Nos olhos de Miguel, uma expressão de perda brilhou por um instante, mas ele ainda acenou com a cabeça, estendeu a mão e chamou um táxi para mim, abrindo a porta com um gesto gentil.O táxi seguiu seu caminho, mas o carro de Miguel permaneceu atrás, seguindo a distância exata, nem perto, nem longe.— Menina, brigou com o namorado, foi? — O motorista perguntou com um sorriso amistoso.— Esse seu namorado é bem compreensivo, não insistiu para você entrar no carro dele, e agora fica quietinho, só te seguindo, cuidando de você de longe. — O motorista falava mais do que eu esperava.Eu olhei para fora da janela, meu olhar perdido nas luzes da cidade.— Ele não é meu namorado.O motorista ficou visivelmente surpreso e então ficou em silêncio.Eu segui observando a paisagem da noite, mas, aos poucos, algo chamou minha atenção. No retrovisor, além do carro de Miguel, havia outro.Parecia ser o carro de George.As palavras de Sr. Soren sobre o noivado começaram a ecoar em minha mente.Senti com
A brisa da noite estava suave.A figura de George foi alongada pela luz dos postes, esticando-se até parecer que ele havia crescido, tornando-se mais alto do que quando estava ao meu lado.Fiquei ao seu lado, minha sombra se unindo à dele, como se nos fundíssemos em um único ser.Aquela cena fez meu coração apertar de uma forma dolorosa.A dor parecia me consumir, e até a respiração se tornava difícil, como se o peso em meu peito me sufocasse.A dor me fez pensar na sua superioridade, na união iminente com a família Furtado, e, por um momento, não pude evitar que as palavras saíssem ásperas:— O que o Sr. George queria me dizer?Ele não olhou para mim, seu olhar perdido na noite.— Você queria ver o jogo do Pedro, não é? Ele vai jogar na próxima semana. Pode ir, eu compro sua passagem.Senti meu coração se apertar. Dizer que era para eu assistir ao jogo? No fundo, ele só queria me mandar embora.Agora que ele vai se casar por aliança, está com medo de que minha presença aqui estrague s
Por amor, uma vez é suficiente para me rebaixar; não posso fazer isso novamente.— George, parece que você esqueceu, mas temos um rancor. Então, eu já deixei tudo para trás, não vou atrapalhar nada... quem você casar não é da minha conta e eu não vou me intrometer. Se quiser, posso até te mandar um presente de casamento.— George, você não precisa ter medo de mim. Eu não vou ficar te perseguindo. Eu, Carolina Pinto, ou não deixo alguém ir, ou, uma vez que deixo, nunca volto. Olhe para mim e para o Sebastião, fomos juntos por dez anos, mas quando decidi que não queria mais, não voltei. E você, que esteve comigo por apenas alguns meses, não merece nem uma comparação.— Além disso, seu pai é o assassino dos meus pais. O fato de eu não cobrar isso de você não significa que posso simplesmente ignorar o que aconteceu. Como poderia eu amar você e continuar ao seu lado? Isso me causaria pesadelos, e meus pais nunca me perdoariam por isso.— Ah, e a família Furtado... Eles também são meus inimi
— Cunhada, não imaginava que você também iria para Houston! — Benedita ainda me chamou de "Cunhada" com a mesma alegria de antes.Parece que ela não sabia nada sobre as informações sobre George na internet, mas eu sabia que ela viu tudo, só estava fingindo não saber e tratando de forma natural comigo.Ela e George são irmãos, mas são duas pessoas separadas. Meu ressentimento com George não deveria envolvê-la.— Da próxima vez, me chame pelo meu nome, não me chame mais de Cunhada, afinal... — Eu dei uma risadinha irônica. — Seu irmão vai se casar com outra pessoa.Minhas palavras fizeram o sorriso de Benedita congelar, e logo ela ficou com uma expressão de quem queria chorar.— Não. — Ela balançou a cabeça. — Você é a minha Cunhada, só você. Ninguém mais.Embora isso não tenha suavizado totalmente a minha dor, de alguma forma, as palavras dela trouxeram um pouco de consolo ao meu coração partido.Essa garota não me fez perder meu tempo com ela.— Cunhada, meu irmão ainda te ama, eu juro
