A areia branquinha fazia cócegas em seus pés enquanto caminhava pela praia, com o sol se pondo no horizonte. Enzo estava dentro da casa, trabalhando, e ela, sufocada com tantas coisas em sua cabeça, decidiu ir dar um passeio, observar o mar e ver o sol adormecer na linha do horizonte. Já estavam na ilha há algumas horas, tinham conseguido alugar uma lancha e já possuíam transporte, caso precisássem voltar com pressa, por algum motivo.
E por falar em pressa, ela não sentia nenhuma naquele momento. Sentia-se letárgica e levemente melancólica. Era engraçado pensar que estava vivendo céu e inferno ao mesmo tempo. Tinha alguém especial em sua vida, que tornava seus dias mais coloridos, que fazia com que esquecesse dos momentos obscuros pelos quais passou — e não foram poucos. Porém, sabia que ainda
A noite estrelada sussurrava promessas. Enzo e Cristine estavam adormecidos, abraçados e exaustos depois de uma noite de amor, quando ele despertou sobressaltado depois de ouvir um barulho dentro da casa. Abriu os olhos de súbito e ficou algum tempo parado, tentando discernir alguma coisa ou se fora apenas produto de sua imaginação preocupada. Porém, ele ouviu algo outra vez. Um tilintar suave, um bater de porta, uma voz ao longe... Alguém estava invadindo a casa... Enzo ergueu o corpo da cama, e seu movimento foi mais brusco do que desejaria, pois acabou acordando Cristine. Mas era bom que ela também estivesse em alerta, pois teriam que ficar preparados para o pior.&
As mãos de Cristine tremiam violentamente. Ela não fazia lá muito ideia de como se usar uma arma, mas tentaria se fosse preciso. Daquela distância, seria bem difícil errar a cabeça de Patrão. Seria um belo estrago, mas significaria sua liberdade. — Querida, você nunca matou ninguém, tenho certeza que não vai querer começar agora... — Patrão falou com sarcasmo. O que mais a irritava era o fato de ele ser perigosamente articulado. — Você não me conhece. Não sabe do que sou capaz — ela falou com autoridade, tentando disfarçar o nervosismo. — Agora quero que solte Enzo ou vou estourar seus miolos. Ela estava blefando, é claro
DIAS DEPOIS Tinha passado horas consertando o velho Chevette de estimação do Sr. Raul, o jardineiro da cidade, e sentia-se exausta. O problema era quase sempre o mesmo: o motor. Ele insistia em manter o original, mas Cristine sabia que não poderia fazer milagres por muito mais tempo. Em breve teria que dar o aviso de falecimento, aquela lata velha teria que ser enterrada. Não que não fosse um belo carro. Modelo 81, naquele tom marrom que hoje em dia já estava mais do que fora de moda, muito bem conservado, com peças originais... Se não fosse tão teimoso, ele poderia ter ganhado uma boa grana naquele veículo. Muitas pessoas já tinham lhe oferecido um bom dinheiro, mas ele insistia que ninguém iria tocar no seu “precioso”, muito me
Enzo Andrade cresceu ouvindo que a vingança era um prato para se comer frio. E, como um bom aprendiz, prestou atenção e assimilou cada palavra, guardando-as como um mantra. Ele sabia que chegaria sua hora de dar o troco. Então, esperou pacientemente, calculando cada passo, arquitetando cada etapa como um experiente estrategista. Não tinha pressa, porque sabia exatamente o que aconteceria: o destino se encarregaria de resolver as coisas e lhe dar a oportunidade certa para colocar tudo em pratos limpos. E, depois de muita espera e perseverança, o dia tinha chegado. Ensolarado, quente e belo; um dia perfeito para se colocar um plano em prática. Um plano igualmente perfeito. Já estava dirigindo há dua
Ela sentia as costas doerem e o estômago reclamar de fome. O que mais a incomodava, ela não saberia dizer. Havia o calor também... Desde quando São Valentim tinha se tornado uma das províncias do inferno? Tocou a campainha da casa onde almoçava diariamente às quatro da tarde. Almoço? Aquilo estava mais para uma janta, por isso, esperava que fosse logo atendida, até porque, sentia sede também. Aquela cadelinha feia veio correndo em sua direção. Por mais que estivesse com pressa, afinal, ainda tinha bastante trabalho pela frente, não resistia a lhe dar atenção. Dificilmente era tão bem recebida daquela forma em algum lugar. Especialmente em sua própria casa. 
Cristine sabia que era bonita. Por mais que já não se arrumasse tanto quanto antes, e por mais que já não usasse seus atributos físicos para conquistar as coisas que queria e nem para magoar as pessoas, tinha noção de que ainda provocava olhares libidinosos por onde passava. Porém, não esperava deixar um homem sem fala daquele jeito, estando toda suja, descabelada e sem maquiagem. Tudo bem que havia toda a questão do fetiche por ela ser mecânica, mas acreditava que aquele ali estava exagerando um pouco. Ainda mais por se tratar de um homem devastadoramente bonito. E olha que andava cansada demais para prestar atenção nessas coisas. Do alto de seus prováveis um metro e oitenta — pelo que ela podia calcular, já que deveria haver um
Foi como se um furacão de proporções catastróficas o tivesse atingido. Enzo sabia que ainda não estava pronto para se encontrar com Cristine, mas não fazia a menor ideia que talvez não estivesse pronto nunca. Não para aquela mulher que surgiu na sua frente, completamente diferente da que um dia conhecera. A aparência não tinha mudado muito, embora, é claro, não contasse em encontrá-la toda suja de graxa, trabalhando duro na oficina mecânica de seu pai. Era como se o mundo tivesse girado de ponta cabeça. O convite para levá-la para sair surgiu de forma totalmente repentina, como um pequeno momento de fraqueza. O que era extremamente compreensível, afinal, a mulher era uma beldade, porém, depois que ela se afastou par
A vida era uma boa de uma filha da puta. Podia jurar que se havia alguém que ela fazia questão de foder todos os dias, esse alguém era Cristine. Paulo correu o máximo que pôde, chegando a avançar alguns sinais vermelhos, e em poucos minutos chegaram em sua casa. Assim que ele estacionou em frente ao gramado mal cuidado, ela abriu a porta do veículo, com ele praticamente em movimento, e saltou, sem querer perder tempo. Não demorou muito para ouvir Paulo saltando também e aproximando-se, enquanto ela buscava as chaves dentro da bolsa. — Você não precisa entrar comigo — falou, quase choramingando. — E vo