— Quem estava batendo na porta agora? — Luana, provavelmente para não deixar eu ficar com o humor ruim, mudou de assunto.— A Lídia, ela tentou me convencer a fazer uma parceria na última vez, e agora veio para conversar de novo. Eu nem dei bola. — Eu abri a cortina e olhei para fora, onde estava começando a chover.— O filho dela vai poder sair do hospital em um mês, o desenvolvimento dele está ótimo, mas ela nunca foi visitá-lo. — Luana comentou sobre o bebê prematuro.Eu pensei na última vez que vi a criança.— Essa mulher só pensa em dinheiro. Se o Sebastião pegasse o bebê agora, ela com certeza ia colar se agarrar nele. — Eu falei, com desdém.— Ela veio falar de que tipo de parceria com você? — Luana me perguntou de repente.— Não sei, mas sei que não vai ser coisa boa. Mulheres como ela não são boas para se envolver, se não, é só dor de cabeça mais para frente. — Estou completamente lúcido.Luana também se levantou da cama.— Exato, o melhor é não se meter, mas já que ela quer f
— Lá fora está chovendo. O que você não pode dizer aqui? — Cátia resmungou, mas foi interrompida pelo olhar furioso de João.— Mãe, você não disse que ia fazer lasanha? Vou te ajudar. — Miguel, que estava em silêncio até aquele momento, interveio para aliviar a situação da mãe.Eu não disse nada, me levantei e segui Sebastião para fora.Ele estava me esperando na porta, com um guarda-chuva na mão.Para ser sincera, se ele queria me contar algo privado, qualquer cômodo dessa casa teria servido, não havia necessidade de sair com guarda-chuva.Mas ele provavelmente tinha seus motivos para agir assim, e eu não perguntei.— Está com frio? Quer que eu pegue uma blusa para você? — Sebastião perguntou, com um gesto gentil.Não posso negar que, desde que nos afastamos, ele parece mais atencioso, mais carinhoso.Mas já é tarde demais.— Não precisa. — Eu disse, pegando o guarda-chuva da mão dele e me afastando para a chuva.Sebastião não disse nada, me acompanhando na chuva.— Lembra da última v
Olhei para os sapatos de Sebastião, encharcados pela chuva.— E como foi que o George conseguiu isso?— Não sei, e ninguém sabe. — Respondeu Sebastião, ajustando o guarda-chuva e me encarando de canto.Fitei-o diretamente.— Então você acha que eu sei e quer arrancar alguma coisa de mim?— Você com certeza não sabe. — Disse Sebastião, sem recuar diante do meu olhar firme.Depois de dizer isso, desviou o olhar e continuou andando.— Ele está escondendo alguma coisa. E ouvi falar de um assunto...— Que assunto?— Saiu um boato de que o chefe do Clube Q foi atacado. Mas se é verdade ou não, eu não tenho ideia. — Disse ele, lançando uma informação vaga, mas suficiente para que eu entendesse o que ele queria insinuar.— Você acha que foi o George?Sebastião ficou em silêncio por dois segundos.— Acho... Mas, ao mesmo tempo, não parece possível. O Clube Q tem uma força enorme em Houston. O chefe deles... Não é só difícil de atacar, é difícil até de encontrar.Eu sabia que Sebastião só falava
Era uma ligação do Pablo.Ele já havia marcado de se encontrar comigo antes, e agora estava ligando. Parece que era para confirmar o encontro.Houve um tempo em que eu mal podia esperar para vê-lo. Queria saber a verdade sobre o acidente de carro dos meus pais. Mas, de uns tempos para cá, percebi que essa ideia me causava um certo medo, quase pavor.Era como aquele tipo de temor que sentimos ao nos aproximar demais da verdade.Olhei para Sebastião. Ele pareceu entender e se afastou alguns passos. Também me afastei um pouco antes de atender.— Sr. Pablo.— Pode se encontrar comigo agora? — A voz dele era direta, sem rodeios.Olhei para a cortina de chuva que não parava de engrossar. Não era, definitivamente, um bom dia para encontros.Mas ele tinha escolhido justamente hoje. Isso só podia ter um propósito. Respirei fundo antes de responder:— Tudo bem. O endereço?Cátia havia terminado de preparar o almoço, mas eu nem cheguei a comer. O olhar de desapontamento dela me fez sentir um peso
