Capítulo 3

Giordana

A noite passada foi difícil do sono chegar, fui dormir era quase uma hora da manhã e acordei de hora em hora, estava muito ansiosa e angustiada.

As seis horas da manhã acabei pegando no sono e dormindo até as nove, quando a governanta da casa veio me acordar, pois meu pai me aguardava para conversar antes de eu ir para o salão de beleza.

Me levantei com borboletas no estômago, sabe quando a gente não consegue aquietar o coração? Parece que meu coração e meu estômago sairão pela boca. Ansiedade me define, seguida de medo, muito medo. Pavor de tudo dar errado.

Ao mesmo tempo, tenho uma sensação boa que tudo vai dar certo! Se meu pai me pega antes ou depois de eu fugir, não sei do que ele será capaz. Não correr esse risco é me entregar ao fracasso! Vou seguir em frente com o plano, respirando fundo e enfrentando uma coisa por vez.

É chegada a hora de encarar Giovanni Collucci, desço as escadas e ele está me esperando para me acompanhar no meu café, sei que ele acorda cedo e já fez seu desjejum. Meu coração bate forte, minhas pernas estão bambas... Eu tenho muito medo do meu pai!

― Buongiorno Giordana!

― Buongiorno papà!

― Animada com seu noivado?

― Muito!

― Você vai para o salão que está marcado para as onze horas, mas te quero em casa as dezessete e trinta, Moretti filho quer conversar contigo antes da festa.

― Si papà. Voltarei no esse horário.

― Pietro irá te levar e te buscará as dezessete horas. Estamos entendidos?

― Si papà!

― E pode colocar um sorriso no rosto é seu noivado e não seu enterro Giordana.

Não respondi nada para o meu pai, se eu estiver aqui nas dezessete horas para mim será um enterro. Giovanni deu um soco na mesa me fazendo pular e quase cair da cadeira.

― Você entendeu Giordana? Maldita menina que não pode cooperar! Se eu falo com você, tem que me responder! Se eu falo que você vai se casar você fará isso com um sorriso no rosto. Quem manda nessa casa sou eu Giordana! E você deveria me agradecer por casar com Moretti e não ficar com essa cara de velório.

As lágrimas corriam pelo meu rosto, eu não poderia viver assim, eu não aguentaria ser minha mãe. Esse plano de ir embora da Itália, precisa dar certo!

― Si Papà! – Respondi forçando um sorriso.

― Por enquanto está bom, mas sei que pode melhorar. Pode ir se arrumar para ir ao salão, Pietro está te esperando e eu não quero atrasos.

― Obrigada papà.

Subi as escadas e me joguei na cama. Meu é horrível, é bem diferente do que eu queria. É lilás, os móveis brancos, com detalhes em ouro, pareciam de uma princesa, uma criança. Só que eu sou uma mulher, não acredito em princesa, muito menos em contos de fadas. Odeio esse quarto, tanto quanto, a minha vida aqui.

Coloco um vestido ao gosto do papai. Há algum tempo venho me vestindo com as roupas que ele gosta, para fazê-lo pensar que sou o que ele deseja. É difícil, mas é parte do plano. Precisava ganhar a confiança dele e me dediquei bastante para conseguir um pouco disso. Sei que ele não confia em mim, mas não impossibilita tudo.

Peguei a chave do armário do aeroporto, que vovô me enviou de presente. Não tive tempo de ir vê-lo, mas também, era uma emoção, uma despedida, que nenhum dos dois precisava. Finalmente saí de casa e me dirigi ao quintal, para encontrar com Pietro e ir ao salão.

Pietro me esperava encostado no carro, fazia uma pose ridícula que evidenciava seus músculos, muitos músculos e pouco cérebro. O típico cara fútil que se acha o maioral por ter um corpo definido e assim, acredita que por isso todas as meninas estão caindo a seus pés, basta um sorriso, ou uma frase bonitinha para estarmos à sua disposição. Resumindo: Pietro é bonito, gostoso, sem conteúdo e babaca!

