LuccaA noite estava escura, e a chuva caía com uma intensidade que quase tornava difícil enxergar à frente. As gotas pesadas batiam contra o para-brisa do carro, transformando a visão em um borrão de luzes e sombras. Desliguei o motor e fiquei por um momento em silêncio, tentando acalmar a tempestade que rugia dentro de mim, tão violenta quanto a que rugia lá fora. Eu precisava encontrar a Bella.Saí do carro, a chuva me atingindo como um soco frio. Cada passo que eu dava em direção à casa onde Marco, meu falecido amigo, havia morado, fazia a água encharcar minhas roupas e gelar minha pele. O vento soprava forte, jogando gotas de chuva no meu rosto, mas eu mal sentia. A preocupação com Bella era tudo o que importava. BellaO som da voz de Lucca atravessou a porta, um rugido cheio de urgência.— Bella, por favor! — Ele parecia desesperado, mas por quê? Meu coração começou a bater mais rápido, e a curiosidade quase me fez correr até a porta, mas eu resisti.Em vez disso, fui até a janela e, com cuidado, afastei a cortina só um pouco para espiar. Lá estava ele, exatamente como eu temia. Lucca estava completamente encharcado pela chuva torrencial que caía lá fora. Seus cabelos negros estavam grudados na testa, e suas roupas colavam ao corpo, delineando cada músculo. A visão dele assim, vulnerável e ainda tão imponente, fez meu coração vacilar.— Ele vai pegar uma gripe se ficar lá fora — pensei, mas sacudi a cabeça rapidamente, tentando afastar a preocupação que surgia. Eu ainda estava brava. Como ele pôde mentir para mim, esconder a verdade sobre a morte dos meus pais? Ele não merecia minha compaixão, muito menos minha ajuda.Recuei da janela, levando as mãos à cabeça e fechando os olhos com força.—Capítulo 37
LuccaEu estava paralisado, preso em uma espécie de limbo entre a incredulidade e a culpa. Bella continuava a me encarar, seus olhos queimando com uma intensidade que eu nunca tinha visto antes. Eu sabia que ela estava furiosa, e com razão. Mas ouvir aquelas palavras vindas dela, sentir a mágoa em sua voz... isso me deixou completamente sem açãoAntes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ela avançou na minha direção, o rosto dela era uma mistura de dor e raiva, cada passo seu parecia um ataque direto ao que restava da minha já frágil compostura.― Como você pôde, Lucca? Como você pôde me esconder algo assim? ― A voz dela estava quebrada, mas havia uma força implacável em cada palavra. Eu sentia o impacto de suas acusações como golpes físicos, cada uma perfurando mais fundo do que a anterior.Tentei balbuciar alguma defesa, algo para justificar meus atos, mas as palavras se negavam a sair. Não havia nada que eu pudesse dizer que apagasse a verdade que ela agora conhecia. Eu havia menti
Giovanni A noite estava no auge quando chegamos à Paradisco. A fachada da boate brilhava com luzes neon, atraindo uma clientela que buscava prazeres rápidos e sem compromisso. Essa é a essência do nosso negócio. Paradisco não é apenas uma boate qualquer; é um lugar onde os desejos mais obscuros e as vontades mais reprimidas encontram expressão. Aquele brilho intenso das luzes era o nosso convite, uma promessa de uma noite sem limites, onde o que acontece aqui fica aqui.Luigi e eu atravessamos o saguão lotado. O som da música pulsava nas paredes, uma batida que sincronizava com o ritmo do coração daqueles que vinham buscar diversão. As garotas de programa circulavam pela boate, cada uma delas treinada para ler os sinais dos clientes, para saber exatamente o que dizer e fazer para que saíssem dali satisfeitos. Não era apenas sobre o sexo, mas sobre a experiência, o jogo de poder e sedução que mantinha os clientes voltando noite após noite.O bar, situado no centro da boate, era outra
