Senti o sabor e engoli. Eltery retirou o pau da minha boca com um sorriso aliviado, logo me puxou para cima e me deu um beijo.
Estávamos dentro de uma sala de aula — matando aula —, obviamente ficaríamos de reforço para algum aluno só para recuperar nossas faltas quem vinham sendo mais frequentes que o sexo. Bem, a maioria das faltas eram por causa do sexo.
"Devíamos tentar fugir daqui,” sugeri pela segunda vez na semana. Aquele mês tinha sido o ponto inicial do meu desespero quando relembrei da promessa de Amster. Isso me fez refletir naqueles dias que por algum motivo, quando Amster fez a promessa, já sabia que eu não ficaria muito tempo com ele.
Agora preso em um chalé com Hector, isso parece tão idiota de se ter medo. Amster não deve nem pensar mais em mim, nem lembrar dessa promessa tosca. Ele só tinha quinze anos, e agora deve ter a idade do Hector.
“O que você sente por mim?” Perguntou Eltery entrando no banheiro. Era segunda, da semana seguinte, após o belo acontecimento de eu tentar seduzir o segurança. “Não esperava isso de você. Por que fez isso?”Continuei lavando as mãos encarando meu reflexo no espelho.“Já tínhamos terminado. Foi o suficiente.”“Não foi o suficiente!” Gritou. “Achei que você estava brincando.”“Não sou de brincar com isso. Não estava claro o suficiente?” Parei de olhar o espelho e passei a olhá-lo. Eltery estava visivelmente decepcionado com o que eu estava fazendo. Eu também não queria estar fazendo aquilo, mas estava mais preocupado comigo mesmo do que com ele. Sempre estive mais preocupado comigo mesmo do que com os outros.“Você está me rasgando, Angus. Você tornou isso uma brincadeira, não é uma brincadeira para mim.”“Sinto muito, preciso fazer isso.”“Precisa fazer isso? Você não precisa fazer isso. Nunca precisou.”“Já precisei, lembra?”“Ma
O subsolo era frio e barulhento. Cheirava a umidade e roupa suja, e ainda era escuro e sem ventilação como em uma caverna.“Esfregue o chão junto com os outros,” ordenou a inspetora assim que guardei minhas roupas no dormitório. ”Lave embaixo dos túneis de ventilação, eles costumam juntar muita gordura e poeira.”Jogou uma escova de lavar o chão no meu peito e entregou um balde com água e sabão.Eltery foi mandado para limpar as privadas do subsolo, o vi pela primeira vez lá quando fui usar o banheiro. Estava tão apertado que parecia que até chegar ao banheiro teria mijado pelo caminho todo.“Isso é uma merda,” comentou Eltery da outra cabine enquanto eu fazia xixi. O barulho de escova esfregando algo era bem relaxante.“Pensei que você já estava acostumado,” balancei o pinto, colocando ele para dentro das calças de novo.“Acostumado. Nunca vou me acostumar a limpar merda nenhuma,” disse irritado, saindo da cabine. “Eu estava indo bem até a
“Hector estava ansioso hoje. Fazia tempo que não transavamos,” comentei de noite, no dormitório de Eltery, após ter deixado Hector depois de uma transa exaustante que me deixaria assado durante o dia seguinte inteiro.“Não quero saber disso, Angus. Pensar em você com ele é complicado para mim,” ele estava deitado na cama copiando algo do livro de física no caderno.“Ok,” circulava pelo dormitório dele tentando aliviar ardência. “Quem é a garota que você estava abraçando naquele dia?”“Que garota?”“A loira. Você olhou para mim e para Heather enquanto debochavamos de vocês.”“Espera, vocês debocharam da gente?”“Sim, quem é ela?” Sentei-me na cama ao seu lado, atrapalhando-o de copiar seja lá o que estava copiando.“Só estamos ficando. Nem ela acredita que seja sério.”“Não?” Levantei a sobrancelha.“Tá, um pouquinho, mas quando sairmos daqui só será a gente. Sem Hector ou garota loira.”“Não temos muita maturidade para um r