― Olha se não é a futura Collucci Moretti!

― Pietro vai cuidar da sua vida, da minha cuido eu.

― Acordou de mau humor patricinha?

― Você sabe onde me levar, faça seu trabalho no maior silêncio possível!

Entrei no carro e fechei a porta, peguei meu celular, coloquei o fone liguei uma música e fui muda. Assim que cheguei no salão desci sem me despedir, sem falar uma palavra sequer.

― Seu pai pediu para esperar do lado de fora, se precisar de alguma coisa estou à sua disposição patricinha!

Ignorei Pietro e me apresentei no salão como Cinthia, que era uma de nossas cúmplices e me aguardava do lado de fora. Logo que entrei ela veio atrás e se apresentou como Giordana.

Nos cumprimentamos fingindo que o encontro era coincidência e que éramos amigas. Fomos fazer as unhas enquanto começaram paparicá-la e ajeitar seus cabelos. O primeiro passo foi dado e ninguém sabia que eu era Giordana.

Assim que acabei de fazer as unhas, paguei pelo serviço e perguntei:

― Tem alguma outra saída, meu ex-namorado está plantado do lado de fora e não queria que ele me visse! Já é tanta dor de cabeça que ele me dá durante a semana no trabalho!

― Ah amiga, eu sei como é isso, não sabia que vocês haviam terminado. Mas também não sabia que estaria aqui, se eu pudesse controlar o mundo teria pedido outro motorista para meu pai.

― Como ele é seu motorista não falei nada para não o prejudicar. E convenhamos, seu pai é outro crápula. Deus me livre daquele demônio em forma de homem.

― Nem me fale, nem sei como ele ainda não ligou para saber se eu estou aqui. Ele controla todos os meus passos.

― Ah querida ele ligou sim, para saber se você tinha chegado, pediu para ficarmos de olho em você! – Falou a recepcionista.

― Meu pai se acha o Deus da Itália!

― Eu queria que meu pai me controlasse minha vida, pelo menos esse retardado do Pietro não estaria na minha cola.

― Tenho uma ideia! Você coloca minha roupa, assim ele não te reconhece o que acha?

― Você faria isso por mim?

― Lógico Cinthia, nós somos amigas não somos?

― Claro!

― Da última vez que encontrei com Pietro ele me bateu, não quero passar por isso, não hoje!

― Se você puder me esperar mais vinte minutos, estou com carro na garagem e já vou embora, posso te deixar umas ruas daqui. Você sai daqui por outra saída, num carro e ele não te vê. – Disse uma cliente.

― Eu quero muito!

― Te deixo na avenida, vou buscar minha filha no aeroporto, senão te levava para sua casa. Ela está voltando de um intercâmbio no Estados Unidos.

Troquei de roupa com Cinthia, vesti seu jeans, camiseta e bota preta e saí do salão junto da senhora que, rumo ao aeroporto de Milão, deixei meu celular com Cinthia e levei o dela. Mandei uma mensagem para Camila dizendo que a troca foi um sucesso e estava indo de carona ao aeroporto de Milão.

― Se não for pedir demais você poderia me deixar no aeroporto? Eu estou indo encontrar uma amiga que também está vindo dos Estados Unidos e preciso enrolá-la para não chegar antes dos convidados, estamos fazendo uma festa surpresa. Não comentei no salão, porque ela e a Gi não se dão.

― Ótimo, assim não vou sozinha, entendo você não ter falado nada assim não deixa ninguém chateado.

Chegando no aeroporto, deixei a senhora com sua filha e fui encontrar Camila, que estava com um rapaz que eu não tinha ideia de quem ele era.

― Isis esse é o Mário, ele é um amigo de Guto.

― Mário, Isis está indo para o Brasil para fugir de um namorado obsessivo. Por favor, ande com ela de mãos dadas e a beije se perceber alguém olhando.