LuccaTentei abrir a boca para falar, para me explicar, mas Bella não me deu a chance. Antes que qualquer palavra pudesse sair, ela me cortou de novo, sua voz carregada de raiva e mágoa.— Para, Lucca! Não quero ouvir mais nada. — As palavras dela eram afiadas, cortantes, e cada uma delas acertava em cheio. — Essa sua proteção besta… Isso não faz sentido nenhum! Eu não sou mais a criança que você conheceu!As palavras dela ecoavam na minha mente como um trovão, cada uma delas ressoando com uma verdade amarga. Ela tinha razão, e eu sabia disso. Bella não era mais a garota inocente que eu conheci anos atrás, a quem eu queria proteger de todas as crueldades do mundo. Ela havia crescido, se tornado forte, capaz de enfrentar o que viesse. Mas, na minha cabeça, ainda a via como aquela menina que eu precisava cuidar, proteger de tudo e de todos.Eu queria argumentar, explicar que tudo o que fiz foi pensando no bem dela, mas as palavras se perderam no meio do caminho. Como eu poderia justific
BellaA presença de Lucca tão perto fazia minha mente girar e meu corpo tremer com uma mistura de desejo e nervosismo. A janela fria atrás de mim só intensificava a sensação de calor que emanava de nós dois. Ele estava tão próximo que eu podia sentir cada uma de suas respirações, cada movimento de seu peito subindo e descendo enquanto ele me olhava com uma intensidade que parecia atravessar minha alma.Eu queria dizer algo, qualquer coisa que quebrasse o feitiço, mas minhas palavras ficaram presas na garganta. Havia algo em seus olhos, algo que me prendia no lugar, incapaz de me mover, incapaz de pensar em qualquer coisa além de como seria sentir seus lábios nos meus, de como seria entregar-me completamente àquele momento. O magnetismo entre nós era avassalador, como uma força invisível que me empurrava em sua direção, me fazia desejar coisas que eu sabia que não deveria.Mas naquele instante, toda a razão desapareceu, substituída por uma necessidade primordial
LuccaBella estava ali, encurralada contra a janela, os olhos fixos nos meus, e eu não conseguia mais segurar. Aquele desejo contido, reprimido por tanto tempo, explodiu dentro de mim com uma força que eu não conseguia controlar. O jeito que ela me olhava, a respiração acelerada, o corpo dela tão perto do meu... Eu sabia que, se não a tomasse naquele momento, não teria outra chance. A tensão entre nós estava no limite, como uma corda prestes a arrebentar. E eu sabia que, assim que desse o primeiro passo, não haveria volta.Minhas mãos se moveram quase sem pensar, como se fossem guiadas por algo maior, algo inevitável. Agarrei a cintura de Bella com firmeza, puxando-a para perto, e senti o calor do corpo dela contra o meu. A maciez de sua pele através do tecido fino da blus
Bella — Eu estava em total choque. Eu simplesmente não conseguia acreditar nas palavras que acabara de ouvir. Meu coração estava apertado, era como se alguém estivesse esmagando-o com força contra o meu peito. Meus pais… mortos? Como isso era possível? Corri até a janela, olhando desesperadamente pela rua esperando vê-los chegando em segurança. Mas o que encontrei foi um cenário assustador. Haviam carros dos capangas do meu pai espalhados pela frente de nossa casa. Eu caí de joelhos no chão, procurando algum sinal de esperança nos olhos das pessoas presentes. Minha avó correu até mim e me abraçou, tentando me consolar. Suas palavras pareciam distantes e irrelevantes diante da tragédia que acabara de acontecer. Minha mente estava turva e atordoada. Minha realidade estava desmoronando completamente ao meu redor. Em um momento de puro desespero, me afastei dos braços da minha avó e gritei com todas as forças que tinha em mim: — NÃO! Meus pais não morreram! — As lágrimas teimosas cont