— Eu sinto muito Amália, mas não há mais espaço para você aqui!
A diretora falou, com sua cara de dó, mas a jovem sabia que era apenas um pequeno teatro da mulher.
— Entendo! — Respondeu com suas feições neutras — Eu entendo perfeitamente, senhora.
— Que bom, querida, afinal você já fez dezoito anos está na hora de dá espaço para outras crianças, que precisam mais que você, no momento.
Nesses oitos anos que se passaram ninguém se interessou por Amália. A menina que era feia se tornou uma bela mulher, mas para ela já era tarde, se antes não a queriam por sua falta de beleza, agora a rejeitavam por ser muito velha.
— Como eu disse a senhora, entendo perfeitamente.
Não precisa jogar na cara, sua velha chata. Pensou, ainda com o olhar compreensivo na face.
Ela berrou em sua mente, mas o seu desejo era esbravejar na cara da dissimulada. No entanto, ela é muito educada, para fazer algo do tipo.
A diretora interrompeu os pensamentos da garota, com um sorriso forçado, pois não queria que saísse falando mal do estabelecimento que ela cuidava há bastante tempo, com muito carinho. Ela pensava enquanto entregava um envelope para Amália.
— Olha temos um dinheiro que pode ajudá-la até que encontre um emprego.
A diretora disse lhe entregando o envelope, branco, sem nenhum atrativo. Ela aceitou de bom grado, já que não é orgulhosa e sabe que precisa e muito.
Saiu do orfanato sem se despedir, pois não tinha ninguém que gostasse dela. As crianças que a jovem cuidava foram todas adotadas, apenas ela ficou.
Assim que saiu respirou fundo, para pedir coragem, e por fim, lembrou-se do envelope e olhou o seu conteúdo.
— Novecentos reais! Como vou sobreviver com isso? — Se perguntou preocupada.
Andando pela cidade ela conheceu alguns lugares legais, que nunca havia pisado. Encontrou algumas pessoas legais e outras nem tanto.
Ela saiu do centro de São Paulo e foi parar em Campinas, que é um município no interior do estado, localizado na Região Sudeste do país.
Tudo era novo, diferente para ela.
Com o dinheiro que recebeu, alugou um quartinho em uma pensão, infelizmente só dava para duas estadias. No mesmo dia ela pensou que precisava de dinheiro ou teria que dormir na rua.
Amália virou a cidade de cabeça pra baixo ou pra cima e não encontrou nada. Ninguém queria lhe dar um trabalho e os que queriam, só pensava em ter algo a mais.
As mulheres a olhavam torto e só faltavam pisar nela, mas a moça não tinha culpa se os maridos delas lhe olhavam maliciosamente. Para a garota era horrível e nojenta a forma lasciva que a fitavam, entretanto, não podia fazer nada, apenas ignorar com maestria.
Como poderia ter essa reviravolta em sua vida?...Pensou contrariada.
A reflexão veio, porque antes as pessoas não a queriam por causa da sua pouca beleza, agora não a querem porque é bonita.
Antigamente quando era jovem ela tinha os cabelos lisos, mas em um rompante de raiva raspou seus cabelos e quando cresceram novamente, não cresceram iguais. Eles se desenvolveram em cachos definidos. Os seus cabelos criaram um volume de dar inveja, e com isso Amália se sentiu a adolescente mais feliz do mundo.
Não foi apenas por se sentir uma garota bonita, mas por saber que as pessoas não a fitariam com desprezo.
Entretanto, não foi como ela imaginava. Os olhares continuaram, só mudou o motivo.
Passou-se uma semana, de sua liberdade forçada, e ela já estava na rua, sem ter para onde ir.
A jovem procurava um lugar que fosse mais protegido, pois o seu medo de ser abusada ou algo pior era latente.
Amália quando queria tomar banho pedia a senhorinha, dona da pensão na qual se hospedou no início, que apesar de não lhe dar um teto, pelo menos a deixava tomar um banho, e por este gesto já era grata.
Ela entrou no ônibus para pedir dinheiro, para comprar uma guia, e infelizmente foi hostilizada.
— Em vez de trabalhar, esses sem noção.
