23h15 da noite de sexta-feira. Amanhã posso ficar trancado com Hector o dia inteiro no nosso dormitório secreto sem me sentir desesperado com as aulas.
Essa é a primeira vez em um mês que não terei nada que fazer no dia seguinte. No subsolo era todos os dias com algum a fazer, é aqui, estou livre o dia todo no sábado e domingo.
Heather conseguiu me foder muito bem, esta então é a sororidade entre amigos?
— Vai aonde a essa hora? — Feller pergunta deitado de sua cama, no instante que eu escovo os dentes ao lado da porta do banheiro.
Ele está com a cabeça deitada em cima do braço e com os olhos em mim.
— Dar uma volta — a voz sai sufocada pela espuma bocal.
— Amy vai ficar com Kira jogando baralho, então ela não virá aqui amanhã. Pode ficar no quarto.
Cuspo a espuma e enxugo a boca.
— Não vai dar não — me sento na cama enquanto amarro os tênis.
— Vai aonde mesmo? — pergunta de novo.
— Ver Hector.
— Ah…
A fila no banco não está tão ruim quanto tinha imaginado. A movimentação é pequena e calma, e há cheiro de aromatizante por todo o local.Se a minha perna estivesse em uma situação pior eu já poderia estar pegando a fila de PCDs, mas como ela é instável e variável só fica ruim nos momentos mais inoportunos. Quando chega de noite, quando estou subindo escadas, simplesmente apenas quando estou caminhando ou transando — mesmo deitado. E até quando estou dormindo.Mas por alguma razão a dor passa de repente algumas vezes no dia, e fica como se eu não tivesse nada. Que é este o caso.Eu possuo a carteirinha de deficiente para passar nas filas ou conseguir banco no transporte público, entretanto, raramente uso, só quando estou voltando do trabalho cansado com o joelho explodindo e o ônibus cheio, daí não tenho nenhuma dó de expulsar alguém do banco mostrando a carteirinha.Não demoro mais de vinte minutos para abrir uma conta para Angus e transferir o dinheir
— Adriano foi um dos melhores imperadores de Roma e conseguiu escrever suas memórias antes de morrer. Marguerite Yourcenar fez um incrível trabalho nesta obra — mostro o livro para os alunos. — Quero uma redação sobre esta obra na quinta-feira.O sinal toca, os alunos começam a se retirar da sala. Encaminho-me para o meu assento e jogo o corpo assim que chego a ele.Felizmente hoje não é dia de ver Angus. Agradeço por poder dormir em casa e não ter que questioná-lo sobre o que Amster faria com ele.Angus conseguiu guardar o segredo sobre Amster muito bem, e acho que será difícil dele me contar.Pego alguns relatórios feitos por alguns alunos na semana passada. Já havia lido vários deles, mas parece que não acabava nunca, cada vez mais relatórios aparecem na minha mesa.Mesmo antes de eu terminar o primeiro trecho de um relatório, ele é arrancado da minha mão.— Tire as mãos do Angus seu pedófilo deficiênte — meus olhos escorrem pelo rosto de Jack
Qualquer ônibus público no Canadá terá cheiro de maconha, pessoas psicologicamente afetadas e mendigos.Eu realmente não julgo, porque poderia ter sido facilmente uma pessoa com psicológico afetado e um mendigo ao mesmo tempo, já que a população de rua em todo o Canadá é mais da metade dessas pessoas, e as outras porcentagem de viciados em metanfetamina.“O governo canadense não tinha mais orçamento para gastar com manicômios, então preferiu soltar todo mundo na rua,” minha professora de história contou uma vez.“Indígenas, LGBTs, doentes mentais, idosos e viciados em drogas formam a grande parte da população sem-teto do país.”Havia lido uma vez, que a rua é o campo de concentração do estado. Ele joga tudo nela quando não é usável socialmente e espera morrer de fome, de doença ou alguma coisa. No Canadá, costumam morrer de frio.O governo deve ficar feliz pelo tempo fazer seu trabalho e não precisarem torcer para que parem as pessoas parem de dar
