Com o grito vindo da multidão, vi claramente Lídia, lá no alto, dar mais um passo em direção à beirada. Eu não gritei, mas senti meu coração subir até a garganta. Não era nem pelo fato de ser a Lídia lá em cima — qualquer pessoa naquela situação faria o corpo inteiro arrepiar e a respiração travar. Sabia que aquele movimento dela tinha um motivo: Sebastião devia ter chegado ao terraço. O lugar era alto demais, e eu não conseguia ouvir nada do que era dito lá em cima. Só conseguia fixar meu olhar, tensa. Até que alguém me tocou no ombro e me avisou: — Moça, seu celular tá tocando. Voltei a mim e tirei o telefone do bolso. Era Sebastião ligando. Ele estava lá em cima, tentando negociar com ela, então por que estaria me ligando? Só podia ser ideia da própria Lídia. Atendi, e, como esperado, Sebastião falou: — Carol, traz meu pai aqui pra cima. Levar João? Era uma ideia absurda. Ele não tinha saúde para aquilo. Não importava o que Lídia quisesse, fazer João enfrentar es
Um grito rasgante ecoou pelo ar, ensurdecedor.— Não a provoque. — O bombeiro me advertiu mais uma vez, mas foi interrompido por Sebastião.Parecia que Sebastião sabia, tanto quanto eu, que Lídia não tinha a real intenção de se matar. Era tudo encenação. Ela só queria chamar atenção, fazer os outros acreditarem que estava à beira do colapso e que realmente poderia tirar a própria vida.E, como esperado, após terminar de gritar, ela nos lançou um olhar penetrante, alternando entre mim e Sebastião.— Eu sei que vocês acham que isso é só um teatro, que eu tô blefando, que no fundo eu só quero arrancar dinheiro de vocês. Pois hoje vocês vão ver com os próprios olhos se eu tô fingindo ou não. Vou provar que minhas palavras não são vazias.Enquanto falava, Lídia começou a recuar lentamente.Meu coração deu um salto. Mesmo que ela não estivesse realmente disposta a pular, bastava um passo em falso, um desequilíbrio, e ela poderia cair. A cena era tão tensa que eu mal conseguia respirar.Meus
Nesse momento, Lídia balançou a cabeça de repente e gritou:— Eu não me importo! Hoje eu quero uma resposta, Sebastião. Você vai ou não vai se casar comigo?Sebastião cerrou o maxilar. Ele poderia muito bem ter mentido, ter acalmado Lídia com uma resposta que a mantivesse sob controle. Mas não era do tipo que fazia isso. E foi direto ao ponto:— Lídia, eu já disse que vou te dar uma compensação, mas não espere mais nada de mim.Essas palavras fizeram o bombeiro ao lado arregalar os olhos, incrédulo.Lídia, por sua vez, parecia completamente derrotada. O desespero tomou conta de seu rosto enquanto ela gritava:— A compensação que eu quero é você! Sebastião manteve o tom frio e cortante:— Lídia, você me armou uma cilada, destruiu o Fernando. Não te denunciar já foi o máximo que eu consegui fazer. E só por causa da criança.Ele nunca foi do tipo que cedia a ameaças. Desde pequeno, sempre foi teimoso. Até Cátia costumava chamá-lo de “cabeça-dura”.— A criança... Sempre a criança! — Lídi
O bebê nasceu prematuro, com apenas sete meses e meio. Era quase translúcido, deitado na incubadora, e bastava um olhar para que o coração de qualquer um se partisse.Luana também não sabia dizer se ele sobreviveria. Tudo dependia da força e da sorte da criança.Lídia não conseguiu pular do prédio, mas quem acabou pagando o preço foi o bebê.Ela mesma também não saiu ilesa. Teve uma ruptura uterina, sofreu uma grave hemorragia e precisou retirar o útero.Estar viva era quase um milagre. Quanto ao que seria dela daqui em diante, eu já não me importava.Mas aquele bebê... Era difícil não sentir pena. Ele perdeu o pai biológico, os pais de Fernando não o reconheciam, e o pior de tudo: Lídia, provavelmente, nunca o amaria de verdade.Se ela realmente amasse aquela criança, não teria usado a gravidez para manipular tantas vezes.Quando George chegou ao hospital para me buscar, seu rosto estava sério. Luana deu uma cotovelada leve no meu braço e comentou:— Seu noivo tá bravo.E, sim, eu tam
