Naquele momento, Sebastião ficou me olhando, atônito. Depois de alguns segundos, ele se inclinou e me deu um beijo leve, quase como um toque de pena. Em seguida, passou a mão pelo meu cabelo e disse: — Garota boba. Naquela época, o céu estava como agora: prestes a clarear. Ele havia bebido demais e, em seu estado de euforia, me perguntou: — Quer subir comigo até o topo da montanha para ver o nascer do sol? Eu o conhecia bem. Quando ele bebia, ficava agitado, incapaz de dormir. Ele sempre dizia que, se dormisse bêbado, sentia o mundo girar ao ponto de enjoar. Por isso, muitas vezes, quando ele estava nesse estado, eu acabava dirigindo por horas, levando-o para dar voltas pela cidade ou até mais longe. Naquela noite, peguei o carro e o levei até o topo de uma montanha. Sentamos juntos em uma grande pedra. Ficamos ali, encostados um no outro, olhando as estrelas que ainda pontilhavam o céu antes do amanhecer, observando a escuridão da noite ser substituída pelas cores do nasce
Sebastião não disse mais nada, mas eu já tinha adivinhado. — A condição dela é se tornar a Sra. Martins?Ao ouvir isso, Sebastião ergueu os olhos para mim, parecendo surpreso com o fato de eu ter compreendido tudo com tanta precisão.— Você parece conhecê-la bem. — Disse ele, num tom carregado de sarcasmo, após uma breve pausa.Aquelas palavras não eram ofensivas, mas a ironia era clara.Lídia, a amante, a mulher que roubou meu noivo. Dizer que eu a conhecia era quase o mesmo que insinuar que eu tinha me dedicado a estudá-la, como se ela fosse um inimigo digno de atenção.— Você está enganado. Não é que eu a conheça, mas o que ela faz deixa bem claro quem ela é. A ganância dela por dinheiro e status não é difícil de perceber. — Respondi, e, assim que terminei de falar, o céu escuro clareou de repente.Sempre achei que o processo de anoitecer e amanhecer fosse um movimento lento e gradual, mas naquele momento percebi que, às vezes, tudo pode mudar num instante.— Sebastião, um parque d
Sebastião me olhava, como se ainda não entendesse. — Lídia foi só a última gota de água. — Falei com um sorriso. De repente, me veio à mente uma frase: “quando você consegue falar do passado com um sorriso, é porque finalmente superou.” — Carolina, eu não entendo. Envolver-me com Lídia foi um erro, eu admito, mas antes disso, eu fui bom para você. — Disse Sebastião, ainda parecendo incapaz de aceitar o fato de que nosso relacionamento já estava rachado há tempos. — Você foi bom pra mim, eu não nego. Mas o que dizer do que eu fiz por você? Você percebeu? Ou sequer viu? — Perguntei em voz baixa. Sebastião ficou me encarando, atônito, até abaixar a cabeça alguns segundos depois. — Foi meu erro, não soube valorizar você. Acabei te perdendo. — Agora não faz mais sentido falar disso, faz? Vamos voltar ao assunto: Lídia. O que você pretende? Quer ficar com ela, mas tem medo de que seus pais não aceitem? — Puxei o tema de volta para onde queria. — Ficar com ela? Você me acha id
A inauguração do parque e o trending topic sobre mim ficaram três dias no ar, mas logo a onda passou. Com a internet tão rápida como estava, todo dia aparecia uma nova história. Por melhor que fosse, qualquer assunto era substituído. Esses três dias foram o momento perfeito para Lídia contra-atacar, mas ela não fez nada. Sebastião tinha razão. Ela não teve coragem de divulgar o vídeo. Se fizesse isso, não ganharia nada. Toda a estratégia dela desmoronaria. Mas também não era do feitio de Lídia simplesmente desistir. Eu só não esperava que ela fosse apelar para a cena do "vou me jogar". Estava no quarto do hospital, conversando com João, quando uma das enfermeiras entrou comentando que alguém havia subido no terraço para pular. Só de ouvir, senti um arrepio subir pela espinha. — É uma grávida. Vai ver é mais um daqueles casos de depressão pós-parto. — Comentou a enfermeira, já especulando. Nesse momento, meu celular vibrou. Era Sebastião. Minha pálpebra tremeu duas v
