Estava tendo um sonho calmo e maravilhoso, em que flutuava no céu entre as nuvens. Pelo menos essa era a sensação que sentia em meu corpo e alma, porque lembrar, de fato, sobre o que sonhava foi impossível depois de Henrique começar a se mexer e me puxar de volta para a realidade.
— Dêssa, são três horas da manhã — sussurrou, me beijando na testa para que acordasse.
Meus olhos, no entanto, não queriam abrir. Certamente porque já estava naquele momento do sono em que mais se relaxa. Só então comecei a recordar que havíamos dormido no sofá da sala, cobertos apenas com um cobertor leve. E a verdade é que não estávamos mais tão vestidos quanto antes. Provavelmente era o motivo pelo qual sentia tanto frio, ainda que a pele de Henrique ajudasse bastante a passar calor a meus poros.
Eu estava deitada ao seu lado, a cabeça
No fim das contas, Henrique não precisou me buscar na manhã de domingo para irmos até a casa de meus pais. Isso porque havia dormido comigo. Na minha cama, dessa vez.Ao despertar, abri os olhos e ele estava deitado naquela mesma posição de quando me deparei com um desconhecido de cabelos claros após beber todas no aniversário de Igor. De bruços, um braço para baixo, o outro por cima do travesseiro, o rosto virado para a porta. Engraçado como naquele dia não o havia reconhecido assim, sem camiseta. Agora parecia tão óbvio que era ele. O reconheceria de qualquer forma, mesmo que então estivesse vestido.Henrique havia trazido seu pijama. Quer dizer, ele veio para meu apartamento de tardezinha com toda a pretensão de dormir comigo. Por que mais traria uma mochila com suas roupas? Eu realmente não esperava por isso.Era estranho tudo o que estava acontece
Depois daquilo, achei que tudo estivesse bem e que Henrique não estivesse mais furioso, mas eu meio que estava tentando me enganar. Era claro que meu falso namorado estava apenas interpretando, pois logo ele tinha voltado ao seu humor típico.Ao menos me ajudou a ter consciência de que nós dois juntos nunca daríamos certo e que precisava tirá-lo da minha cabeça de uma vez por todas. Talvez a melhor alternativa fosse mesmo terminar com aquele acordo sem sentido. Isso me daria uma distância maior para entender o que estava acontecendo.Foi entrarmos em seu carro mais tarde, depois de nos despedirmos de todos, para que o seu lado Idiota tomasse conta do ambiente, com sua carranca de sempre e aquele silêncio mórbido que tanto odiava.Decidi eu mesma me manter calada e esperar que passasse sozinho. Se havia algo que aprendera nos últimos tempos era que o melhor remédio para acalmá
— O que foi? — Carolina quis saber, enquanto descíamos as escadas. — Vocês estavam brigando?Nem precisei responder. Ela sabia como ele me deixava só de olhar minha expressão emburrada.— O que foi dessa vez?— Não sei dizer com certeza — falei. — Mas é o Henrique, o mesmo idiota de sempre. Ele consegue encontrar qualquer motivo para me provocar. Parece que sente prazer em me deixar incomodada.Senti que estava ficando muito mais do que irritada. Estava chateada. Estava dolorida. Sabia que a qualquer instante iria chorar. Maldito Henrique! Eu queria odiá-lo a todo custo por me fazer ficar tão mal daquele jeito. Ele sabia exatamente como me machucar. Contudo, não queria que sua prima soubesse o quanto tinha me deixado aborrecida.— Achei que vocês estavam se dando melhor agora.— Também achei — respondi, esper
Na quinta-feira de manhã, encontrei Henrique me esperando outra vez na recepção do consultório da doutora Regina. Faríamos a ecografia que deveria revelar o sexo do bebê. Sinceramente, eu não estava muito preocupada com o que viria, contanto que tivesse muita saúde. Já seria difícil ter um filho sem experiência ou jeito pra coisa, imagina se ainda tivesse que ficar levando em hospitais, exames e tratamentos. Que Deus me livrasse de uma coisa dessas! Ao menos até então nada havia dado errado, o que era uma preocupação a menos. Nem havia pensado em nomes ainda. Embora tivesse ganhado mil opções desde que revelara a gravidez. Quer dizer, sempre havia alguém para dar palpite dizendo quais nomes estavam na moda, ou quais achavam bonito, ou até para ficar apostando se seria menino ou menina. Sim, porque Igor e Carolina fizeram mesmo uma aposta, cada um acreditando no próprio sexo. No entanto, o meu bebê não estava muito interessado em mostrar suas partes íntimas a
