— Eu vou compensar pelo meu pai. — Disse George. Senti como se algo pesado tivesse pressionado meu coração. Olhei para ele. — George, então você está aceitando esse laudo como verdade? Você não estava investigando? O resultado da sua investigação é que foi o seu pai quem sabotou os freios e causou a morte dos meus pais? A verdade é que essa suspeita já existia há muito tempo. Ele mesmo havia me dito que investigaria e me daria uma resposta. Mas agora, sem nenhuma explicação, ele simplesmente aceitava um laudo que nem mesmo a polícia conseguiu concluir de forma definitiva. O que era isso? Descaso? Ou ele queria que eu o odiasse por causa do que o pai dele fez? George não olhou para mim. Ficou em silêncio. Lembrei-me da frieza com que ele havia rompido comigo. Meu peito se apertou, sufocado. — George, você já sabia desse resultado, não sabia? É por isso que usou o que aconteceu em Houston como desculpa para terminar comigo? — Não. — Respondeu ele, com firmeza. Meus ol
Dessa vez, eu não chorei. Parecia que todas as lágrimas que eu tinha já haviam secado. Ou talvez fosse algo dentro de mim que havia mudado. Aceitei com serenidade o fato de que eu e George seguiríamos caminhos diferentes.No caminho de volta, a chuva só aumentava, como se estivéssemos em plena temporada de chuvas.Não sei se foi por distração ou pelo asfalto escorregadio, mas, ao frear, meu carro derrapou e bateu no veículo à minha frente.A chuva estava tão intensa que nem eu nem o outro motorista conseguimos sair para verificar os danos. No fim, decidimos ambos permanecer nos carros e chamar a polícia.Quando a polícia e os representantes da seguradora chegaram, a chuva havia diminuído um pouco. Finalmente saímos dos carros, e, ao ver quem era o outro motorista, ficamos surpresas.— Se eu soubesse que era você, não teria chamado a polícia num dia de chuva como esse. — Disse Elisa, com um sorriso debochado, enquanto o jovem policial, que não devia ter mais de vinte anos, disfarçava o
Essa garotinha sabia muito bem como conquistar as pessoas. Peguei Talita no colo e a tirei do carro, colocando-a no veículo que Elisa havia chamado.No caminho, comprei um presente para Talita pelo celular. Mesmo sabendo que ela não precisava de nada, ainda assim quis demonstrar meu carinho.Elisa e Talita moravam em um dos condomínios mais luxuosos da Cidade A. Assim que entramos na casa, fiquei impressionada com a decoração: balões, brinquedos e guirlandas estavam espalhados por todos os lados.— Foi o Felipe quem mandou preparar tudo isso. — Explicou Elisa, enquanto me entregava um par de chinelos.Aquela atmosfera de celebração, toda a grandiosidade e o cuidado, me fizeram comentar:— Ele realmente ama muito a Talita.— Isso é certo. Mas o que ela precisa não é disso. E, além disso... — Elisa lançou um olhar para Talita e, aproximando-se de mim, sussurrou:— Agora que está maiorzinha, ela sente vergonha de sair com ele. As pessoas vivem dizendo que ele parece o avô dela.Felipe tin
Era ódio, repressão e algo prestes a explodir.Essa faceta de Elisa era algo que eu nunca tinha visto antes, e, por algum motivo, me senti nervosa.Engoli seco e, hesitante, perguntei:— Se você odeia tanto ele, e sabe de tudo o que ele fez, por que ainda...Não terminei a frase. Não sabia exatamente o que ela pensava, e preferi não arriscar. Pelo ódio que ela demonstrava, Elisa jamais deveria ter tido Talita. Um filho a amarrava ainda mais a Felipe, tirando qualquer chance de ela sair completamente dessa relação. Mas, ainda assim, ela escolheu ter a menina.— Você quer saber por que eu decidi ter a Talita, né? — Elisa, como se lesse minha mente, completou a minha pergunta.Assenti, olhando de relance para a direção de Talita.— Se vocês realmente romperem de vez, o que vai acontecer com ela? A culpa não é dela.— Você acha que eu quis ter essa criança? — Elisa levantou a cabeça e esvaziou a taça de vinho de um só gole.Ao vê-la engolir o vinho com uma expressão de dor, algo dentro de
Assim que comecei a perguntar, Elisa levantou a mão, me interrompendo, e apontou para Talita. — Essa menina tem muita sorte. Fiquei completamente confusa com o que ela disse, e Elisa percebeu. — Você está com cara de quem não entendeu nada, né? — Um pouco confusa, sim. Elisa sorriu, como se se divertisse com minha reação. — Felipe e a esposa sofreram um acidente de carro. Foi grave, quase fatal. Na época, Felipe quase não resistiu, e a esposa dele ficou em coma. Acho que foram dez dias, talvez quinze. Todo mundo achava que ela não ia sobreviver. Mas, de repente, ela acordou. — E o que aconteceu? — Perguntei, curiosa com o rumo da história. — Ela disse que, enquanto estava em coma, teve um sonho. Sonhou com uma menina, uma espécie de ajudante da Virgem Maria. A menina entregou a ela algo como uma pílula mágica e disse que aquilo salvaria sua vida. — Elisa balançou a cabeça, como se achasse a história tão absurda quanto eu. — Depois disso? — Minha curiosidade aumentava.