Ela ouviu uma mulher gritar, só que a mesma não ligou, afinal quem sabe da sua dor, é quem geme e, a melhor resposta, é aquela que não se dá. Pelo menos foi o que a vida lhe ensinou.
No ônibus, alguns ajudavam outros não, mas ela fazia questão de agradecer a todos e quando foi recolher o último dinheiro a senhora segurou em sua mão, e olhou em seus olhos.
— Para quê você quer dinheiro menina?
Amália achou justo que a senhora perguntasse.
— Comprar uma guia para trabalhar!
A mulher olhou intrigada para a jovem sem, entender o porquê da necessidade que sentiu de saber mais sobre ela, e o que faria com o dinheiro que estava recolhendo.
— Como se chama querida e quantos anos têm? — A desconhecida, continuou com seu interrogatório.
Olhando nos olhos da dona, ela sorriu educada.
— Me chamo Amália senhora e tenho dezoito anos.
—Tão novinha..— A senhora disse, em um tom pesaroso..
— É, mas a necessidade falou primeiro.— A jovem disse, sem querer soar desrespeitosa — Corremos atrás ou morremos de fome.
— Sente-se ao meu lado e conte-me um pouco sobre você.
Agora, a garota achou estranha a atitude da desconhecida .
— Não perca o seu tempo minha senhora, provavelmente ela quer dinheiro para comprar drogas. Deve ser bom ganhar dinheiro no fácil.
A jovem abaixou a cabeça, tentando controlar a vontade de chorar, que veio forte.
Suspirou triste, por ter que lidar, com pessoas tão preconceituosas nesse mundo.
— Se a senhora acha que pedir dinheiro a estranhos é fácil deveria experimentar! Só uma pessoa que nunca passou por isso falaria uma coisa dessas.
A mulher que se intrometeu na conversa, quis rebater.
— Ah me... — Amália interrompeu, não dando a mínima ao que ela queria dizer. Infelizmente já estava saindo do sério, provavelmente pelo estresse e a fome.
Esses dois juntos, não são uma boa combinação.
— Não foi por falta de procurar trabalho senhora. Eu procurei e muito, só que ninguém quer me dar trabalho. — disse se levantando para encarar a mulher nos olhos. — Para ter uma idéia, até de mecânica, eu procurei só que nada. Não que eu lhe deva alguma explicação.
A senhora que foi cortês com Amália tocou no braço dela, em um pedido silencioso, para ela se acalmar.
— Quer que nós acreditemos que você queria trabalhar em um trabalho pesado desses, de mecânica? Melar suas mãos, sair toda suja de graxa?
— Mãos sujas dinheiro limpo. — Disse-lhe se aproximando com os braços cruzados — Caráter vem de berço e sujeira sai com água e sabão. Imagina se a senhora não tivesse seu trabalho e morasse na rua? Pare para pensar, apenas por uns minutinhos e se coloque no lugar do outro minha senhora, empatia é difícil, porém é necessária para haver uma sociedade civilizada.
Ela repetiu uma frase que viu em um jornal e a mulher se calou deixando a menina em paz.
A senhora, que Amália não sabia o nome, a chamou para descer na próxima estação e assim ela fez. Viu que havia algumas sacolas e quis ajudá-la a carregar
— Não leve tudo que as pessoas falam para o coração minha criança isso não faz bem a ninguém.
— Eu sei senhora, só estou cansada,as pessoas sempre falam do que não sabem, não medem o que dizem. — Expressou entristecida.
— Entendo isso como ninguém, mas nada de senhora. Pode me chamar de Lucinda.
— Tá bom Lucinda. Me perdoe pelo estresse de antes, poxa tem gente que é tão amarga , tão amarga que eu acho que na outra encarnação foi um pé de boldo. Só Jesus na causa!
A menina disse rindo, para a senhora que não é mais uma desconhecida.
Foi o seu primeiro sorriso sincero do dia, foi muito gratificante.
Lucinda gargalhou gostoso, chamando a atenção de algumas pessoas que passavam na rua.
— Menina você é uma graça!