Era comum sair de madrugada para atender algum cliente. Afinal, que hora melhor do que a noite, com ruas vazias, escuras e sem policiamento, para assaltos e outros tipos de crime? Por isso normalmente deixava o celular embaixo do travesseiro, para o caso de ele começar a tocar.Normalmente o deixava com som, para escutar melhor, até porque não havia ninguém para se incomodar por ter sido acordado no meio da noite. Na época em que estava com Bernardo, também não havia problema, pois ele sempre ia comigo até a delegacia.No entanto, agora havia Henrique no quarto uma vez ou outra, então eu precisava deixar no silencioso antes de ir dormir, apenas na vibração para sentir quando tocasse. Não queria incomodá-lo. Nunca havia acontecido nada enquanto estava com ele, mas nunca se sabe.Até aquele dia.Eu estava com sono leve, pois não dormia mais tão be
Embora não houvesse contado nem a minha melhor amiga sobre minhas frequentes conversas com a mulher de Cassiano, meu cliente, eu trocava mensagens com ela semanalmente. Quase havíamos nos tornado confidentes.Provavelmente porque Mariane era a única pessoa que sabia o que eu sentia pelo pai de meu filho. Achei que contar a uma desconhecida era muito mais fácil do que a alguém como Carolina, que teria uma reação muito exagerada. Ou Luana, que ficaria colocando lenha naquela fogueira, me fazendo acreditar em coisas que não eram reais.Mariane me enviava mensagens quase todo dia, com tudo quanto era informação sobre gestação, como se eu mesma não pudesse buscar tudo na internet. Pensava que provavelmente ela não gostava muito de meu comportamento pouco materno em relação a Arthur, talvez porque, como mãe de tantos filhos, achasse que gravidez era a maior
Tivemos uma noite maravilhosa. Henrique cozinhou outra vez, depois olhamos um pouco de televisão agarradinhos embaixo das cobertas.Nesses momentos, quando tudo parecia perfeito, eu bem que tentava ficar na minha, calma e serena, curtindo aquele tempo juntos na esperança de que ele tomasse coragem de dizer que realmente queria ficar comigo e que aquilo não era só falta de algo melhor para fazer. Mas então acabava encostando-me em seu ombro, buscando mais calor do que o cobertor me dava e mais conforto do que o sofá me oferecia. Henrique afastava meus cabelos, me beijando no pescoço. Ele sempre beijava meu pescoço no mesmo lugar, na curva entre o pescoço e a cabeça, logo abaixo da orelha, o que fazia meu corpo inteiro estremecer.Eu fechava meus olhos, pois sabia o que viria a seguir: ele subiria até a orelha, me fazendo gemer, eu viraria o rosto, procurando sua boca, e aí já era.
No outro dia, Carolina me convidou para jantar em sua casa naquele sábado. Em vez de responder que sim imediatamente, fiz a imbecilidade de perguntar se havia convidado seu primo. Quer dizer, foi sem querer, mas a verdade é que não sabia fazer mais nada sem ele presente. Eu estava virando uma pessoa ridiculamente apegada.Sua ideia inicial não era convidá-lo, obviamente. Afinal, da última vez que nos viram juntos, estávamos discutindo. Não faziam ideia do que aprontávamos quando ninguém estava vendo. No entanto, minha amiga quis saber se eu me importava em chamá-lo também, ao que respondi com um tanto faz (querendo realmente dizer que sim).Na hora nem pensei no que minha resposta poderia implicar. Eu não fazia ideia como me comportaria na frente dele sem transparecer que estávamos tendo um caso. Mas iria fazer um esforço para demonstrar que nada estava aco