Tróia
A cidade estava radiante com todos comemorando a partida dos gregos e pela primeira vez em tantos anos eu senti que as pessoas não me olhavam com ódio.
Como eu poderia culpa-las? Eu havia trazido a guerra a suas portas, a morte a suas famílias, encarei meu rosto no espelho por alguns minutos e finalmente resolvi colocar as jóias que Páris havia me enviado.Dispensei as servas para ficar sozinha enquanto me arrumava para a celebração no salão de festas.- A mulher mais bonita do mundo se observando no espelho.- a voz de Páris me interrompeu parado na porta do quarto, vestia roupas finas e caras e ostentava uma coroa de prata de príncipe, seu sorriso para mim fez meu coração derreter, seus olhos estavam felizes como eu nunca vi e por alguma senti vontade de chorar ao olhar para ele e não sabia se era de felicidade ou tristeza por tudo que o fiz passar ao longo dos anos e as pessoas que perdeu por mim.
TártaroEu estava descendo mais e mais naquela caverna profunda e gelada, a escuridão parecia querer me envolver de todas as formas possíveis, um lugar sem nenhuma alegria ou conforto.Meus pés depois do que pareceu horas atingiram o solo pedregoso e o cheiro daquele lugar me atingiu em seguida, cheiro de sangue, suor e outras coisas.Pensei em Perséfone nesse lugar monstruoso e escuro, esse cheiro a teria nauseado com toda a certeza.Pensar nela fez meu coração se apertar, pensar no que fiz.Eu havia feito uma promessa há muito tempo de nunca machuca-la novamente e não cumpri.Afastei esses pensamentos que de nada me ajudavam, tive uma razão para impedi-la de vir até aqui, Érebos estava ressurgindo eu não sabia como e nem desde quando mas o fato era que em algum lugar daqui ele estava totalmente consciente e provavelmente reunindo forças, será que seu objetivo era o mesmo ainda? Era claro que ele almejava vingança contra mim,
HécateEncarei o rosto cruel da deusa Athena, duro e frio sobre o elmo, seu olhar era de triunfo enquanto me encarava cuspir sangue de forma débil, eu estava derrotada por ela.Como iria proteger tróia estando tão incapaz?Ela sabia disso é claro ao me ferir de modo tão covarde e bruto.Me arrastei para longe pateticamente pelo chão, meu único pensamento era em como eu havia falhado.Porque não fiquei na cidade?- Desista Hécate, tróia está perdida.- exclamou a deusa.Será? Depois de todo esse tempo os troianos iriam cair? Eles eram ferozes e resistiram por anos a fio tudo para serem vencidos por um truque tão baixo como esse..Que honra tem nisso?Olhei para Athena ainda se deliciando como meu sofrimento e pensei que se eu conseguisse me desmaterializar para o mundo inferior poderia conseguir ajuda.Perséfone e Hades estariam lá e possivelmente e eu torcia para isso Hermes, eles ao meu lado seria
Hermes continuava caminhando cada vez mais devagar, eu o puxava todas as vezes o obrigando a caminhar ao meu lado até me dar conta de que o caminho de volta parecia por algum motivo desconhecido ter se alongado.Há quanto tempo estávamos caminhando por esse mesmo túnel? Tinha algo errado.Não levei tanto tempo assim para atravessar todo o túnel inclusive chegar na bifurcação.E afinal onde estava a bifurcação? Já devíamos ter chegado nela.Parei por um momento iluminando o túnel com o garfo, apertei-o e o brilho se intensificou mais até chegar há vários metros a frente.O túnel parecia não ter fim.Não...estava errado.Ele não era tão longo assim, onde estava a bifurcação?- É ela, está brincando com nossas mentes.- murmurou Hermes de repente, olhei para ele encolhido na parede como um covarde.Senti nojo de sua covardia mas prestei atenção em suas palavras.- Ela quem? Pensei que Érebos
