Domingos se viu em cima de um chapadão, na beira de um precipício altíssimo. Sabia que podia voar, mas estava preso ao solo, atado por uma corrente que não deixava que ele saísse do chão. Embaixo se descortinava uma vista linda, um vale verdejante por onde corria um regato, cheio de cascatas que espraiavam suas espumas em um belo lago orlado de pedras.
Ele queria saltar para aquela paragem bonita, mas o doutor Túlio vinha com uma serra querendo amputar sua perna para livrá-lo da corrente, e ao mesmo tempo exibia uma muleta dizendo: “Ela é melhor do que a prótese final, pois você tem uma cardiopatia grave!”
Nesse momento, Mãe Amélia veio voando pelo penhasco e trazia Lúcia e Raquel pelas mãos. Achegando-se a ele, falou com sua voz desdentada: “Você não teve culpa! Sua vida ainda vai melhorar!”
Acordou banhado em suor, embora
Domingos passou aquela semana em repouso absoluto. Tomava as medicações e conversava bastante com Frederico. Eva veio visitá-lo algumas vezes e nessas visitas sempre trazia um agrado para o doente, fosse uma fruta, um doce, jornais e revistas... demonstrava um verdadeiro interesse pela saúde do amigo. Nessas visitas, Domingos ficava constrangido, pois assim que “descobriu” seu sentimento pela moça, ruborizava-se com frequência maior do que gostaria; estava sentindo-se tal e qual um adolescente tímido perante a presença do primeiro amor.Frederico conseguiu, após alguma insistência, convencê-lo a escrever para o irmão dando notícias e contando a verdade sobre sua saúde atual. Segundo o médico, que também já tivera experiências com este tipo de comportamento na juventude, não temos o direito de deixar aqueles que nos amam e aos quais n&oac
Eva estava sentada na varanda da Pousada desfrutando de alguns instantes de descanso após o almoço. Mantinha-se relaxada e seu olhar permanecia fixo em algum ponto distante, mas apenas olhando sem ver nada especificamente. Nesses momentos de meditação por contemplação o eu interior e secreto aflora e fica sensível aos apelos do espírito; é o devaneio, o prelúdio do sonho que percebe as intuições d’O Todo.Vera aproximou-se com seu passo curtinho devido à idade arrastando as chinelas; vinha com um trabalho de tricô inacabado e enrolado nas mãos com a intenção de continuá-lo sentadinha ali naquele recanto agradável.Era uma velhinha simpática! Seus olhos de um azul profundo, marca da sua descendência suíça, contrastavam com a alvura do cabelo preso em um coque atrás da nuca. Os óculos sem aro fi
Primavera na Serra!Foi-se julho e veio agosto. Foi-se agosto. Setembro trouxe miríades de flores, amarelas, azuis, vermelhas... Flores que pintam os chapadões, os vales e as grotas. Que enfeitam as margens dos ribeiros. Que enchem o ar de borboletas, colibris e insetos que chegam sôfregos para sorver o néctar de suas corolas.Ah, primavera! Rainha das estações, inspiração dos poetas... na mata ou no cerrado, uma festa de alegria se espalha na natureza!Toda a fauna típica sai das tocas em busca de um instante mágico de amor que lhes garanta a perpetuação da espécie; a onça temível, o guará arredio, o bugio curioso, o gavião atento, o coelho arisco, o roedor medroso... e os pássaros? Que maravilha quando voam exibindo suas vestimentas coloridas para chamar a atenção. Os pica-paus com seus penachos vermelhos, os canário
Quando os dias passaram a ficar mais quentes e mais longos, a afluência turística em São João Batista do Glória aumentou consideravelmente. Com isso, a Pousada do Monjolo estava sempre cheia e a azáfama para atender aos hóspedes que vinham em busca de descanso ou aventuras redobrava.Nessa época Eva não tinha folga, correndo para providenciar compras para o restaurante, elaborar o cardápio, mandar a roupa suja para a lavanderia, atender aos hóspedes... Gumercindo e Valter ajudavam; e muito! Mas ainda assim era para a jovem dona que sobravam os trabalhos mais complicados e de maior responsabilidade.À noite, Eva estava cansadíssima e a única coisa que pedia para si era o descanso momentâneo do corpo que no dia seguinte deveria estar pronto, à primeira hora matinal, para servir o café no salão de refeições.Domingos, que estava
Domingos e Eva continuaram sentados na varanda aproveitando a pequena folga. Nos dias anteriores, o movimento tinha sido intenso. Nesse dia, a maioria dos hóspedes havia saído cedo em excursões ou visitas às belas cachoeiras e trilhas.Depois de alguns minutos de silêncio no qual cada um remoeu as palavras com as quais iniciaria a conversação, Domingos tomou a dianteira e falou:― Nossa última conversa longa e agradável foi antes do distúrbio que sofri... de lá para cá não temos tido muita oportunidade de conversar, não é mesmo?Eva abaixou os olhos e ficou calada. Depois levantou um pouquinho a cabeça e deu um sorriso tímido, olhando Domingos meio de lado. Com a voz bem baixinha sussurrou:― Não queria perturbá-lo! Vô Fred alertou que você precisava de muito repouso para poder se restabelecer. Ele falou que voc&e
O verão foi chegando! Com ele as férias escolares. A cidade encheu-se de turistas à procura dos seus belos e aprazíveis sítios; gente que vinha atrás de tranquilidade, de descanso. Chegavam aos montes, queriam conhecer tudo, como se fosse possível ver tanta beleza de uma só vez. Era gente que queria tomar banho nas cachoeiras deixando a água gelada escorrer pelo corpo; nadar nas piscinas naturais; caminhar pelas trilhas; fotografar paisagens da flora e da fauna do cerrado, das matas, dos altiplanos, da serra...Muitos procuram a natureza para desafiar os seus próprios limites praticando esportes radicais como o rapel, canyonning, mountain-byke, off-road e outras modalidades de ecoturismo e esportes de aventura. Outros vêm em busca de descanso e lazer, prontos para respirar o ar puro do campo, provar da culinária famosa, apreciar uma prosa ao pé do fog&
Sabendo do movimento que agitava a pousada no verão, Linda deixou a loja no centro da cidade, que apesar de estar em um momento de afluência devido à alta estação, poderia ficar a cargo do marido e das duas funcionárias, e foi ajudar na Pousada. Ela sabia que a filha ficava esgotada nessa época e precisava de um pouco de descanso para poder “recarregar as baterias”. Eva agradeceu o gesto da mãe e ambas passaram a dividir o serviço, sobrando um pouco mais de tempo para a moça.Era mês de dezembro e as festas de fim de ano se aproximavam trazendo a sua aura de magia e beleza. Frederico adorava a época de Natal e saía para comprar presentes que distribuía com gosto entre seus clientes e amigos. Eva havia montado uma grande Árvore de Natal na portaria e no salão das refeições construíra um belo presépio. Domingos preparou no computa
Frederico aproveitara o domingo para ir almoçar com Vicente e Vera. Linda se dispusera a preparar uma deliciosa lasanha para deleite do médico que adorava massas. Durante o almoço, o assunto versou sobre o piquenique que Eva e Domingos foram fazer em visita às cachoeiras.Linda achava que Eva e Domingos ainda não se conheciam direito:― Ele é quase dezessete anos mais velho do que Evinha! Um coroa já usado! Minha filha é jovem, precisa de jovens cheios de vida...Vera, que não era fácil e tinha um temperamento bem mordaz, comentou:―Tens razão, Linda! Eva precisa de um jovem. Exatamente como aquele que ela arranjou em Belo Horizonte...Linda fez uma careta azeda:― Lá vem você, mamãe! Para você está tudo sempre bem! Aposto que gosta desse velho que veio de outra cidade e que nem conhecemos.― Gosto mesmo. Ele é bonit&at