Amália não sabia, mas a partir daquele momento cresceria uma linda e afetuosa amizade
Uma bala é para sempre. — Gideon pensava inconformado no enterro de seu pai.Ele escutou essa frase em algum filme ou série que passava em alguma plataforma de entretenimento.Experiente no assunto, o jovem sabe que uma bala pode matar de três formas distintas. A primeira é nas extremidades, sem uma artéria principal leva de dez a quinze minutos para o alvo morrer. A segunda forma é em qualquer lugar na caixa torácica, no centro do peito. A bala resvala, ossos são atingidos, o coração ou uma artéria são lacerados e a pressão sanguínea cai a zero. A última forma é a fatal, no centro do crânio, em qualquer ângulo. O cérebro morre antes mesmo de saber o que ouve.Ele sabe de tudo isso... Afinal fez parte de sua vida por uma fração de anos.Com apenas dezesseis anos entrou na universidade de direito, em Harvard, seu QI sempre foi elevado, por isso se destacou, se formando aos vinte anos, mas em vez de seguir carreira na profissão que escolheu,ingressou no corpo de fuzileiros dos EUA, opto
Talvez a mudança que eu tanto quero, esteja na atitude que não tomo. Gideon concluiu,enquanto o advogado falava um monte de asneira.Ele pensava nessa questão por sentir que estava na hora de trazer uma figura feminina para a sua vida e da sua filha.Minha pequena Sofia precisa de uma mãe. — Se atenha aos fatos Doutor Litti! — Inquiriu ao advogado de defesa. Não era a primeira e tão pouca a última vez que teria que chamar a atenção do bacharel que passava totalmente dos limites.O Lobo Negro está ao norte de Nevada. Foi chamado e está à frente de um caso de homicídio. O réu se chama Scott Ross e está sendo acusado de dois homicídios. Uma das vítimas foi encontrada em um depósito de lixo, a vários quilômetros do centro de Las Vegas, dentro de uma mala. Sendo denunciada pelo forte odor de podre que exalava. No seu interior estava o corpo mutilado de Jeremiah Flynn, homem de vinte e dois anos.O causídico apresentou a vítima como um traficante de drogas que estava tentando negociar m
— Infelizmente vossa excelência não se pode fazer mais nada. O câncer se espalhou, várias partes do corpo já estão tomadas pelas metástases.Para ele, tudo o que estava ouvindo era surreal. Não estava acontecendo. Um pai não enterra seu próprio filho. Isso não deveria acontecer.Ele pensava transtornado. — Você precisa fazer alguma coisa! — Esbravejou fora de si. — Não há mais nada a ser feito meritíssimo. Nesses três anos Sofia já passou por dezessete ciclos de quimioterapia, ressecção do tumor, tratamento diário de radioterapia. Já fizemos todo o possível, ela está sofrendo, seu corpo está fraco. Nesse exato momento ela precisa do pai.Ele não podia aceitar. — Não, eu vou procurar outra opinião. — Disse desesperado, nem conseguia olhar nos olhos da sua mãe, e tão pouco ficar,no quarto e ver a sua filha definhando.Gideon saiu sem olhar para trás. — Vovó cadê o meu papai? — A pequena Sofia perguntou, com dificuldade.Mariana estava sem forças para fazer alguma coisa e se
Aprendam uma coisa! Não tenham dó dos outros, ninguém tem dó de você. Na primeira oportunidade que tiverem de te magoar o farão sem nenhuma cerimônia,sem nenhum receio. Dito e feito. Amália aprendeu isso na prática. Foram anos de puro sofrimento. Abandonada recém nascida pela mãe drogada na porta de um orfanato. Nunca foi adotada, mesmo a menina desejando muito ser a escolhida por uma das tantas famílias que passou pela casa de adoção. A verdade é que sempre fora desprezada pelas pessoas que vinham adotar uma criança.Ela não possuía uma boa aparência, no entanto isso nunca foi um critério para uma criança ter um lar. Pelo menos, é assim que deveria ser. Menina ousada e de bom coração. Assim ela se descrevia. Mesmo que tenha passado, pelos percalços da vida, nunca deixou de sonhar.Depois que conheceu Lucinda, sua vida mudou. A senhora a levou para o centro de São Paulo novamente, lhe deu um lar, alimentou e a vestiu. Deu-lhe um emprego e a colocou na melhor faculdade da cidade. —