Com o grito vindo da multidão, vi claramente Lídia, lá no alto, dar mais um passo em direção à beirada. Eu não gritei, mas senti meu coração subir até a garganta. Não era nem pelo fato de ser a Lídia lá em cima — qualquer pessoa naquela situação faria o corpo inteiro arrepiar e a respiração travar. Sabia que aquele movimento dela tinha um motivo: Sebastião devia ter chegado ao terraço. O lugar era alto demais, e eu não conseguia ouvir nada do que era dito lá em cima. Só conseguia fixar meu olhar, tensa. Até que alguém me tocou no ombro e me avisou: — Moça, seu celular tá tocando. Voltei a mim e tirei o telefone do bolso. Era Sebastião ligando. Ele estava lá em cima, tentando negociar com ela, então por que estaria me ligando? Só podia ser ideia da própria Lídia. Atendi, e, como esperado, Sebastião falou: — Carol, traz meu pai aqui pra cima. Levar João? Era uma ideia absurda. Ele não tinha saúde para aquilo. Não importava o que Lídia quisesse, fazer João enfrentar es
Um grito rasgante ecoou pelo ar, ensurdecedor.— Não a provoque. — O bombeiro me advertiu mais uma vez, mas foi interrompido por Sebastião.Parecia que Sebastião sabia, tanto quanto eu, que Lídia não tinha a real intenção de se matar. Era tudo encenação. Ela só queria chamar atenção, fazer os outros acreditarem que estava à beira do colapso e que realmente poderia tirar a própria vida.E, como esperado, após terminar de gritar, ela nos lançou um olhar penetrante, alternando entre mim e Sebastião.— Eu sei que vocês acham que isso é só um teatro, que eu tô blefando, que no fundo eu só quero arrancar dinheiro de vocês. Pois hoje vocês vão ver com os próprios olhos se eu tô fingindo ou não. Vou provar que minhas palavras não são vazias.Enquanto falava, Lídia começou a recuar lentamente.Meu coração deu um salto. Mesmo que ela não estivesse realmente disposta a pular, bastava um passo em falso, um desequilíbrio, e ela poderia cair. A cena era tão tensa que eu mal conseguia respirar.Meus
Nesse momento, Lídia balançou a cabeça de repente e gritou:— Eu não me importo! Hoje eu quero uma resposta, Sebastião. Você vai ou não vai se casar comigo?Sebastião cerrou o maxilar. Ele poderia muito bem ter mentido, ter acalmado Lídia com uma resposta que a mantivesse sob controle. Mas não era do tipo que fazia isso. E foi direto ao ponto:— Lídia, eu já disse que vou te dar uma compensação, mas não espere mais nada de mim.Essas palavras fizeram o bombeiro ao lado arregalar os olhos, incrédulo.Lídia, por sua vez, parecia completamente derrotada. O desespero tomou conta de seu rosto enquanto ela gritava:— A compensação que eu quero é você! Sebastião manteve o tom frio e cortante:— Lídia, você me armou uma cilada, destruiu o Fernando. Não te denunciar já foi o máximo que eu consegui fazer. E só por causa da criança.Ele nunca foi do tipo que cedia a ameaças. Desde pequeno, sempre foi teimoso. Até Cátia costumava chamá-lo de “cabeça-dura”.— A criança... Sempre a criança! — Lídi
O bebê nasceu prematuro, com apenas sete meses e meio. Era quase translúcido, deitado na incubadora, e bastava um olhar para que o coração de qualquer um se partisse.Luana também não sabia dizer se ele sobreviveria. Tudo dependia da força e da sorte da criança.Lídia não conseguiu pular do prédio, mas quem acabou pagando o preço foi o bebê.Ela mesma também não saiu ilesa. Teve uma ruptura uterina, sofreu uma grave hemorragia e precisou retirar o útero.Estar viva era quase um milagre. Quanto ao que seria dela daqui em diante, eu já não me importava.Mas aquele bebê... Era difícil não sentir pena. Ele perdeu o pai biológico, os pais de Fernando não o reconheciam, e o pior de tudo: Lídia, provavelmente, nunca o amaria de verdade.Se ela realmente amasse aquela criança, não teria usado a gravidez para manipular tantas vezes.Quando George chegou ao hospital para me buscar, seu rosto estava sério. Luana deu uma cotovelada leve no meu braço e comentou:— Seu noivo tá bravo.E, sim, eu tam