Luana riu. — Tá bom. — Ué, aceitou rápido assim? Você já perguntou pro Dr. Gilberto? — Provoquei. — Não precisa perguntar. — Respondeu ela, com um tom seguro. Na mesma hora, entendi tudo. — Amanhã vocês dois não tão planejando passar um tempinho a sós, né? — Talvez... Mas um “tempinho a quatro” também serve. — Luana piscou pra mim antes de se virar e sair andando. Enquanto a observava se afastar, ficou claro pra mim que ela não queria que Gilberto fosse embora. Só que, do jeito que era teimosa, nunca admitiria isso. — Amanhã precisamos oferecer um jantar caprichado pra eles. E, de quebra, arrumar alguma surpresa pra deixar marcado. — Murmurei para George. Ele, no entanto, não entendeu direito o que eu queria dizer: — Que tipo de surpresa? Cheguei perto e sussurrei no ouvido dele: — Uma suíte presidencial de luxo pra eles. George não foi tão longe a ponto de reservar uma suíte presidencial, mas organizou o jantar de despedida de Gilberto no hotel mais luxuoso d
Segurar o Grupo Martins? Aquela frase nem chegou a me surpreender tanto assim. O que realmente me deixou sem palavras foi Alden usar a palavra “nós” ao falar com George. Luana parecia igualmente perdida. Ela me lançou um olhar cheio de dúvida, esperando que eu dissesse algo. Eu não disse nada. Apenas segurei o fôlego, esperando pela resposta de George. Ele estava ali, parado, impecável em um terno sob medida. Sua postura altiva e fria exalava uma autoridade quase inatingível, como um verdadeiro estrategista no topo de uma pirâmide. Ao lado dele, Alden parecia mais um subordinado do que qualquer outra coisa. — Já que é tão complicado, você decide. — Respondeu George, com uma frieza calculada. — Então eu resolvo isso com eles hoje mesmo. — Alden sorriu, aliviado, como se tivesse tirado um peso das costas. Depois, hesitou e perguntou. — Quando você vai ter tempo? George franziu de leve as sobrancelhas, quase imperceptível. — Não vou ter nos próximos dias. Alden ficou visi
— Eu entendo. Você acha que, se tivesse algo entre os dois, eles já teriam se apaixonado há tempos, e não sobraria espaço para você, certo? — Comentei, olhando para as luzes que brilhavam pela cidade. — Exatamente. Quando comecei a gostar do Gilberto, ele também gostava de mim. Estávamos em sintonia, sabe? Mesmo que vivamos em mundos diferentes. — A confiança e o brilho nos olhos de Luana denunciavam um orgulho sincero, quase inocente. Eu não sabia se ela dizia aquilo para se convencer ou se realmente acreditava. De qualquer forma, preferi não cortar o clima. Concordei com um sorriso: — Vocês são almas gêmeas. Depois de um instante, uma ideia me veio à mente. Me aproximei dela com um sorriso malicioso: — E vocês já avançaram para o próximo nível? Viraram companheiros de corpo e alma? O rosto de Luana ficou levemente corado. — Ainda não. — É porque ele não quer ou porque você não está pronta? — Provoquei, curiosa. — Sei lá, parece que falta alguma coisa. — Respondeu com
Ficamos no quarto ao lado do Gilberto. Na verdade, eu nem queria tanto ficar num hotel. Minha intenção era outra: queria bisbilhotar para ver se a Luana ia acabar passando a noite no quarto dele. Assim que eu e George entramos no quarto, fomos direto para o terraço. Nem tínhamos colocado os pés lá fora quando escutamos a voz de Gilberto: — Luana, você já pensou em desenvolver sua carreira no exterior? Com as suas habilidades, você teria um futuro brilhante lá fora também. Me agachei um pouco para espiar e vi Gilberto abraçando Luana. Os dois estavam encostados na grade do terraço, de frente para as luzes vibrantes da cidade. A cena tinha algo de íntimo e cúmplice. — Nunca pensei nisso. Pelo menos, não até hoje. — Respondeu Luana, com uma doçura que destoava completamente da postura fria e profissional que ela costumava ter. — E você consideraria? — Gilberto insistiu, com um tom suave. Luana não respondeu de imediato. Então ele continuou: — Se você quiser, posso começar