Naquele quarto parada observando Perséfone percebi o quanto tudo estava errado, era um verdadeiro desastre.Senti uma vontade terrível de chorar mas não fiz isso, me aproximei de sua cama e observei como seu rosto parecia tranquilo, sereno até.Estaria tendo sonhos bons?E o mais importante quando ela acordaria?Toquei sua mão e ela como o esperado caiu na cama completamente inerte.Ouvi os passos de Éaco atrás de mim.- Não há outros aliados de tróia? - perguntou com cautela.Me virei para ele e vi seus olhos preocupados.- Afrodite e Apolo estão aprisionados por Hera.- contei sem nenhuma emoção na voz, me sentia vazia e derrotada.Éaco colocou a mão delicadamente em meu ombro, parecia tentar me consolar, sua testa estava franzida e seus lábios se entreabriram e eu esperei que ele dissesse algo mas não disse, não imediatamente.- Não se pode salvar a todos, mas alguma coisa se p
TártaroAs três deusas me olharam com curiosidade.Hermes vomitou mais uma vez e eu me virei para ele saindo do meu torpor inicial me ajoelhando ao seu lado.- Hermes!- o chamei e ele continuou vomitando sangue.- Ele esta contaminado.- anunciou a mais velha se aproximando.- esse lugar faz isso com deuses, depois de um tempo aqui os adoece.- falou, sua era rouca e arrastada.Olhei as rusgas em seu rosto ancião.A mais jovem soltou os fios que segurava e se aproximou da anciã sussurrando algo em seu ouvido.A anciã assentiu e lentamente caminhou até nós.- Traga-o para cá Hades.- pediu ela e apontou para uma cama encostada na parede a alguns metros de onde estávamos.Levantei Hermes com cuidado, seus olhos estavam fechados e seu corpos todo molenga, rastros de sangue em seu rosto vindo d
Adentrei o salão com as palavras de Cassandra ainda ecoando em minha mente.Era como se ela soubesse de algo que estava prestes a acontecer.Aquela sensação ruim voltou com mais força e parei apoiada em uma coluna arfando sem ar.Era como se meu coração estivesse sendo comprimido, como se uma mão invisível estivesse em volta de minha garganta nesse momento e eu estivesse tentando respirar mas não conseguia.Fechei os olhos e lágrimas caíram sem que eu realmente entendesse o motivo disso.- Senhora? Está bem?- se aproximou um guarda preocupado, vendo que eu me apoiava na coluna é claro.Tentei respirar devagar sem querer causar uma cena desnecessária, hoje era uma noite feliz que há muito tempo não tínhamos.A partida dos gregos o fim de dez anos de guerra.Eu deveria estar feliz comemorando com meu marido, o homem que lutou toda uma guerra para estar comigo.Abri os olhos ciente d
Segurei Helena em meus braços completamente inconsciente.Seu rosto estava pálido e suas bochechas marcadas por lágrimas.Gritei por ajuda e todos ao redor se viraram para nós, os guardas se aproximaram e eu a ergui nos braços ao olhar de todos.Um grande murmúrio se iniciou e eu sai do salão ainda a segurando em meu colo.- Chamem uma curandeira!- gritei para os guardas que foram imediatamente atrás da curandeira do palácio.Segui com ela para nossos aposentos meu coração mal batia.Eu tremia enquanto a carregava.O que ela tinha? Parecia tão aterrorizada e agora eu estava aterrorizado com a possibilidade dela estar doente.Enquanto eu atravessava pelos corredores um murmúrio de vozes se iniciou.Vários guardas corriam pelos corredores se armando, seus olhares estavam assustados.Todos estavam completamente fora de si gritando a palavra gregos.Do outro corredor vi Heleno com cota de malha e segurando sua espada,
Encarei o semideus a minha frente ciente de sua habilidade muito superior a minha.Aquiles não era apenas um simples mortal nem um semideus qualquer.Me lembrei da profecia de sua mãe Tétis que ela daria a deusa um filho que poderia ser tão grande quanto o rei do Olimpo, Zeus para burlar a profecia entregou Tétis a um mortal para ser seu marido fazendo assim que Aquiles viesse ao mundo como um semideus e não um deus.Mas encarei-o agora diante de mim, os músculos de seu braço sem qualquer ferimento mesmo que eu tivesse tentado e muito, ele permanecia intacto.Seu olhar era tão feroz e confiante, ele não duvidava de si nenhum por um momento percebi, ele girou a espada perigosamente contra mim, só pude recuar para trás tentando desviar de seus golpes.- Acabe logo com isso!- exigiu Menelau e o som da sua me enfureceu, desejei imensamente te-lo matado quando tive a chance.