O rosto de Sebastião ficou paralisado, e ele me olhou surpreso. Logo depois, o olhar dele caiu sobre as nossas mãos, que estavam firmemente entrelaçadas, minha e de George. Ele não disse nada, nem eu. Foi George quem quebrou o silêncio: — Sebastião, bom dia. Bom dia? O dia mal tinha amanhecido! A voz de George pareceu trazer Sebastião de volta ao presente. Ele apertou o maxilar e fixou seu olhar em mim: — Carol, preciso conversar com você. Eu poderia ter recusado, mas não o fiz. Algumas coisas precisavam ser ditas, esclarecidas. Depois disso, nunca mais seria necessário voltar a esse assunto. — George, sobe lá primeiro. Quero tomar um leite. — Falei com ele de um jeito casual, como se fosse apenas uma esposa comum. George assentiu e puxou a gola do meu casaco para fechá-lo melhor. — Está frio de manhã. Ele entrou no elevador e subiu. Sebastião não se moveu imediatamente. Ficou olhando para os números do painel do elevador como se estivesse hipnotizado. Só quando o
Naquele momento, Sebastião ficou me olhando, atônito. Depois de alguns segundos, ele se inclinou e me deu um beijo leve, quase como um toque de pena. Em seguida, passou a mão pelo meu cabelo e disse: — Garota boba. Naquela época, o céu estava como agora: prestes a clarear. Ele havia bebido demais e, em seu estado de euforia, me perguntou: — Quer subir comigo até o topo da montanha para ver o nascer do sol? Eu o conhecia bem. Quando ele bebia, ficava agitado, incapaz de dormir. Ele sempre dizia que, se dormisse bêbado, sentia o mundo girar ao ponto de enjoar. Por isso, muitas vezes, quando ele estava nesse estado, eu acabava dirigindo por horas, levando-o para dar voltas pela cidade ou até mais longe. Naquela noite, peguei o carro e o levei até o topo de uma montanha. Sentamos juntos em uma grande pedra. Ficamos ali, encostados um no outro, olhando as estrelas que ainda pontilhavam o céu antes do amanhecer, observando a escuridão da noite ser substituída pelas cores do nasce
Sebastião não disse mais nada, mas eu já tinha adivinhado. — A condição dela é se tornar a Sra. Martins?Ao ouvir isso, Sebastião ergueu os olhos para mim, parecendo surpreso com o fato de eu ter compreendido tudo com tanta precisão.— Você parece conhecê-la bem. — Disse ele, num tom carregado de sarcasmo, após uma breve pausa.Aquelas palavras não eram ofensivas, mas a ironia era clara.Lídia, a amante, a mulher que roubou meu noivo. Dizer que eu a conhecia era quase o mesmo que insinuar que eu tinha me dedicado a estudá-la, como se ela fosse um inimigo digno de atenção.— Você está enganado. Não é que eu a conheça, mas o que ela faz deixa bem claro quem ela é. A ganância dela por dinheiro e status não é difícil de perceber. — Respondi, e, assim que terminei de falar, o céu escuro clareou de repente.Sempre achei que o processo de anoitecer e amanhecer fosse um movimento lento e gradual, mas naquele momento percebi que, às vezes, tudo pode mudar num instante.— Sebastião, um parque d
— Seja honesto, você já fez amor com Carolina?A voz rouca do homem se espalhou pelo vão da porta, fazendo com que eu, prestes a entrar, parasse meus passos. Através do vão, observei os lábios finos de Sebastião pressionados de leve.— Ela tentou, mas eu não estava interessado.— Sebastião, não humilhe a Carolina dessa maneira. Ela é uma das mais belas do nosso círculo social; muitos caras estão interessados nela.Quem falou isso foi Pedro Santos, amigo íntimo de Sebastião e testemunha dos nossos dez anos de relacionamento.— Estamos muito familiarizados, você entende? — Sebastião franziu as sobrancelhas.Quando eu tinha quatorze anos, fui enviada para a casa dos Martins, onde conheci Sebastião pela primeira vez. Desde então, todos me disseram que ele seria meu futuro marido. E assim vivemos juntos por dez anos.— Isso mesmo, vocês trabalham na mesma empresa durante o dia, veem um ao outro o tempo todo, e à noite vocês comem na mesma mesa. Devem se conhecer tão bem que até sabem quanta
Sebastião levantou a cabeça ao ouvir o som da porta, e seu olhar parou no meu rosto. Ele deve ter notado minha expressão.— Está se sentindo mal? — Ele franziu ligeiramente a testa.Caminhei silenciosamente até sua mesa, engolindo o amargor que subia em minha garganta, e falei: — Se você não quer casar comigo, posso falar com sua mãe.As rugas entre as sobrancelhas de Sebastião aprofundaram; ele percebeu que eu tinha ouvido sua conversa com Pedro.A amargura voltou à minha garganta, e eu continuei: — Nunca pensei que me tornaria uma pessoa com quem você se sente desconfortável em estar, Sebastião...— Para todos, já somos marido e mulher. — Sebastião me interrompeu.E daí? Ele quer casar comigo por causa dos outros? Eu queria que ele case comigo por me amar, por querer passar o resto da sua vida comigo.Com um clique suave, Sebastião fechou a caneta que segurava, seu olhar caiu sobre o documento em minhas mãos, e disse: — Vamos pegar a certidão de casamento na próxima quarta-feira.