Minha reação foi arregalar os olhos e ver a cara de diversão dos dois. O que essa louca tem na mente?

― Explica Camila.

― Fácil, se por acaso seu namorado aparecer por aqui o Mário te envolve e ninguém te reconhece. Não seja careta agora, você precisa de um plano B. É melhor beijar o Mário do que ser pega.

― Não vai ser nada ruim te beijar por algumas horas. Senhor me mande trabalhos dessa natureza sempre.

― Ok, entendi.... Que droga Camila!

― Também te amo e ele nem é de se jogar fora.

― Eu sou gato e legal. E pare de falar de mim como se eu não estivesse aqui.

Fomos ao armário pegamos as coisas que vovô deixou, tinha um bom dinheiro, numa pochete, nos bolsos de uma mochila, carteira, coloquei a máquina dentro da mochila, três trocas de roupas e estava pronta, próximo passo era eu sacar o dinheiro e Camila ir embora. Como minha bagagem era de mão não precisaria despachar a mala.

― Gi, já descobriram que a Cinthia está no seu lugar, eu preciso ir para não desconfiarem. Você está bem?

― Sim Camila, obrigada por tudo!

― Mário cuide dela com sua vida, a ajude fugir daqui a vida dela será um inferno se ela ficar. Me manda notícia, por favor.

― Ok.

― Gi vá sacar o dinheiro, precisa tirar a desconfiança de alguém tê-la ajudado.

Assim eu fiz, saquei o dinheiro, dei um pouco para as duas meninas deixei o diário no banheiro e me dirigi ao portão de embarque. Quando estava me aproximando vi meu pai adentrando no aeroporto.

― Mário me beija, por favor!

― Claro princesa!

Mário passou o braço pela minha cintura, segurou meu cabelo na nuca e beijou minha boca e ele me empurrou até encostar numa parede e prensou seu corpo contra o meu. Fiquei olhando Giovanni e Breno passando e olhando para os lados. Mesmo não tendo me entregado ao beijo, poderia afirmar que o Brasil vai me fazer bem, Mário beijava bem, bem melhor que Pietro que era minha única referência e acabei concluindo em voz alta:

― Eu nunca fui beijada dessa maneira.

Mário me deu um sorriso de satisfação e voltou a me beijar. Ele pegou minha mochila e carregou para o portão de embarque. Acho que deu certo, não é?

                   

― GIORDANA, EU VOU TE ACHAR, NEM SE FOR NO INFERNO!!!! GIORDANA!!!

Meu pai gritava feito louco pelo aeroporto, eu não posso me comover com isso.

― Você é Giordana?

― Não, eu sou Isis. Essa aí está mais fodida que eu.

A partir de hoje Isis Souza seria meu nome. Minhas regras para sobreviver seriam:

1- Nunca aparecer em jornais, revistas, catálogos, qualquer mídia da internet, não ter perfil de I*******m, F******k, Twitter, ou qualquer outro tipo de rede social.

2- Morar em locais que não chamem atenção, proibido república ou coisa do tipo onde as pessoas ficam curiosas para saber quem é você.

3- Não me hospedar em hotéis quando eu chegar ao Brasil.

4- Me manter segura.

5- Aproveitar todos os dias como se fosse o último, mesmo não querendo ser pega, sempre há o risco.

E por último, não manter contato com ninguém da minha vida antiga, não contar para ninguém quem eu sou de verdade, ou de onde venho.

Estava sentada no avião esperando-o decolar rumo à São Paulo, no início eu pensei em ir para Uruguai e depois Brasil, mas Camila e eu achamos que quanto mais pontes, maior o risco. Resolvi vir direto, minha família tem negócios no sul do país, portanto eles irão achar que não vou me arriscar de vir ao Brasil. Esse era o plano, ir para o lugar onde nem eu achei uma boa ideia a princípio.

No Brasil vou ter o primo de Camila para me ajudar no início. Pedi para ele alugar uma quitinete simples, e ele assim fez. Camila ficaria responsável por ficar de olho nos movimentos da minha família, ela cursaria faculdade na Inglaterra e provavelmente depois iria para Alemanha trabalhar com o pai.

