Murmúrios começam do lado de fora da enfermaria. Heather fica em alerta, até mesmo levanta o rosto e se ajeita na cadeira. Eu também tento fazer o mesmo, mas quando mexo uma perna, sinto uma aflitante cãibra subir desde de a ponto dos meus dedos até o joelho. Puxo a perna um pouco para o lado e fico mexendo os dedos do pé dentro do tênis, sentindo a dor amenizar aos poucos. É um ótimo momento para ter cãibra. É um ótimo momento para muitas coisas.
A porta ao lado de Heather, é empurrada com tanta força que até mesmo a enfermeira se assusta. Romy, Eltery, Dra. Else e mais um garoto entram na sala desesperados. Eltery está pressionando o nariz e um pouco tonto, sangue escorre pela a mão que está pressionando, e gotas vermelhas atingem o chão da enfermaria. A primeira pess
Não estou mais esperando a porta da sala de exames ser aberta, agora estou esperando e torcendo, para que uma certa porta nunca se abra. E se abrir, que a pessoa além dela tenha tido um infarto.Minha mãe sempre dizia que desejar o mal para pessoas que vão te foder era melhor do que desejar o bem. Jesus discordaria disso com certeza e, ainda, citaria aquela frase sadomasoquista: se esbofetearem seu rosto, ofereça o outro lado. Quem iria oferecer o outro lado da face para ser esbofeteado? Sadomasoquistas? Sim.“Quando um cristão oferecer um lado da face para você esbofetear, esbofetei é com bastante força,” ela dizia com um cigarro entre os dedos e olhando para a rua da nossa casa em Prince Albert.Os cabelos dela eram cacheados e caíam pela jaqueta de couro preto. Ela não usava mais aliança e nem vestidos, a maquiagem se tornou escura. Antes, sempre parecer
Depois de deixarmos a diretoria, descemos a quantidade desesperadora de degraus. A diretoria fica no oitavo andar, para chegarmos a ela, usamos o elevador de deficientes. Mas para irmos embora, vamos de escadas.Às vezes o internato parece ter mais escadas e salas do que alunos. E é só nas aulas ou intervalos que encontro uma boa concentração de pessoas, no entanto, a maioria do tempo só cruzo com uma ou duas pessoas no corredor.Todo o mês chegam ao menos cinco ou dez alunos e, mesmo assim, ainda há dormitórios vazios que não recebem alguém já há tempos. Eu e Hector costumávamos transar em um desses dormitórios vagos, quando não podíamos fazer isso no meu dormitório.Quando escolhemos o cômodo ideal para ficarmos, bem longe de câmeras ou fofoqueiros, encontramos ele tão sujo que as teias de aranha se dissolv
No caminho para o banheiro, acabo esbarrando em duas pessoas ao mesmo tempo. Peço desculpas a uma delas, mas a outra não tenho paciência de pedir e só continuo o caminho. Ao entrar no corredor do banheiro, percebo Hector encostado em uma parede. Ele abre um sorriso acenando para uma porta e depois some por onde estava indicando.O que ele está pretendendo?Acelero os passos até atingir o local que ele entrou. O cheiro de mijo com sujeira faz eu mexer o nariz. Entro e bato à porta, deslizando o dedo pela maçaneta.— O que você quer? — me adianto logo. Hector está apoiado em uma das pias ajeitando os cabelos no espelho. Os músculos de suas costas estão marcados na camiseta branca listrada. Ele usa uma calça caqui apertada que combina com o tom dos sapatos. Essa é a roupa que com certeza mais me deixa excitado por ele. Para de pensar com o pau, Angus.