O dia todo, fiquei pensando sobre essa questão. Até à tarde, quando ele veio me chamar, eu ainda não tinha a resposta, mas o segui mesmo assim.O hábito era algo terrível. Em dez anos, me acostumei com ele e também a voltar para a casa dos Martins depois do trabalho.— Por que você não está falando? — No caminho de volta, Sebastião provavelmente percebeu que eu estava de mau humor e perguntou.Fiquei em silêncio por alguns segundos e, finalmente, comecei a falar: — Sebastião, e se nós...Antes que eu pudesse terminar a frase, o celular dele tocou. O viva-voz mostrou um número não identificado, mas eu vi claramente que Sebastião apertou o volante com força. Ele estava nervoso, algo raro.Instintivamente, olhei para o rosto dele, mas ele já tinha desligado o viva-voz e atendido com o Bluetooth: — Alô... Ok, estou indo agora.A ligação foi curta. Ele desligou o telefone e olhou para mim. — Lina, tenho uma urgência para resolver e não vou poder se levar para casa.Na verdade, antes mesm
Nunca imaginei que um dia na minha vida acabaria indo para a delegacia por uma acusação de assédio.Derrubei um adolescente, que tinha apenas 17 anos e ainda era menor de idade. Ele insistiu que eu tinha más intenções com ele. Mesmo que eu negasse, ele continuava a afirmar que eu o tinha tocado.— Onde ela te tocou? — O policial perguntou com bastante detalhamento.O nome do adolescente era Augusto Reis. Ele olhou para mim, apontou primeiro para o próprio peito e depois para baixo da cintura. — Aqui, aqui... Ela tocou em tudo.Besteira! Quase gritei. Sebastião, que é um homem tão bonito, eu nunca toquei, então por que tocaria nesse pirralho que nem barba tinha?O policial olhou de volta para mim, e antes que ele pudesse perguntar, eu já neguei: — Eu não o toquei, apenas esbarrei nele sem querer.— Você bebeu? — O policial me olhou com um semblante sugestivo.Nesta sociedade, é normal os homens se entregarem ao álcool, mas quando uma mulher bebe um pouco, geralmente é vista como desre
Minha mão estava doendo de tanto que ele apertava, claramente estava bravo.Isso era ciúmes?Mal surgiu esse pensamento, Sebastião soltou minha mão, com o olhar frio:— Carolina, só porque eu disse aquilo, você vai se vingar assim?Fiquei surpresa; não esperava que ele pensasse assim.— Eu não fiz isso, eu... — Comecei a explicar, mas fui interrompida.— Você tocou onde nele? Você realmente tocou naquela parte? — O maxilar de Sebastião estava tenso, seus olhos estavam ameaçadores.Ele raramente ficava assim, claramente estava com ciúmes.Naquele momento, minha frustração diminuiu consideravelmente, ele ainda se importava comigo. Se ele apenas me visse como uma irmã ou amiga, não se importaria se eu tocasse em outro homem.— Não. — Neguei novamente.Então, Augusto saiu de dentro e assobiou para mim:— Pervertida, como assim está flertando com meu cunhado de novo?A expressão "Da boca de um cachorro não sai uma palavra boa" se encaixava perfeitamente.Olhando para Augusto com aquele jeit