Capítulo 04

Lucca

Hoje completam três dias desde a morte do Marco, e aqui estou, diante do doloroso cenário do funeral dele e de sua esposa. A sensação é estranha, como se o tempo estivesse passando devagar demais, mas ao mesmo tempo, tudo parece tão irreal. Eu não consigo deixar de sentir que é cedo demais para estar aqui, observando os caixões, mas a voz da sogra do Marco ressoa na minha mente, explicando que havia a necessidade de realizar um enterro conjunto, para a filha deles.

Ao escutar as palavras da sogra, começo a compreender a complexidade de suas relações familiares. Agora vejo por que o Marco não tinha uma opinião positiva sobre essa mulher. Não é difícil perceber que ela nunca se importou muito com ele. A forma como ela fala dele é carregada de desdém e desapego, como se ele fosse apenas uma figura distante em sua vida.

―Isso foi uma escolha dele, que resultou nisso tudo. Ele tomou decisões erradas, criou inimizades por causa desse trabalho e acabou arrastando a minha única filha… ―Suas palavras ressoam em meus ouvidos, e é impossível ignorar a amargura que permeia sua voz. As entrelinhas de suas palavras revelam uma mistura de ressentimento e tristeza, uma história de escolhas e consequências que agora culmina neste triste adeus.

Olho ao redor, vendo os rostos tristes e pesarosos dos presentes. Sinto um nó na garganta, uma mistura de tristeza e raiva. Raiva por não poder fazer nada para mudar o passado, para evitar essa tragédia. E tristeza por ver pessoas que amei e que partiram de maneira tão abrupta.

Mas a imagem da garota, Bella, a filha do Marco, continua a assombrar meus pensamentos. Seu sofrimento é palpável, afinal, ela perdeu ambos os pais de uma só vez. No entanto, não posso ignorar a verdade, por mais difícil que seja. Preciso enfrentar essa situação de frente, mesmo que isso signifique causar mais dor a ela. Afinal, a verdade não é um conforto imediato, mas um passo necessário em direção à justiça e à proteção dela. 

Decidi que é hora de revelar a verdade à Bella, mesmo que isso signifique abrir feridas ainda mais profundas. Não posso continuar a esconder o fato de que a morte de seus pais não foi um simples acidente de carro, mas sim um ato premeditado. E pior ainda, ela pode estar em perigo também. É um risco que preciso assumir para garantir a segurança dela.

Com o coração apertado, saio do salão da casa e começo a percorrer os outros cômodos, em busca de Bella. Cada passo que dou parece pesar mais, carregado com a responsabilidade de contar a ela a verdade que pode virar seu mundo de cabeça para baixo. É uma tarefa que não posso evitar, mesmo que parte de mim deseja protegê-la dessa dor.

Enquanto ando pelos corredores, meu coração acelera. Não sei como ela vai reagir a essa revelação. Não sei se estou preparado para enfrentar a torrente de emoções que virá a seguir. Mas sei que é a coisa certa a fazer. Eu devo a ela a verdade, não importa o quão difícil seja.

Finalmente, encontro Bella em um dos cômodos. Ela parece absorta em seus próprios pensamentos, e ao me ver, seus olhos se encontram com os meus, cheios de questionamentos e tristeza. Respirando fundo, reúno toda a coragem que posso e começo a falar, escolhendo minhas palavras com cuidado para que possa entender a gravidade da situação.

― Bella, eu sei que você está passando por um momento extremamente difícil, e a última coisa que quero é causar mais dor a você. Mas há algo que você precisa saber, algo doloroso e complicado… ― minha voz treme ligeiramente, mas eu mantenho o olhar firme, determinado a seguir adiante com a verdade. Respiro fundo e depois solto o ar pesadamente, quando ia falar sinto alguém puxando o meu braço. Dou de cara com a avó da Bella que está me fuzilando.

― O que o senhor pensa que está fazendo? ―Bella questiona, me puxando para um canto afastado da garota, onde podemos falar mais reservadamente. Seus olhos refletem confusão e preocupação, mas também vejo neles uma certa determinação.

― Porra, vou falar a verdade para ela. Como seus pais foram mortos e que ela corre perigo. ― eu respondo, minha voz um sussurro carregado de urgência. Sinto a tensão no ar enquanto tento explicar minha intenção. Puxo o meu braço, soltando-me do aperto da senhora que parece estar tentando me impedir.

― Perigo? Do que o senhor está falando?― Bella pergunta, a angústia em sua voz é palpável. Seus olhos fixam-se nos meus, buscando respostas que eu não gostaria de dar, mas sei que são necessárias.

Respirei fundo, preparando-me para revelar a verdade que mudará para sempre a sua visão do mundo. Olho nos olhos dela, buscando coragem na expressão determinada que encontro lá.

―Bella, eu sei que você está sofrendo, e o que vou dizer vai tornar tudo ainda mais difícil. Seus pais... eles não morreram em um acidente de carro. ― começo, minha voz hesitante enquanto escolho minhas palavras com cuidado. ―Eles foram assassinados.

― Os olhos de Bella se arregalaram, seu rosto empalidece diante das palavras duras que acabei de pronunciar. Posso ver a dor e o choque cruzarem suas feições, como se cada sílaba que saiu da minha boca a atingisse como um soco no estômago.

―Assassinados? ―ela repete, sua voz quase um sussurro incrédulo. ―Isso não pode ser verdade... você está mentindo.

Eu queria poder negar, queria poder dizer que tudo era um erro, que eu estava enganado. Mas não posso. Encaro Bella com sinceridade, sabendo que ela merece a verdade, não importa o quanto doa.

―Sinto muito, Bella. Eu não gostaria de ser quem te contar isso, mas você merece saber a verdade. E não é só isso... há um risco, alguém pode estar atrás de você também, ―explicando a segunda parte, meu tom é mais suave, carregado de preocupação genuína.

Bella me encara, seus olhos marejados enquanto ela processa o que acabei de dizer. Posso ver uma mistura de emoções passando por seu rosto: negação, tristeza, medo. É uma carga pesada para alguém tão jovem, e meu coração dói por ela.

― Por favor, Bella, eu sei que isso é muito para absorver. Mas você precisa estar alerta, ficar segura, ―peço, esperando que ela entenda a gravidade da situação e aceitar minha ajuda. No entanto, o que ela dirá a seguir é algo que não posso prever.

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