naquele instante, Cristine podia jurar que estava tão desesperada por ele que se ele a tivesse deitado em uma cama de pregos, ela nem perceberia. Com urgência, ele começou a despi-la, sem qualquer delicadeza, e logo ocupou-se novamente de sua boca, lambendo lentamente o contorno de seus lábios. Talvez aquilo fosse errado. Talvez devessem esperar um pouco mais antes de passarem para aquele estágio. Mas, Deus! Parecia tão certo. Cristine viu-se completamente
Todos os dias pareciam um sonho. Enzo e Cristine faziam amor sob a luz das estrelas, conversavam sobre suas vidas e passavam vários minutos em silêncio, como se refletissem sobre o que estava acontecendo. Em relação a si mesma, Cristine não tinha a menor dúvida: estava apaixonada. Lutava todos os dias contra aquele sentimento, mas estava perdendo a batalha miseravelmente. A cada dia que passava, sentia seu coração bater mais forte de manhã, quando o encontrava para tomarem café, que também era o momento em que descobria o que ele tinha preparado para aquele dia. Já tinham feito o mergulho no primeiro dia, já tinham passeado de lancha até uma ilha vizinha e passado o dia inteiro em uma praia paradisíaca, com direito a piquenique e luau. Mais romântico impossível.&n