Davi estendeu o buquê à minha frente, imóvel, como se estivesse esperando que eu o pegasse. Era evidente que, se eu não aceitasse, ele ficaria ali segurando o buquê por tempo indefinido.Jean, com a mão firme em minha cintura, lançou a Davi um olhar frio e penetrante. Sem dizer uma palavra, ele fez um leve movimento de cabeça, e Leo, percebendo o sinal, deu um passo à frente para pegar as flores em meu lugar. Mas Davi rapidamente recuou, evitando que Leo as pegasse.— Kiara... você destruiu a mim e à nossa família Castro de uma forma tão cruel, e eu nem me queixei. Agora você não é capaz nem de aceitar um simples buquê de flores que eu trouxe? — Davi perguntou, com um tom calculado.Ao redor, ainda havia várias pessoas conhecidas: colegas do setor, alguns figurões da indústria e até jornalistas que não tinham deixado o local.Ficou claro para mim que Davi escolheu esse momento de propósito, tentando me constranger em público. Para evitar que a situação chamasse mais atenção ou gerasse
As palavras de Jean me fizeram sentir um aperto no coração. No passado, Davi sempre havia mostrado uma postura gentil e humilde. A família Castro tinha uma reputação impecável, sempre participando de ações de caridade e cultivando uma imagem positiva. Mas, na realidade, as coisas eram bem diferentes...— Embora o problema tenha começado com um conflito entre o trabalhador e o empreiteiro, a família Castro não precisaria assumir a responsabilidade principal. No entanto, para evitar que o caso gerasse repercussões negativas para o projeto, eles participaram do encobrimento, ajudando o empreiteiro a esconder a verdade. — Jean explicou com calma e, ao terminar, suspirou. — Na verdade, eu não queria falar sobre essas coisas em um momento tão especial. Mas, com o Davi vindo até aqui para te importunar, acho que está na hora de fazer a família Castro desaparecer de vez de Saurimo.Fiquei em silêncio, tentando organizar meus pensamentos. Depois de alguns instantes, quando me senti um pouco mai
Depois de me despedir dos colegas, continuei andando em direção à saída. De repente, senti um tapa leve no ombro, vindo por trás. Quando me virei e vi aquele rosto, um mau pressentimento tomou conta de mim.— Davi, você... — Mal comecei a falar, e ele avançou, cobrindo minha boca.Não foi com a mão diretamente, mas com um lenço que ele segurava na palma.Na mesma hora, uma enxurrada de pensamentos horríveis percorreu minha mente: sonífero, droga, abuso... até mesmo assassinato.Por algum motivo, minha mente já estava preparada para acreditar no pior vindo de Davi. Em questão de segundos, senti minha consciência se esvaindo, e tudo ficou escuro.Quando abri os olhos novamente, tudo ao meu redor estava completamente escuro. Eu não fazia ideia de onde estava. Ao tentar me mover, percebi que meus braços e pernas estavam amarrados.— Acordou rápido, hein? — Uma voz familiar soou ao meu lado, e eu congelei. O pavor tomou conta de mim.A voz estava muito próxima. Isso significava que, durante
Davi me olhou fixamente, palavra por palavra, e disse aquilo de forma lenta e grave. Aparentemente, era para soar cheio de emoção. Mas eu não acreditei.— Você não está preso a mim porque me ama. Está porque ainda precisa que eu te doe sangue para te salvar, não é? — Respondi com calma, sem hesitar.— Não é isso... — Davi balançou a cabeça e, com os olhos cada vez mais sinceros, me encarou. — Minha doença está quase curada... Na verdade, no ano passado eu fui para a Suíça para tratar minha condição. Lá, eles desenvolveram uma nova técnica que trata muito bem o meu tipo de problema sanguíneo...Meu coração deu um salto. Então era isso. Não era à toa que ele parecia exatamente como uma pessoa saudável.Mas mesmo assim, depois de melhorar, ele não voltou para casa durante a Epifania para se reunir com a família. Em vez disso, veio para Milão.Só para me atormentar?— Kiara, você e Jean não vão dar certo. Agora que minha doença está quase curada, eu quero que saiba que... — Ele se inclinou