Benedita assentiu e depois explicou:— Cunhada, eu também gosto de snooker. É engraçado, porque antes eu nunca tinha tido contato com esse esporte, mas não sei por que, agora eu simplesmente adoro. E tem mais... Eu percebi que, depois da cirurgia, até as coisas que eu gosto, meus gostos alimentares e até algumas opiniões e pensamentos mudaram completamente.— Cunhada, você acha que isso pode ser por causa do coração que eu recebi? Eu li em um livro que transplantes de órgãos podem trazer alguns hábitos e preferências do doador. — Benedita olhava para mim com um olhar esperançoso, esperando que eu lhe desse uma resposta.Na verdade, já vi isso na televisão. Embora a teoria médica diga que isso não acontece, muitos casos mostram o contrário. Não é só com transplante de coração, até com fígado, muitas pessoas que receberam esse órgão acabam desenvolvendo novos gostos alimentares, alguns até passam a gostar de comida picante depois do transplante, quando antes nunca gostavam.— Talvez. —
Ah?!Como assim?Eu nunca ouvi George mencionar nada sobre isso.Nesses meses que passei com ele, fora Benedita, ele quase nunca mencionou sua família ou seu passado.Eu achava que talvez fosse porque ele sentia vergonha de uma origem humilde, então nunca perguntei, com medo de ferir seu orgulho. Mas agora, sabendo quem ele realmente foi, talvez ele tivesse evitado o assunto por desconfiança.Só de pensar nisso, senti um aperto no peito.— Como ele se perdeu? Foi levado por traficantes de crianças? — Perguntei, em tom de brincadeira.— Foi pior que isso. Parece que ele foi sequestrado, mas meus pais proibiram que a gente falasse sobre isso. — Disse Benedita, me surpreendendo novamente.Ao mesmo tempo, fiquei confusa. — Sequestraram George? Mas ele já devia ser grandinho na época, né? Como ele pôde ser sequestrado?— Eu também não sei. Naquela época, meus pais falavam sobre isso às escondidas, e eu só descobri porque ouvi por acaso. Depois que encontraram George, eles o mandaram direto
— Carina, e Benedita? Aconteceu alguma coisa com ela? — Ele mudou para um tom mais baixo, com um leve pedido de ajuda.Meu coração apertou de novo, e o ouvi me chamar de "Carina" novamente foi algo raro.Nesse momento, a porta da sala de exames se abriu, e Benedita saiu. Eu passei o celular para ela. — É para você.Benedita, um pouco surpresa, pegou o celular e o colocou no ouvido. Eu me afastei um pouco, mas ainda podia ouvir a voz dela. — Eu estava com enjoos de viagem, e Carolina, preocupada, me trouxe ao hospital para fazer um exame... Está tudo bem, o médico disse que meu coração está bem, só preciso descansar um pouco e já passa.— Eu sei, com Carolina me cuidando, você ainda não fica tranquilo? George, só aceito a Carolina como minha cunhada. Se você tentar me arranjar outra, vou me opor completamente...As palavras de Benedita fizeram meu peito se apertar ainda mais, e eu só conseguia respirar com dificuldade, como um peixe sem oxigênio.— George, eu sei, pode ficar tranquilo,
Então, eu fui seguida o tempo todo.Mas o que ele queria ao me seguir? Retaliação?Apertei mais forte o celular na minha mão, os olhos fixos na tela, mas ele não enviou mais nada.Pensei por um momento e, depois de refletir, tirei um print da mensagem e enviei para George.Se Bruno estava atrás de mim, e agora e Benedita ainda estava comigo, qualquer coisa que acontecesse comigo, ela também poderia se meter em problemas.Eu precisava que George soubesse que eu estava em perigo. Mesmo que ele não quisesse me proteger, ele não podia ignorar Benedita.Nessa hora, eu ainda estava pensando em procurar ajuda com George. Talvez fosse por hábito, mas no fundo, talvez eu ainda confiasse apenas nele, mesmo que ele tivesse me abandonado.Assim que enviei a mensagem, meu celular tocou. Foi George ligando.Eu atendi diretamente, mas não falei nada. Foi ele quem quebrou o silêncio primeiro. — Você não precisa se preocupar. Vou arranjar alguém para te proteger em segredo.Ouvir essas palavras me aque