Qualquer pessoa que lhe motive a ser melhor é alguém que vale a pena manter por perto.Foi o que Amália pensou antes de embarcar no avião. O friozinho na barriga era bem-vindo naquele momento. Seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar.Pensara que havia chorado tudo, no entanto, estava redondamente enganada.A liberdade lhe fez prantear novamente.Foi meio complicado, não, na verdade foi muito difícil despistar os seguranças de Jonas, eles são osso duro de roer. Ela aproveitou a oportunidade que criou, dizendo que ia ao banheiro e saiu pelas portas dos fundos da clínica.Graças a Deus que Jonas é bem paranóico com exames... Pensou com um sorriso tímido.Ele cuidava muito dos exames ginecológicos dela, não queria que nenhum infortúnio viesse e também, ele dizia para não pegar nenhuma doença.Agora como? Se eu me deito apenas com ele, ainda forçada.Amália desceu do avião com seu coração na mão. Estava assustada, de está em um lugar desconhecido. Ela nunca havia viajado na vida para f
As mulheres na sala ficaram assustadas. Ninguém nunca ousou falar desse jeito com Gideon, pelo menos, não depois do que aconteceu.— Em primeiro lugar, eu falo como eu quiser e em segundo: Quem é você? — Gideon perguntou ameaçador.Amália pensou em recuar, porém não fez. Sabia que poderia sair machucada, por peitar um homem, e ainda mais, por ser quase o dobro de seu tamanho.Já Russell achou o cúmulo, uma desconhecida, falar dessa maneira com ele. — Eu sou Amália... — Tentou se apresentar, mas foi interrompida. — Não me importo sua estúpida. Não se meta onde não é chamada.Mariana percebeu que a situação estava ficando muito feia, então resolveu tomar a frente. — Calma meu filho... Ela não fez por mal... Amália este é meu filho Gideon, ele é o seu chefe.Ela arregalou seus olhos, não acreditando, que havia estragado com a sua chance de um emprego na cidade.Por outro lado, Gideon não esboçou nada, mas no seu íntimo estava inquieto. Depois que a raiva passou, analisou melhor
Amália não é uma mulher fácil. É teimosa, em certas ocasiões, impulsiva, meio doida e também, às vezes a paciência fica no nível zero. Eu disse às vezes, não é sempre. No entanto, mesmo com todos esses defeitos, é uma mulher leal, forte e autêntica.Ela sabe que não será fácil trabalhar para o grande juiz Gideon Russell. Como estava muito curiosa sobre ele, resolveu pesquisar na internet. E descobriu que, no meio jurídico, o homem é conhecido como, Lobo Negro.A curiosidade em saber, do por que desse nome, está sendo gritante em sua mente...A casa que ele lhe forneceu tem tudo de que precisa inclusive um notebook, então não perdeu tempo.Pensar que o seu querido chefe pode ter vários inimigos lhe deixou um pouco inquieta. E se Jonas a encontrar? O que será que vai acontecer? Ela não gostava nem de pensar, sobre isso. Ela não suportaria se algo o acontecesse por sua causa.A mesma está na cozinha da mansão preparando o café dele, olhou em seu relógio de pulso e viu que ia dar seis
— Bom dia!Amália se assustou com a voz repentina, olhou para trás e deu de cara com o Kleber. — Bom dia moço! — Você está bem? — Claro. Por que a pergunta?Kléber riu, antes de responder. — Você está ofegante e vermelha. — Eu estou bem... Tome o seu café. — Falou entregando uma sacola que havia feito para o segurança, para que ele tomasse café depois que deixasse o seu patrão no fórum. — Agradeço Am. — Disponha meu caro.Kleber saiu ainda desconfiado do comportamento da sua nova amiga. Depois que ele saiu os demais seguranças chegaram para tomar seus cafés. — Bom dia Am!Caio e Pablo, falaram juntos. — Bom dia Caio e bom dia Pablo! — Ela disse sorrindo.Amália já havia se acostumado com o apelido que, carinhosamente, eles a haviam dado. Ela achou fofo. — Menina esse bolo está divino. — Caio disse com a boca cheia. — Pare de ser mal educado. — Amália rebateu gargalhando. — Desculpa linda. Não resistir!Eles ouviram uma buzina ao longe. — Devem se