Guto, seu primo seria nosso meio de comunicação. Certamente papai iria investigá-la, ela era minha única amiga. Não poderia dar nenhum passo em falso, nós duas sabíamos disso. Tenho receio das consequências que nós duas sofreríamos. Se eu for pega, tudo bem, desde que todos que me ajudaram não sofra por minhas escolhas.

Eu sentia meu corpo tremer enquanto o avião não levantava voo, olhava a todo momento para verificar se mais ninguém entraria no avião, um homem entrou e eu me encolhi atrás do Mário, ele se dirigiu até sua poltrona e sentou, era só um passageiro. 

― Menina, você cometeu algum crime? 

― Eu tenho cara de quem fez isso?

― Absolutamente não! Sei que esconde um segredo, talvez esteja só fugindo do namorado, ou talvez você tenha matado alguém sem querer e está fugindo por medo. Ou ainda pode ser uma serial killer escondida por trás dessa carinha de anjo.

― Oh meu Deus! Descobriu meu segredo!!! E agora? Vai me denunciar???

― Hum me deixe pensar, deixar uma moça indefesa ser presa por cometer um, ou vários assassinatos, ou beijá-la durante uma viagem inteira e desfrutar de seus lábios doces? Sem ser para te esconder de alguém.

― Como pode ser tão galanteador?

― Chavequeiro princesa, use o termo chavequeiro, não quer parecer alguém que pulou das páginas de um livro, quer?

― Não.

Mário se aproximou dos meus lábios e me beijou, terno, carinhoso, devagar. Diferente do beijo dado fora do avião! Ouvi o anúncio de "aperte os cintos que iremos decolar". Soltei o ar que estava prendendo e assim que o avião ganhou o céu, me desabei a chorar. Alívio, era o que eu sentia, Mário segurou minha mão, a acariciava e beijava a parte de cima.

― Você parece desesperada para deixar a bela Itália!

― Aqui não é meu lugar, a única coisa que quero é a liberdade e aqui eu nunca a teria!

― Eu te entendo menina, pode contar comigo para te ajudar na sua adaptação ao Brasil. 

― Eu agradeço a Mário, mas vou precisar caminhar com minhas próprias pernas.

― De qualquer maneira anote meu número de telefone, ou me dê o seu.

― Eu deixei meu telefone para trás, deixei tudo para trás!

― Começando do zero?

― Exatamente, começando do nada.

― Vem aqui, acho que está precisando de um abraço e um aconchego! Me lembra de agradecer Guto pelo trabalho, eu fiquei muito puto de ser babá de uma menininha mimada, mas creio que errei feio!

― Obrigada por isso!

Me aninhei nos braços de Mário e acabei dormindo com os cafunés que eu recebia. Fui acordada com outro beijo e logo em seguida outro beijo de tirar o folego, dessa vez senti a emoção de um beijo de verdade, senti meu coração acelerar, meu corpo esquentar.

― Estamos chegando em solo brasileiro, não quer ir para minha casa? Vou adorar passar uns dias te apresentando São Paulo. Me dê a honra?

― Não Mário, não agora, se o destino quiser nos encontraremos por aí, agora eu preciso ficar sozinha.

― Sim senhorita, mas fique com meu telefone, nunca se sabe a hora que precisamos de alguém. Você é gente boa!

― Você também.

Descemos do avião e nos dirigimos para fora do aeroporto sem sermos parados por ninguém. Guto estava nos esperando. Mário me deu um beijo de despedida e foi embora rindo e agradecendo Guto pela companhia na viagem.

― Princesa se quiser conhecer são Paulo estou à disposição.

― Não, obrigada!

Guto me levou para o apartamento e me deixou ali, já sabíamos que nosso contato deveria ser restrito e assim comecei minha vida em São Paulo, sozinha e feliz!

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo