Quando Tank entrou, passou os olhos por cada parte daquele lugar, procurou por um vestígio, um cheiro, qualquer coisa que indicasse que Dállia tivesse passado por ali. Prendeu os olhos em Russo, o pai parecia hipnotizado, segurava uma faca pequena e cutucava a própria carne, o sangue escorria denso e pegajoso, mas ele não parava.Olhou novamente para o capo. — O que isso significa? Endi teria respondido, sentiria prazer em explicar que havia cuidadosamente implantado pequenas larvas carnívoras naquele corpo apodrecido. Achava interessante a própria arte, quase bonita. Gostava de fotografar as torturas que realizava naquele galpão. Havia uma gaveta cheia delas e naquele momento, sentiu vontade de poder fotografar, mas Russo ouviu a voz do filho e interrompeu os pensamentos de Endi. — FILHO! ME AJUDA AQUI, OLHA O QUE ELE FEZ COMIGO.Russo viu em Tank a única chance que tinha de escapar daquela dor infernal. Já tinha visto o filho lutar e sabia que se alguém podia vencer o capo em u
O elevador pareceu lento, olhou para os números que apareciam se arrastar no painel, sentia como se cada andar tivesse quilômetros, mas quando a porta se abriu, apesar da pressa, parou em frente a porta de madeira rústica com o coração disparado e o corpo inteiro tremendo. Bateu na porta, e quando as manchas de sangue tingiram a madeira, Tank tentou limpar o punho na calça. Quase como uma criança que fez algo errado. — DÁLLIA! ABRE MINHA FLOR. Chamou pela menina com a voz embargada, o coração dolorido, e um tipo de medo que o enfraqueceu pela primeira vez. Talvez aquilo fosse alguma armadilha, quem sabe Endi estivesse se divertindo com o desespero dele, o fazendo confessar o que sentia. Olhou em volta, talvez naquele momento o hacker da organização estivesse transmitindo cada um dos seus passos para todos no condomínio. Mas não era uma armadilha, Dállia só estava dormindo. Apagou afogada nas próprias lágrimas, exausta e certa de que havia perdido Tank para sempre. Se condenando
— Por que, Dállia? Você é tão linda. Podia ter o mundo inteiro se quisesse. É inteligente, sabe ler essas coisas de livros. Por que ele? Por que o meu pai? Tank pensava que se o homem a quem Dállia tivesse se vendido fosse qualquer outro ele poderia simplesmente matar o miserável. Tomar aquela menina para ele, ser feliz. Mas ela havia escolhido um homem da máfia, não qualquer homem, escolheu justamente o pai dele. Naquele dia ela abaixou a cabeça, se lembrou de como foi negociada na porta da favela. O traficante que havia ganhado legalmente a sua tutela depois de pagar um pequeno suborno ao juiz e ter a assinatura da sua tia em um papel a fez se vestir como uma prostituta e a arrastou para a entrada na comunidade em que moravam. A empurrou para Russo. — Toma, é sua! Russo lambeu seu rosto, apertou seus seios e perguntou para o traficante. — Virgem? — Nada, metade dos meus homens já enfiou a vara, mas é limpa. — Prenha? — Vacinada. — Ainda fica me devendo cinquentaO trafican
Ela se lembrava, não apenas de dormir no peito dele, mas também de como Tank se levantava com todo cuidado do mundo tentando não a acordar. Também só era inteira quando estavam juntos. Passou a mão no rosto do rapaz. — Vai me dizer o que fizeram com você? — Não aconteceu nada, eu achei que tivesse, achei que tivesse perdido tudo hoje. Mas eu não perdi, perdi, minha flor? Dállia negou com a cabeça, Tank não a perderia nunca e era uma pena que ele não soubesse disso. Foram juntos para o banheiro e o rapaz olhou para o lugar como quem julga tudo. — Como conseguiu tudo isso? Esse banheiro é maior do que o meu quarto. A menina não respondeu, continuou tirando a roupa de Tank, os olhos percorrendo cada um daqueles machucados, qualquer outro homem estaria em um hospital e não ali. Era isso que ela enxergava, dedicação, amor, cuidado. — Responde, Dállia! O que precisou fazer para conseguir esse quarto? Para ela a pergunta parecia uma acusação, mas para ele cada palavra doía como br
Tank olhou para aquelas malas, não reconhecia nenhuma, Mel havia comprado roupas novas para Dállia e ele não permitiria que ela usasse as roupas que Russo tinha dado a ela. Se abaixou em frente ao carrinho e vasculhou as malas, eram roupas masculinas, um kit de primeiros-socorros, alguns antibióticos, um celular que abriu com a digital dele. Na caixa havia dinheiro em espécie, não era muito, mas o bastante para o básico e uma carta. Se levantou e leu cada letra procurando pela armadilha. “Olá, Theodoro. Acho que nunca nos apresentamos como deveríamos. Peço desculpas por mim e por cada Foster antes de mim. Não deveria ter crescido sozinho, ninguém deveria. Nossa função não é o tráfico, nem os bares, muito menos os esquemas de tecnologia, nosso código nos diz que antes de tudo, nossas crianças são o futuro. E você foi uma criança que deveria ter sido protegida, falhamos, mas não se esqueça de que apesar disso, é um maggiore, você nasceu entre homens que vivem e morrem por uma lei,
Ele voltava, todos os dias, sem exceção. Saia fingindo ir aos treinamentos da organização, inventava alguma desculpa e corria de volta para ela. Sempre aparecia com alguma coisa, uma flor roubada, um chocolate, ou as caixas de morangos, mas ele sempre voltava. Agora, ele estava ali, parado na porta de um quarto de hotel que nenhum dos dois sabia quanto custava e muito menos quanto aquele sonho duraria. Se sentou em frente a menina e mostrou a caixa de primeiros socorros. — Me ajuda? A voz pareceu extremamente sexy e Dállia passou a língua nos lábios sem perceber o que estava fazendo. Ficou olhando para o rapaz, sentia como se aquilo fosse bom demais para ser real. Por que ele ainda a queria?E quando ele percebeu que a menina estava perdida nos próprios pensamentos, acabou se levantando. — Ok, faço sozinho. — NÃO! Dállia correu até o rapaz, pegou o kit das mãos masculinas, começou por elas. O fez se sentar e limpou cada um daqueles cortes, percebeu que eram mordidas. — Você
Tank olhou para Dállia assim que desligou o telefone, não foi fácil falar aquelas palavras para Louis, ainda assim, achava que era o mais certo, o mais coerente. Ninguém tinha culpa, ninguém além dele e Russo. Muitas vezes se pegou pensando que até mesmo aquele amor era culpa de Russo, não deveria ter se deixado levar, mas gostava de se justificar dizendo para si mesmo que se o pai não tivesse levado Dállia para casa, ele jamais teria se apaixonado. Nem mesmo a conheceria. O problema era que agora, olhando para aquele rosto ele pensava que a vida teria mesmo sido muito miserável se não tivesse conhecido aquela menina. Os soluços de Louis ainda ecoavam nos ouvidos de Tank quando ele tentou sorrir. — Pronto, sou um homem livre. Todo mordido por cães assassinos, mas livre. Casa comigo, minha flor? Dállia nem teve tempo de responder e ele se justificou. — Também não sou homem para casar. Sou pobre, não enxergo de um olho, tenho uma irmã para sustentar e para piorar, tudo o que sei
Um raio de sol entrava por uma pequena fresta aberta da janela, a casa de madeira era escura e o cheiro estranho, mas o brilho que entrava potente a encantou. Partículas de poeira dançavam na luz enquanto o corpo de Dállia se movia com o impulso do corpo velho sobre o dela.Os sons eram estranhos, bizarros, mas ela se focou na luz, no tímido raio solar e na poeira dançante. Já estava acostumada com a dor, a maioria das vezes nem incomodava mais.Foi virada de bruços sobre a mesa, a toalha branca ficou enrolada sob o seu corpo, os movimentos continuaram, firmes, violentos e acompanhados daqueles ruídos animalescos.E foi exatamente nesse minuto que tudo mudou.Quando Dállia foi virada sobre a mesa ela lamentou que não pudesse mais olhar para a luz e foi na escuridão que seus olhos cruzaram com os de Tank pela primeira vez.Ele estava ali, parado, olhando para ela como se visse um animal ser abatido. Uma mistura de desprezo e pena que a fez fechar os olhos, segurou mais firme na borda d