Capítulo 6

Ela ficou envergonhada com cara de boba, foi ao banheiro, quando voltou, ele estava sentado em sua mesa, mexendo no computador, a olhou sério

- Não vai continuar trabalhando aqui? É definitivo isso?

Ela se aproximou apreensiva, foi olhar a tela

- O senhor me demitiu, por ser um desastre, entre outras coisas.

- Não vou poder me enquadrar, na empresa, com tantas mudanças.

- Mais está tudo bem, eu não...

Se aproximou segurando a mão dele no mouse

- Não! É particular, só umas coisas minhas.

Ele tirou a mão do mouse

- Então, não deveria estar ouvindo audiolivro aqui, se é particular.

- Já sei o suficiente sobre você, para sermos íntimos.

Se levantou revirando as gavetas dela

- Caso não desista de sair, vai saber tudo sobre mim também.

- Não gosto de ficar pedindo ou me explicando, a minha secretária tem que estar sempre a dois passos de mim.

- A frente, para facilitar a minha vida no trabalho.

Ela estava séria cabisbaixa, o olhando mexer em tudo

- Não quero continuar aqui, presumo que não será um ambiente saudável.

- Pode por favor, me dar licença?

- Tenho entrevistas para fazer, e não se esqueça que o senhor, vai participar do processo seletivo final.

- Porque sozinha posso selecionar, alguém igual a mim.

Ele pegou uma caneta dela, diferenciada com um trevo de quatro folhas, foi se afastando

- Entendido Anira. Vou ficar com essa!

Completamente desanimada, voltou sentar, respirou fundo, se perguntou o que Deus queria lhe mostrar, com uma tormenta daquelas, no único lugar que lhe trazia felicidade real.

Voltou a trabalhar e começou fazer as entrevistas, em uma sala enorme, todas as candidatas estavam fazendo as provas, ela estava sentada perto da porta, as observando, quando ele chegou de surpresa, bateu na porta com aquele sorriso simpático

- Boa tarde, posso entrar?

Ela se levantou, sorriu sutilmente falando baixinho

- Não está na hora ainda, não te chamei.

Ele roubou todos os olhares e sorrisos das candidatas, que não puderam deixar de notar, o quanto ele era bonito.

Sorridente como se realmente fosse simpático, foi se apresentando, disse que estava a procura de uma nova secretária, porque Anira tinha outros planos pra si, pediu uma prova para fazer também.

Amira estava super irritada, sem conseguir disfarçar, deu nas mãos dele as folhas com má vontade, ele estava olhando as candidatas

- Me parece difícil, quando acabarmos, vamos ter uma conversa mais informal.

- Anira eu preciso de uma caneta, por favor.

Tirou a dela do bolso

- Ahhhh tenho uma aqui, não precisa.

Ela permaneceu séria, observando algumas meninas super interessadas na conversa dele, rindo, falando sobre a vida pessoal.

Ele nem acabou a prova, desistiu e começou fazer perguntas sobre elas, Amira foi pegando as provas de quem terminou e corrigindo, mais de uma hora depois, ele falou que estavam liberadas.

Amira acompanhou elas, que saíram falando mal dela, dizendo que com certeza ele gostava de secretárias mais bonitas e deram risada, a achando mal vestida.

Aqueles olhares críticos, ela conhecia muito bem, voltou para a sala chateada e pensativa, ele estava lá mexendo no celular, perguntou sem nem olhar pra ela

- Gostou delas? Alguma lhe chamou mais atenção?

Ela estava arrumando tudo, separando provas

- Com certeza, todas vão lhe agradar, são inteligentes, pro ativas.

- Vou terminar as minhas coisas, licença.

Saiu da sala as pressas, esqueceu o celular na cadeira, ele mandou mensagem para ela mesma, perguntando sobre a viagem, viu o celular e foi atrás, devolver, ela não estava na mesa, outra funcionária disse sem jeito que ela estava na sala das impressoras, ele perguntou onde ficava, a moça sorriu apreensiva

- A direita, no final do corredor. Mais, por favor não diga nada.

- Todo mundo sabe, mais ela deve achar que engana alguém.

- Toda vez que se fecha lá, é pra chorar, nos criamos até um código.

- Imprimindo lágrimas, não gostamos de incomodar os surtos dos colegas.

- Todos temos dias e dias, é completamente normal.

Ele ficou surpreso, agradeceu a informação e foi do mesmo jeito, bateu na porta, ela respondeu

- Estou usando! Tá ocupada.

Ele não disse nada, ficou esperando ao lado de fora, um colega mandou mensagem pra ela

" Sai daí o poderoso chefão está na porta "

Ele quem leu pela barra de notificação, não queria brigar com ela, porque estava com muita pena. Quando ela saiu vinte minutos depois, tomou um susto, nem disse nada foi passando cabisbaixa, ele a segurou pelo braço sutilmente

- Está tudo bem?

- Posso fazer alguma coisa por você?

Cheia de pressa, balançou a cabeça que não, ele precisou parar no caminho, para conversar com um funcionário, quando chegou na mesa dela, ela já havia saído.

Nem sentiu falta do celular, foi pegar o ônibus e só no caminho, percebeu que esqueceu no trabalho. Se fosse em outra época, voltaria pegar, mais naquele dia, não fez a menor questão!

Muito curioso e invasivo, Andrus começou pensar em tentar desbloquear, ficou olhando o papel de parede pensativo, dentro da capinha achou um cartão de banco, com o sobrenome diferente, decidiu ir pesquisar as redes sociais do passado dela.

Encontrou o perfil em memória do Kadu, viu muitas fotos deles, passou horas vasculhando, ela postava semanalmente coisas a mais de um ano, sempre tristes ou apaixonadas.

Também achou o perfil real dela, onde não tinham pessoas do trabalho ou da cidade como amigos, percebeu que ela tinha poucos amigos, até a reportagem do acidente, ele achou na internet, onde soube que ela estava dirigindo.

Andrus era intenso e se obececava por coisas aleatórias, as vezes achava que sua cabeça funcionava em outra dimensão, contrária a da maioria das pessoas.

O que mais chamou atenção, foi encontrar ações judiciais envolvendo a família de Kadu e Amira, a processaram por causa do acidente, seguro de vida, até por causa do túmulo, quanto mais ele procurava, mais se impressionava com tudo.

No dia seguinte Amira chegou com o semblante cansado, estava de calça jeans, camisa social, um casaco fininho e sapatilha, cabelo preso e sem maquiagem alguma, ficou horas sentada na frente do computador pensando, quando Andrus chegou foi falar com ela, tirou o celular do bolso

- Olá, acho que isso é seu.

Ela pegou cabisbaixa

- Bom dia, obrigada.

- Preciso do seu endereço, para o motorista ir buscá-lo.

- É importante que vá hoje, para poder aproveitar o dia.

- Deixei na sua mesa, a pasta com tudo o que precisa, a apresentação está em dois pen drives diferentes, para não ter erro e também, no seu email.

Ele ficou encarando fixamente reparando nela, interrompeu

- Pode vir a minha sala?

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