Quando abri os olhos tive duas certezas. A de que ainda não tinha amanhecido e a de que tinha escutado um barulho na porta da sala.
Me sentei, subitamente alerta, grata por estar no quarto e com a porta trancada também. Mas estava no terceiro andar do prédio e não tinha para onde ir. Prestei atenção, tentando entender melhor o que eu ouvi, mas tudo permanecia num silêncio tão grande que comecei a me perguntar se não tinha sido apenas um sonho. Meu coração batia acelerado e minhas mãos estavam agarrando o lençol com força quando escutei mais uma vez oVozes falavam ao mesmo tempo. Falavam demais. Eu não consegui entender uma única palavra por longos minutos, como se estivesse numa espécie de transe, até que uma voz se destacou entre as demais. - Isabel! O grito pareceu percorrer meu corpo como um choque elétrico e ergui o olhar dos meus pés para o dono daquela voz. Lucas atravessava a casa da piscina a passos largos, diretamente ao meu encontro, no chão enquanto um médico tentava me examinar há um tempo que eu nem imaginava. - Você está bem? – ele se abaixou na minha frente com os olhos muito abertos. 
Não fiquei surpresa quando saímos da cidade e tomamos o mesmo caminho da última vez que andamos juntos de carro. Por algum motivo, fazia sentido. Quase esperei que a tal casa fosse ao lado da cachoeira, por mais que eu soubesse que não havia casa alguma lá da outra vez. A casa de Lucas, no fim das contas, ficava em um morro onde haviam outras casas, mesmo que bem longe uma das outras. Era uma construção de dois andares, a parte de cima com uma grande varanda externa. Não era excessivamente grande, não passava nem perto da casa dos Luchi, mas era bem impressionante. Fiquei parada na entrada, olhando de baixo a cima, feliz por não ser mais uma casa padrão no mesmo ba
Abri os olhos e pareciam ter se passado anos. Espreguicei jogando os braços para cima e rolei para ficar de barriga para baixo. Tinha sido o melhor sono em tanto tempo que eu não conseguia nem mensurar. Estava completamente descansada, relaxada e renovada. Me levantei e afastei as cortinas para abrir a porta que levava para a varanda. Já havia escurecido e apenas a lua iluminava as árvores ao redor. Eu podia me acostumar com aquela paisagem, viver longe do caos da cidade parecia ser muito bom. - Senhorita... – escutei a porta se abrir e dei um pulo. Eu tinha trancado, não tinha? Quando me virei meu
- Acorde, senhorita. – a voz me fez dar um pulo – Desculpe. – ela pediu diante do meu espanto. Sentei na cama, a cabeça confusa pela noite mal dormida, e dei de cara com Gabriele. - Gabriele, e sua mãe? – perguntei num impulso, confundindo minhas memórias. - Ah... – por um instante pensei que Angélica pudesse ter morrido por causa do tiro, mas depois as memórias começaram a surgir lentamente – Meus pais morreram num acidente de carro. – Gabriele completou instantes depois numa voz meio frágil – Meus pais adotivos estão trabalhando...&nbs
Enquanto voltava para casa depois de me despedir de Luciana, eu ainda estava com um sorriso no rosto. Tinha certeza de que Lucas, no meu outro mundo, se comportaria da mesma forma se eu fosse mais aberta e menos receosa. Quando estávamos juntas, todas as preocupações pareciam pequenas porque eu sabia que ela sempre me estenderia a mão se eu precisasse. E claramente ela se sentia da mesma forma em relação a mim. A pose irritada e a aparente falta de vontade de falar comigo, eram apenas manifestações da chateação dela por termos ficado afastadas e por acreditar que eu poderia ter me tornado uma pessoa diferente.&n
Enquanto comemos pizza sentados no sofá assistindo um filme, qualquer preocupação foi varrida da minha mente. Apenas curti o momento familiar, que não acontecia há tanto tempo, como se fizéssemos isso sempre. Deixei minha mente fantasiar que tudo aquilo sempre esteve ali ao meu alcance. Uma vida sem grandes preocupações, a família unida no final do dia e uma pessoa legal com quem conversar. Luciana... Era inevitável pensar nela, seu rosto ficava pipocando na minha mente de tempos em tempos. - Vou passar alguns dias fora. – a voz de meu pai me levou para fora dos meus pen
Assim que eu abri os olhos duas sensações terrivelmente fortes me atingiram quase que simultaneamente, fazendo com que o ar me faltasse e eu me sentasse de um pulo na cama. Primeiro, a dor que parecia que partiria minha cabeça, segundo, a lembrança dos olhos castanhos brilhantes e intensos da garota que eu conhecera na noite anterior. Claro que eram conhecidos, vinham de um passado distante. Os olhos de Daren. O pânico foi seguindo pelas minhas veias até meu coração, fiquei em dúvida se meu coração acabaria explodindo com a força dos próprios batimentos, ma
- Você não respondeu se está bem. – Marco disse no que pareceram horas depois. - De certa forma sim. – sussurrei em resposta. Não estava machucada só com o nariz dolorido, mas minha mãe estava caída na casa e eu não sabia se ia sobreviver. Sem contar que eu não sabia o quanto Gabriele estava machucada por causa daqueles monstros. E meu pai e Luciana estavam por aí, perdidos em algum lugar. - Como me achou? – perguntei um tempo depois. - Pela janela da garagem. Eu j&