O acidente que ela mencionou... Não era o mesmo acidente dos meus pais? Então, o pai de George foi comprado?A revelação me deixou em choque. Um misto de surpresa e incredulidade tomou conta de mim.Eu reprimi o turbilhão de emoções e olhei para Elisa.— Quem disse isso? Há alguma prova?Ela, sem perceber minha mudança de humor, balançou a cabeça levemente.— Não sei. Só sei que as pessoas comentam. Sempre em segredo, claro. Todo mundo tem medo dele. Se Felipe descobrir quem espalhou isso, com certeza a pessoa não vai viver para contar.— Você pode investigar? Descobrir quem disse isso? — Perguntei, tentando parecer casual, mas minha voz saiu mais firme do que eu pretendia.Elisa parou, me observou com atenção e, dessa vez, percebeu algo diferente. Ela sorriu.— Por que você está tão interessada nisso?Minha boca se abriu, mas as palavras não saíram de imediato. Olhei para o rosto cansado dela e, depois de alguns segundos, decidi contar a verdade.— Porque o casal que morreu nesse acid
— Carolina, você pode vir à biblioteca? Preciso conversar com você. — Benedita perguntou, do outro lado da linha. — Que tal outro dia? Estou um pouco cansada hoje. — Recusei de imediato. Não estava com cabeça para nada. Benedita ficou em silêncio. Percebi que algo estava errado e não tive outra escolha senão perguntar: — É algo importante? — Sim, é muito importante. — Ela hesitou por um instante. — Carolina, se for mais fácil, eu posso ir até você. Ela claramente estava decidida a me ver. Talvez já soubesse sobre o que aconteceu entre mim e George e quisesse me aconselhar. — Benê... — Carolina, me manda o endereço. Eu pego um táxi e vou pra aí. — Enquanto falava, dava para ouvir o barulho de livros sendo guardados do outro lado da linha. Olhei pela janela. A chuva estava intensa, daquelas de encharcar qualquer um. Ela provavelmente teria dificuldade para conseguir um táxi e, mesmo que conseguisse, ainda correria o risco de se molhar. Benedita tinha feito um transplante
Os olhos de Benedita ficaram vermelhos de repente. Essa timidez constrangida dela era completamente diferente do meu jeito maduro de lidar com o amor.Com Sebastião ou George, meus sentimentos sempre foram diretos, tanto no amor quanto no ressentimento. Não havia espaço para essas idas e vindas, para esse jogo de “querer, mas não querer” que Benedita parecia estar vivendo.Olhando para seu semblante magoado, decidi perguntar, testando o terreno:— Ele disse algo que te machucou?Ela balançou a cabeça devagar.— Ele não me rejeitou, mas, depois que eu me confessei, ele nunca mais apareceu aqui.Isso também era uma forma de rejeição. Ficava claro que o coração de Vinicius ainda pertencia a Ivone.— Faz quantos dias? — Perguntei, enquanto meus dedos batiam levemente na mesa.— Três dias. — Benedita respondeu, e seus olhos começaram a se encher de lágrimas. — Eu me arrependi, Carolina. Me arrependi de ter me declarado.Franzi a testa.— Por quê? Você não tem certeza do que sente?— Não é i