A tempestade está mais forte do que quando fui dormir com Hector ontem à noite. Ele não está mais ao meu lado na cama, mas sinto cheiro de almôndegas e molho de tomate vindo lá de baixo.— Hector? — chamo, levantando-me. Agarro minhas roupas no chão e vou vestindo cada peça até chegar à porta do quarto. — Hector?— Aqui embaixo. O almoço está quase pronto — a voz de Hector é calma e alegre. Por algum motivo ele está feliz, talvez por causa da nossa briga idiota e de sua desconfiança infinita? Bem, espero que ele tenha largado essa desconfiança até eu ir embora daqui com Eltery.Desço sem pressa para o primeiro andar, sentindo com mais detalhes o cheiro do molho e das almôndegas a cada passo. Hector está sem camiseta, próximo ao fogão, e mancando quando se movimenta para pegar algo no balcão.— Boa tarde, querido — ele manca em minha direção.— Não precisa vir aqui — tento avisar, mas ele já deixa um beijo suave nos meus lábios e se afasta, mancando de v
Acordo quente. Ouço a voz da minha mãe da cozinha, o som de crianças gritando e pulando no lago, e suavemente, tem o som da cantoria da igreja e o sorveteiro balançando o sino. É bom, é calmo e alegre.— O café está pronto. Vai acabar se atrasando para a escola — mexo-me na cama até ficar de frente para Amster. — Mamãe disse que você faltou ontem de novo. Vai acabar perdendo o ensino médio.— Vou não — pisco algumas vezes, acostumado a visão com a luz. Amster continua olhando para mim até abaixar as calças e ficar nu. Fecho os olhos instantaneamente.— Levanta isso! — queixo-me.— Sei que gosta de olhar, pode olhar.— Saí logo Amster! — continuo com os olhos fechados.— Tô indo.Espero os passos dele ficarem mais distantes para abrir os olhos
Já imagino Eltery me beijando mesmo ainda faltando uma hora para ele chegar.Checo de novo o cabelo no espelho e sorrio como um “ok”.— Tá lindo — Amster diz de sua cama, no fundo do quarto.— Obrigado — continuo olhando para o espelho, tentando ter confiança que está tudo no lugar. Amster se levanta e caminha calmamente até mim, como se não quisesse nada.— Parece que Eltery vai se atrasar, o carro do pai dele quebrou aqui próximo — ele mostra a mensagem, enquanto balança meu celular no ar. Pego de sua mão e dou uma rápida lida.— Saco — digo, ao tempo que digito uma mensagem compreensiva.— Papai já sabe que você é… gay? — ergo os olhos do celular.— Não, ainda não. Só a mamãe. Estou me preparando para contar.— Talvez eu devesse contar primeiro para te ajudar. O que acha? — um sorriso maldoso surge nos seus lábios.— Para com isso, Amster. Já te pedi desculpas e você sabe que foi para o seu bem.— Meu bem
Angus e Eltery sumiram no meio de uma tempestade que parecia o fim do mundo. Onde eles estão agora?Ninguém sabe, acham que eles morreram afogados e os corpos foram levados para o rio. O diretor pareceu muito preocupado nos primeiros dias, mas depois que as buscas foram avançando ele percebeu que nunca os encontraria.Jack chorou por uma semana, ficou em uma depressão tão profunda que chegou a se esquecer dos dias. Romy ficou muito pálida e com os olhos inchados, emagreceu e parou de se divertir em mandar os alunos fazerem exercícios. Hector e Heather foram realmente os únicos que não ficaram atingidos. Heather, de alguma forma, já imaginava o que tinha acontecido, ela é inteligente demais para não notar os planos de Angus. E Hector, poderia ter ficado muito atingido, mais do que todos, mas Jack andou cuidando muito bem dele para que isso não acontecesse.— Um
Passamos por Lloydminister, Vermilion e Mundare até chegarmos em Edmonton. Ao fim da viagem, Angus estava suando frio e com hálito azedo, e eu cheirando a todos os tipos de odores de meia suja.Chegamos no meio do dia com o sol de verão ardendo como se quisesse incendiar tudo. Angus se arrastou para fora do carro com a cabeça abaixada protegendo o rosto do sol.“Parece bom, não?” Perguntei a ele, Angus levantou a cabeça e olhou ao redor do bairro. Casas perfeitas de dois ou três andares e montadas cuidadosamente vinham de uma ponta da rua e iam a outra ponta da rua. Algumas tinham enfeites no jardim como pedras, flores e estátuas e outras apenas tinham a bandeira do Canadá.Carr