— Os que se foram já descansaram. Valorize o presente.Eu entendi o que ele queria dizer, mas isso só aumentou minha inquietação. Com certeza, o laudo sobre o acidente dos meus pais envolvia alguém que ainda estava vivo. Ele estava me alertando: não guarde rancor por quem está aqui, especialmente por aqueles que só querem o meu bem.— Sr. Pablo, eu entendo isso. E, nesses últimos tempos, refleti sobre muitas coisas. — Respondi, deixando clara a minha postura.Eu não estava tentando enganá-lo, muito menos apressá-lo para saber a verdade. Desde que encontrei aquele contrato no caderno do meu pai, passei por um turbilhão de dúvidas e suposições. Me consumi, lutei comigo mesma, mas acabei aceitando muitas coisas.— Parece que fazer você esperar todo esse tempo valeu a pena. — Disse ele, e com isso, eu entendi o motivo de, desde que entrou em contato comigo, ele me dar apenas pequenas informações, mas nunca uma resposta definitiva.Depois de dizer isso, ele colocou a outra mão no bolso e ti
— George!Chamei por ele enquanto estendi a mão, segurando seu braço.Ele olhou para mim, e eu olhei para ele. Meu olhar tremia, meus lábios mal conseguiam parar de tremer...Eu não disse nada, mas ele me entendeu. Quando minha garganta parecia prestes a explodir de tanto apertar, ele falou com a voz rouca:— Precisamos de uma resposta.Assim que terminou, afastou minha mão, pegou o envelope e o abriu. Seus movimentos foram rápidos, quase apressados, como se temesse que, caso demorasse um pouco mais, eu pudesse impedi-lo.O papel amarelado revelou algumas linhas escritas com clareza. Eu não olhei.George, no entanto, leu linha por linha, com atenção. Quando terminou, ergueu os olhos para Pablo, como se quisesse confirmar algo.— Eu sabia o que esse laudo significaria. Por isso, na época, solicitei que três oficinas independentes fizessem a mesma análise. Os resultados também estão dentro do envelope. — Disse Pablo.George abriu o envelope novamente.Cada folha tinha o mesmo tom amarela
— Eu vou compensar pelo meu pai. — Disse George. Senti como se algo pesado tivesse pressionado meu coração. Olhei para ele. — George, então você está aceitando esse laudo como verdade? Você não estava investigando? O resultado da sua investigação é que foi o seu pai quem sabotou os freios e causou a morte dos meus pais? A verdade é que essa suspeita já existia há muito tempo. Ele mesmo havia me dito que investigaria e me daria uma resposta. Mas agora, sem nenhuma explicação, ele simplesmente aceitava um laudo que nem mesmo a polícia conseguiu concluir de forma definitiva. O que era isso? Descaso? Ou ele queria que eu o odiasse por causa do que o pai dele fez? George não olhou para mim. Ficou em silêncio. Lembrei-me da frieza com que ele havia rompido comigo. Meu peito se apertou, sufocado. — George, você já sabia desse resultado, não sabia? É por isso que usou o que aconteceu em Houston como desculpa para terminar comigo? — Não. — Respondeu ele, com firmeza. Meus ol
Dessa vez, eu não chorei. Parecia que todas as lágrimas que eu tinha já haviam secado. Ou talvez fosse algo dentro de mim que havia mudado. Aceitei com serenidade o fato de que eu e George seguiríamos caminhos diferentes.No caminho de volta, a chuva só aumentava, como se estivéssemos em plena temporada de chuvas.Não sei se foi por distração ou pelo asfalto escorregadio, mas, ao frear, meu carro derrapou e bateu no veículo à minha frente.A chuva estava tão intensa que nem eu nem o outro motorista conseguimos sair para verificar os danos. No fim, decidimos ambos permanecer nos carros e chamar a polícia.Quando a polícia e os representantes da seguradora chegaram, a chuva havia diminuído um pouco. Finalmente saímos dos carros, e, ao ver quem era o outro motorista, ficamos surpresas.— Se eu soubesse que era você, não teria chamado a polícia num dia de chuva como esse. — Disse Elisa, com um sorriso debochado, enquanto o jovem policial, que não devia ter mais de vinte anos, disfarçava o