Minhas pernas estavam com os tornozelos amarrados, mas eu usei toda a força que tinha para chutá-lo. Ele foi pego de surpresa, e meu chute acertou seu peito, fazendo seu corpo cambalear para trás.Eu aproveitei o momento e puxei minhas pernas de volta, encolhendo-me o máximo que podia, enquanto me movia lentamente em direção à beirada da cama, tentando me proteger.Davi esfregou o peito, olhando para mim com fúria. Em seguida, ele se ajoelhou e, sem hesitar, avançou em minha direção.— Kiara, essa sua resistência me faz pensar se você algum dia realmente me amou! Será que, durante todos esses anos, você só me usou como um apoio? E quando apareceu o Jean, alguém mais forte, alguém melhor que eu, você nem pensou duas vezes antes de correr para os braços dele! — Gritou ele, com o olhar cheio de ressentimento, enquanto, de forma brutal, começava a rasgar minha roupa.Por dentro, eu ri friamente. Ele não era tão burro, afinal. Essa mesma questão só ficou clara para mim depois que Jean me fe
Jean assentiu levemente, olhando para mim com um olhar profundo e trêmulo. Depois, ele soltou um longo suspiro.— Ainda bem que você está bem... Ele chegou a fazer algo com você?— Ele tentou, mas não conseguiu. — Respondi. Porém, um pensamento cruzou minha mente de repente, e eu o encarei, perguntando. — Se ele realmente tivesse feito algo comigo, você... você me deixaria?Eu pensava no que aconteceria se Davi tivesse me violado. Será que, no fundo, Jean se sentiria incomodado com isso?— Que besteira é essa que você está falando? Eu perguntei se ele fez algo com você, não porque eu teria nojo de você, mas porque eu me preocupo com o que isso poderia causar em você, com o trauma que poderia deixar.Jean me encarou com seriedade, sua expressão firme e sincera.Eu mantive os lábios cerrados, o olhar fixo no dele, sem piscar.Ele, temendo que eu não acreditasse, explicou novamente:— Eu nem me importei com o fato de você ser divorciada, acha que vou me importar com isso? E, além do mais,
Eu me assustei e me sentei, saindo dos braços de Jean.Jean continuou conversando ao telefone por mais alguns instantes antes de desligar.— O pessoal da embaixada perguntou se você quer ir vê-lo. O que você acha? — Perguntou Jean, olhando para mim.— Não. — Respondi sem hesitar, balançando a cabeça. — Que façam o que tiver que fazer. Não tenho nada para falar com ele.Só de lembrar das palavras de Davi e do que ele tentou fazer, meu corpo inteiro rejeitava a ideia.Jean passou o braço em volta dos meus ombros e apertou levemente, como se quisesse me consolar em silêncio.— O pessoal da embaixada mencionou que, se ele for julgado aqui, como não houve um dano físico comprovado, ele pode facilmente alegar inocência com um bom advogado. Além disso, para o caso ser tratado aqui, você teria que ficar no país até que todo o processo fosse concluído e só depois poderia voltar para casa...Jean não precisou terminar a frase para que eu entendesse. O problema não era o que aconteceria com Davi,
— Sim. Ele provavelmente me amarrou porque tinha medo de que eu escapasse, depois de me sedar. — Respondi de forma simples, sem querer prolongar o assunto.Bela, de repente, mudou a expressão. Ela olhou para Jean por um instante e, em seguida, me puxou para o lado, dando alguns passos longe dele. Com a voz baixa, perguntou:— Você... você não foi... por aquele desgraçado, né?Ela não terminou a frase, mas eu entendi o que ela queria dizer. Sorri levemente, tentando tranquilizá-la:— Fique tranquila, não aconteceu nada. Ele me amarrou de pés e mãos, o que acabou dificultando qualquer tentativa. Além disso, Jean chegou a tempo.— Que bom. — Bela suspirou aliviada, mas continuou me observando com atenção. Ao notar algo, franziu novamente a testa. — Seu rosto está inchado, Kiara. Esses machucados estão tão visíveis, e você ainda diz que não é nada. Precisamos limpar isso e passar algo para evitar que fique marcado.Mal ela terminou de falar, Leo entrou no quarto trazendo uma maleta de prim