Após deixar Hector, caminho de volta para dentro do teatro. Agora o lugar está bem mais cheio que antes. Feller já deve ter chegado. Observando pela porta do teatro, vou fazendo uma busca por alguma coisa loira demais. Meus olhos vão passando até chegarem no monitor descendo as escadas.— Ei! Por que demorou tanto? — ele salta dois degraus e consegue facilitar para chegar a mim.— Eu acabei tendo um imprevisto no caminho — minto.— Tudo bem, venha logo que a apresentação já vai começar.— Mas eu ainda não me despedi dos meus amigos.— Você faz isso no caminho, agora venha logo — não questiono-o e começo a acompanhá-lo.O espaço na escada é minúsculo, só podendo passar uma pessoa de cada vez. Seguro o corrimão e ultrapasso as fileiras de assentos, tentando ava
Eu sei que o gato está com fome, mas eu preciso terminar de limpar atrás da geladeira de qualquer jeito ou não consigo ficar sossegado.Molho a escova mais uma vez e passo no restante da sujeira atrás da geladeira. O gato mia mais três vezes e eu me ergo do chão vencido pela insistência dele.Will vira a cabeça de lado e salta do balcão ao chão da cozinha e caminha rebolando até o pote de ração.— É, eu sei que é isso que você quer — falo com o gato que apenas solta um miado e se afasta do pote para eu pegar.O sábado de hoje está frio e silencioso, não tem carros passando na rua e ninguém caminhando pela calçada. Há uma suave neblina no meu quintal, mas não há nenhum sinal de neve. Falta poucas semanas para o inverno chegar. Este com certeza foi o verão
Gotas de chuva deslizam pela janela da sala de aula. Está escuro, a tempestade havia acabado com o gerador do internato, restando apenas as lanternas de emergência para iluminar.Enquanto espero a chuva passar, escrevo as próximas atividades que devo aplicar. Estou aliviado que as atividades sobre a mitologia tenham acabado. Já estava ficando difícil os sonhos com Akhlut e meus remédios para dormir passaram a acabar igual água.Uma pílula só não estava adiantando para eu conseguir dormir.No início, pensava que os sonhos com Akhlut eram mais leves que os do homem de mãos grandes, mas logo eles passaram a ser tão horríveis e grotescos quanto o do homem de mãos grandes.Os problemas para dormir pioraram gradativamente e cheguei a ter olheiras por ficar acordado na madrugada.Pelo menos havia Will para eu brincar enquanto tentava esquecer os pesadelos.Se trouxesse Angus para morar comigo, possivelmente ele me faria companhia nesses momen
A porta do térreo dá sinal de cansaço quando nossos ombros colidem pela sexta vez contra ela.— Falta pouco agora — diz Romy com a lanterna na mão enquanto eu e o outro professor se prepara para outra sequência de batidas de ombros.— De novo? — pergunto.— De novo — ele concorda.Suspiro. Estou odiando a água que circula pelas minhas canelas, só está me atrapalhando a conseguir arrombar essa porta para ver Angus.Voltamos a golpear a porta com os ombros. O ferro é martelado, junto dele acompanham-se nossas queixas de dor e os gritos de incentivo de Romy.A porta finalmente cede, o lado de fora é revelado a nós. E o tronco de árvore que estava emperrando a porta escorre pelo corredor sendo levado pela correnteza.— O térreo virou um rio — comenta o professor, ao meu lado, olhando a correnteza que domina o corredor.— Meu carro deve ter sido levado — diz Romy.— Será que conseguimos chegar do outro lado? — o profe
Retornamos para o subsolo completamente úmidos e fedendo a grama e barro.Uester apressa-se a ajudar as crianças a tirar as coisas dos dormitórios para levarmos elas aos andares superiores.Manco lentamente até onde Romy está com um garoto. Quando tinha chegado ao subsolo com Uester, a havia visto se abraçando com esse garoto. Aos olhos de algum monitor poderia com certeza não ser visto muito bem, mas estamos mais preocupados com outras coisas.— Romy — pronuncio me aproximando. Ela vira-se e o garoto afasta-se. Olho o garoto primeiro, relembrando dele sentado ao lado de Angus no teatro. Eltery. Agora sem o sangue na cara e sem uma parte ralada do rosto.— Sr. Bake, vi que voltou com o Sr. Jorryr. Falei que ele iria ficar bem.Graças a mim ele ficou bem, ou estaria ainda com a mão presa embaixo de um tronco esperando outra onda vim do rio.Ela real