Estava aliviado por ter encontrado Sara em segurança. Apesar do que fizemos bem ali, no meio da floresta, por puro instinto, ela parecia fragilizada. Dei meu casaco para ela e caminhamos para fora da floresta, com o velho e o cachorro nos guiando. Paguei a recompensa e ele pareceu muito satisfeito.– Senhor, tome cuidado. Eu vi um lobo imenso lá na floresta. Ele parecia bem perigoso – comunicou Sara ao morador do chalé.– Eu sei quem é. Fique longe dessa gente! Se eu fosse vocês, iria embora agora mesmo. Eu farei o mesmo. Tchau – disse nervoso e saiu rápido, entrou em casa e trancou a porta com vários trincos.– Dessa gente? Que homem doido. Eu estava falando de bicho, não de gente – falou rindo.– Lobo, Sara? Por que não me disse nada? – questionei, sério.– Eu estava tão feliz por você ter me encontrado, que acabei esquecendo. Mas foi tão estranho. Quando você gritou meu nome, ele pareceu ter me indicado o caminho com a cabeça.– Ah, Sara... até parece que um animal selvagem teria a
Eu estava exausta. Não via a hora de ir para casa. Ainda bem que Theo me liberou no horário. Não estava pronta para começar a fazer hora extra ainda. Tinha desacostumado a trabalha em escritório. Amava o home office, mas eu precisava muito deste emprego se quisesse me livrar do agiota. Não aguentava mais tanta adrenalina. Os últimos dias, desde que conhecera Theo, tinham sido intensos. Cada hora uma confusão nova me perseguia.Consegui me livrar temporariamente dos questionamentos de Theo sobre minha briga com seu pai. Homens eram facilmente enganáveis, bastava oferecer um pouco de carícias que eles se esqueciam de todo o resto. Isso era excelente para meu plano. Até fiz questão de dormir de conchinha com ele, para que Theo tivesse o gostinho da minha presença diária em sua cama.Assim que saí do elevador, dei de cara com Brenda.– Amiga, que saudade!– Nossa, Sara! Não faz tanto tempo assim que não nos vemos.– Para mim, faz uma eternidade. Tanta coisa aconteceu nos últimos dias, ami
Fiquei completamente impactado com aquela cena. A menina no marketing estava estirada ao meu lado, inerte, ficando cada vez mais pálida, conforme o sangue ia saindo do seu corpo. Eu estava paralisado. Nunca tinha visto alguém morrer na minha frente. Ela só podia ter morrido. Tinha muito sangue no chão, e muito rápido. Mesmo que ainda estivesse viva, nem a polícia, nem a ambulância que acionei pareciam estar perto. Me esforcei para me mover e dei um passo em direção a ela. Chequei seu pulso mais de uma vez e nada. Seus olhos tinham até mesmo perdido o brilho. Estava morta.Meu coração disparou e perdi o ar, me senti zonzo. Precisei me sentar. A morte é um eterno lembrete de que estamos vivos apenas temporariamente. A qualquer momento, pode ser nossa vez. O engraçado é que nunca pensamos na morte, até que ela vem bater à nossa porta e nos relembrar o quanto a vi
A vida inteira fui boazinha e segui regras. E o que ganhei com isso? Perdi tudo e todos que eu amava. Mas essa versão da Sara boazinha morreu. Em seu lugar, agora nasce a Sara vingativa, que vai atrás de um por um daqueles que destruíram minha vida. E ainda vou recuperar tudo o que seria meu por direito, centavo por centavo. Chega de chorar. Lágrimas não iriam trazer minha família de volta. Agora seria apenas eu contra o mundo.Steve me tirou dos meus pensamentos com seus lamentos de “por favor, não me mate”, “eu sou muito jovem para morrer”... O cara era um frouxo. Como podia se sentir tão corajoso para encurralar mulheres e as assediar? Devia se sentir poderoso quando alguma de suas vítimas ficava com medo e se calava. Queria ver ele ser corajoso agora.A noite estava escura. Eu precisaria pensar bem no que eu ia fazer para não deixar vestígios. Sabia de um lugar onde