Sol, árvores, lagos, bosques, fazendas e animais. Tudo o que via quando abria os olhos por alguns segundos e voltava a dormir em seguida.Já tinha passado por isso, viagens longas quase sem fim. Mas foram pouquíssimas. Como professor já tinha viajado bem mais do que quando era criança. Raramente saia de North Battleford, não tinha muitos motivos para sair. Só saia quando precisava comprar algo excepcionalmente necessário na capital.A única vez que lembro de ter saído da cidade para se divertir foi aos catorze anos, quando um cliente me ofereceu grana suficiente para eu pagar meus remédios por meses.Eu lembro que realmente era muito dinheiro, devia ser 2 mil cad$ ou algo assim.Ele me levara para uma cabana isolada em pleno inverno. Foram dois ou três dias de viagem, fomos de carro com vários problemas durante o caminho, mas conseguimos chegar.Com total certeza ele não foi o meu pior cliente. Pude comer o que quisesse por toda aquela semana, e,
Quando Jack sai de cima de mim, não estou mais sentindo os dois lados do rosto.Foi preciso dois professores e mais um aluno para tirar ele de cima de mim. A barraca que estava lutando tanto para montar agora estava embaixo de mim. As barras faziam minhas costas doer tão dolorosamente que sentia vontade de chorar, igualmente meu rosto ardido que começava a inchar.Fecho os olhos e fico apenas focado no som das conversas, pessoas indignadas e risadas de alunos. Maravilha.Fui jogado na diretoria do acampamento com um saco de gelo no rosto. Tive de ficar mudando o saco de lado sempre que a dor começava a voltar para outro lado do rosto novamente.— Meu-Deus-Hector — diz Romy pronunciando cada palavra em indignação.— Não está sendo um bom dia mesmo, devia ter ficado em casa — ajusto o saco de gelo no rosto. — Jack já falou alguma coisa sobre o ocorrido para o diretor?— Não, disse que vai esperar você falar sua versão. Quer f
As manhãs sempre são mais deliciosas quando transo com Angus pela madrugada. Parece uma magia ou algo até anti-inflamatório.Respiro o ar e me estico do lado de fora da barraca. Tem realmente poucas pessoas à vista, talvez estejam esperando o sol ficar mais forte para acordarem.Dou mais uma olhada e retorno de volta a barraca para trocar de roupas e pegar a escova de dentes.As roupas que escolhi para trilha são ótimas e bem confortáveis. Um shorts acima do joelhos, uma regata e tênis de corrida. O vestimento completo para uma trilha. Queria sim usar uma blusa de frio para cobrir o rosto, mas todo mundo já tinha visto, não tinha porquê esconder.Tomo mais dois comprimidos inteiros de anti-inflamatório, as dores nas costas já estão quase começando a aparecer e teria um dia longo demais para ficar gritando silenciosamente de dor.Esvaz
Erguemos pó de terra a cada passo corrido. Gargalhamos e continuamos a correr.O sol no topo nos segue. O suor escorre e o meu pulmão arde.Cessamos a corrida na beira de um lago com tom dourado. Os raios do sol batem na nossa pele fervendo, fazendo que protejamos os nossos olhos com as mãos.— Isso é incrível! — exclama Angus, e eu concordo levemente encantado.Não tem som algum além dos pássaros e da movimentação da água. O ar está mais salgado e grudento, e o sol com certeza mais forte.— Será que eles passaram por aqui? — questiono. Angus tira os cabelos da testa e nega.— Não, Heather disse que iriam para o lado oposto, para mais perto da avenida.— Não vamos nos perder não, né Angus? — observo seu rosto receoso.— Não, tenho todo o caminho decorado &m
— Olha onde você nos meteu, Angus — não faltam mais do que duas horas para o sol ir embora e mal sabemos onde era o lago.— Não me irrite Hector, estou tentando descobrir.Meus olhos se mexem outra vez para cima, e, desta vez, vejo nuvens escuras tampando o sol suavemente. Como se estivesse avisando que uma tempestade virá.— Antes de sair de casa, vi que a tempestade durará uma semana — comento. Angus não diz nada por um momento, mas logo para e se vira.— Amanhã de noite o ônibus sai ao meio-dia. Eles irão revirar essa mata atrás da gente mesmo se não conseguirmos achar o caminho de volta.— Eu sei, mas logo irá chover e escurecer. Onde ficaremos?— Embaixo de uma árvore ou caverna, se tiver. Você é o adulto aqui, não eu Hector.— Mas foi você que meteu a gente nessa