A polícia chegou e, junto com ela, vinha Jack, meu amigo policial. Olhou para mim e depois para a cena do assassinato. O cabelo de Brenda parecia ainda mais escuro com tamanha palidez de sua pele agora. David estava muito abalado. Eles vinham paquerando há pouco tempo, e ele tinha ficado bem interessado. Falou que essa era uma garota descente, para casar.Ele tinha posicionado as mãos de Brenda cruzadas sobre a barriga e ficou agachado ao seu lado, admirando-a. Vendo-os assim, parecia uma cena do filme da Branca de Neve que vira na infância. Ela adormecida, aguardando ser beijada por seu príncipe encantado para ser acordada novamente. Pobre Brenda, não acordaria mais. Pobre David, perdera a chance de encontrar alguém bacana para se casar.Jack e a perícia analisaram toda a cena e nos fizeram milhares de perguntas. Decidi combinar com David de mentir para livrar a barra de Sara.– Onde foram parar o ati
Cheguei na casa de Theo exausta, depois daquilo tudo. Nada parecia real. Parecia que eu tinha acabado de sair de uma sala de cinema e visto um filme de terror. Eu não conseguia sentir nada. Estava agindo completamente no automático. Tomei um banho caprichado para tirar qualquer vestígio daquele dia. Me esfreguei tanto com a esponja que feri a pele das minhas mãos. Me sentei embaixo do chuveiro, abracei minhas pernas e deixei a água lavar meu corpo e minha alma. Mesmo depois do banho, ainda me sentia suja. Peguei uma blusa de Theo para ficar mais confortável. O cheiro dele me acalmava.Eu precisava seguir com o meu plano, mas estava cada dia mais difícil ter que enganar Theo e manter segredos dele. Theo estava sempre disposto a me ajudar e me salvando de todas as encrencas em que eu me metia. Agora com a morte de Brenda, eu só tinha ele na minha vida.Ainda não conseguia sentir nada com relação
Gelei por dentro. Será que todos os esforços de Jack não serviram de nada e a polícia tinha vindo prender Sara? Não era possível.– Sim, sou eu – respondeu Sara.– A senhora precisa nos acompanhar até a delegacia.Vi o semblante de Sara mudar. Ela estava tão fragilizada e irritada momentos antes. Agora estava um poço de frieza novamente, com o rosto muito sério, sem expressar sentimento algum. Ela parecia duas em uma. E eu não gostava nem um pouco dessa Sara fria e objetiva.Pedimos um tempo para nos vestir e fomos para a delegacia. Cruzei com Jack e ele fez um gesto com a cabeça indicando para eu encontrá-lo do lado de fora da delegacia. O delegado levou Sara para uma sala de vidro bem pequena, toda bege, que tinha apenas uma mesa e uma cadeira de cada lado. Na lateral, encostado na parede, tinha um armário alto e cinza, de arquivos, feitos de metal. Sara me olhou uma última vez, com olhos inexpressivos. Eu esperava que ela ficasse bem até eu voltar.Encontrei Jack no pátio da delega
Quando acordei, Theo já tinha preparado nosso café da manhã. Estava animado e sorrindo. Já eu, me sentia inerte e de mau-humor. Até a alegria dele estava me incomodando.– Bom dia, Sara! Venha tomar café da manhã. Está tudo fresquinho.Só consegui acenar com a cabeça, concordando. O sorriso dele diminuiu. Acho que entendeu que eu precisava de menos alegria naquele momento. O que será que o tinha feito acordar assim?– Acordou animado assim para fechar o acordo e dar início ao aplicativo Vander?– Não! Tenho uma novidade para você. Não vá ficar brava, hein! – Fiquei brava na hora, pelo comentário. Ele fez algo mesmo imaginando que eu não fosse gostar, então já não estou gostando.– Fala logo.– Fiz um acordo com Antonio ontem e já paguei sua dívida com o agiota. Pedi também que ajeitassem seu apartamento para ele ficar perfeito de novo.– Você fez o quê? Eu disse que não queria você se metendo nos meus problemas!– Tarde demais, não acha? Estou sempre metido nos seus problemas, desde q