— Carolina, você está com o Tião agora? Pode pedir para ele atender meu telefone?A voz de Lídia soou nítida na sala silenciosa, cortando o ambiente.Simultaneamente, o som das pessoas puxando o ar em surpresa também foi claro, e os olhares se viraram de mim e meu celular para o Sebastião.Ignorei as reações ao meu redor e nem olhei para o Sebastião, apenas respondi calmamente ao telefone:— Você ligou para o número errado. Por que está pedindo para seu homem me ligar?O ambiente ficou extremamente silencioso, como se fosse só eu na sala grande.— Ele não atende meu telefone.Lídia falou, com um tom de voz fraco.— Ah. Então, se eu pedir, ele vai atender?Eu dei um sorriso sarcástico e levantei o canto da boca.Antes que a Lídia respondesse, o Sebastião já estava do meu lado, pegando meu celular com raiva e desligando a chamada.Ele estava com o rosto cheio de fúria, e eu não pude deixar de sorrir suavemente.— Sr. Sebastião, com essa atitude você vai fazer sua mulher achar que estou i
O homem que estava na escada nem precisou me deixar recusar.George estava usando uma camiseta preta e calças cargo, parado ao lado de uma motocicleta preta, com um estilo super descolado e cheio de atitude.Era a primeira vez que eu via George assim.Mas não era a primeira vez que eu via um homem assim. No passado, Sebastião também foi assim. Naquele tempo, ele se comportava de forma arrogante, como se o mundo estivesse aos seus pés.Cada vez que eu via ele assim, meu coração disparava como louco.Mesmo hoje, lembro-me de inúmeras vezes em que estava atrás dele na moto, com meus braços ao redor de sua cintura, sentindo a liberdade da noite ao vento.— Ainda gosta de andar de moto?A voz baixa de Sebastião me interrompeu enquanto eu estava perdida em meus pensamentos.Entendi o que ele quis dizer, dei um sorriso sutil, mas não respondi. Apenas comecei a caminhar em direção ao George.Quando George me viu, ele também veio na minha direção, mas alguém o interceptou.Era o Alden Junqueira
Quando Lídia apareceu para me procurar, eu não fiquei nem um pouco surpresa. O que realmente me surpreendeu foi que ela foi até o meu trabalho, e não ficou esperando na porta do meu prédio ou no hall do meu apartamento.Eu sabia que, se ela estava me procurando, não seria por nada além de Sebastião.Mas eu já estava cansada de desperdiçar saliva com ela, então disse direto para a recepção:— Diga a ela que eu não estou.Quando terminei meu expediente, para minha surpresa, ela ainda estava lá, esperando na porta do meu prédio.— Diretora Carolina, ela está esperando há muito tempo, nem a água que oferecemos ela bebeu, e ainda está grávida. Se algo acontecer aqui, será um problema.A recepcionista me alertou.Lídia estava sendo teimosa, tentando me forçar a vê-la dessa maneira.Se eu cedesse agora, ela continuaria fazendo isso sempre.— Se ela se machucar, não é problema nosso. Se ela quiser esperar, que espere.Eu respondi, e continuei indo em direção à saída.— Carolina!Lídia gritou,
Será que ela veio até aqui por rancor de mim?As coisas não são tão simples assim, Lídia deve ter outro objetivo.Eu estava prestes a retrucar quando George e Edgar chegaram. George se aproximou de mim e, com um olhar gélido, encarou a Lídia.— O que o teu filho tem a ver conosco?A Lídia estremeceu um pouco, talvez pelo impacto da presença do George. Sua expressão frágil ficou ainda mais evidente, e ela levantou a mão, apontando para mim.— Se não fosse pelo Tião, claro que isso não teria nada a ver com ela.— Eles se conhecem desde dez anos atrás. Naquela época, você nem sabia onde estava. O que tem de mais neles se procurarem?A resposta do George me surpreendeu.Lídia olhou para ele com uma expressão de surpresa, claramente não esperando que George fosse me defender daquela forma, e muito menos com tamanha indiferença.Agora eu começava a entender o motivo dela estar ali. Ela queria prejudicar minha relação com George.Mas, se ela destruísse minha relação com George, ela não teria
— Eu vou!Não precisa nem perguntar, eu vou.Aquele parque de diversões carrega tantas memórias para mim: o esforço de dois anos de construção, os incontáveis dias e noites de esforço árduo, minhas esperanças, meus arrependimentos, e até mesmo meu renascimento.No momento em que recebi o convite, todo do meu passado começou a passar pela minha cabeça...— Posso levar alguém?Perguntei, voltando a questão para Sebastião.Ele ficou dois segundos em silêncio.— É o George?Não respondi, e ele deu uma risada suave.— Se você vier, pode levar quem quiser.Essa foi a concessão do Sebastião.No passado, ele só sabia me acalmar, mas agora ele aprendeu a ceder.E, agora, ele estava diferente de antes.— Obrigada!Eu disse, prestes a desligar, mas Sebastião me chamou de volta.— Carol, meus pais também vão, e... vamos esperar por você.A pressão nas palavras dele era clara, ele queria garantir que eu fosse.— Tudo bem!Respondi.Mas ele não desligou, parecia que ainda tinha algo a dizer. Porém,
— Seja honesto, você já fez amor com Carolina?A voz rouca do homem se espalhou pelo vão da porta, fazendo com que eu, prestes a entrar, parasse meus passos. Através do vão, observei os lábios finos de Sebastião pressionados de leve.— Ela tentou, mas eu não estava interessado.— Sebastião, não humilhe a Carolina dessa maneira. Ela é uma das mais belas do nosso círculo social; muitos caras estão interessados nela.Quem falou isso foi Pedro Santos, amigo íntimo de Sebastião e testemunha dos nossos dez anos de relacionamento.— Estamos muito familiarizados, você entende? — Sebastião franziu as sobrancelhas.Quando eu tinha quatorze anos, fui enviada para a casa dos Martins, onde conheci Sebastião pela primeira vez. Desde então, todos me disseram que ele seria meu futuro marido. E assim vivemos juntos por dez anos.— Isso mesmo, vocês trabalham na mesma empresa durante o dia, veem um ao outro o tempo todo, e à noite vocês comem na mesma mesa. Devem se conhecer tão bem que até sabem quanta
Sebastião levantou a cabeça ao ouvir o som da porta, e seu olhar parou no meu rosto. Ele deve ter notado minha expressão.— Está se sentindo mal? — Ele franziu ligeiramente a testa.Caminhei silenciosamente até sua mesa, engolindo o amargor que subia em minha garganta, e falei: — Se você não quer casar comigo, posso falar com sua mãe.As rugas entre as sobrancelhas de Sebastião aprofundaram; ele percebeu que eu tinha ouvido sua conversa com Pedro.A amargura voltou à minha garganta, e eu continuei: — Nunca pensei que me tornaria uma pessoa com quem você se sente desconfortável em estar, Sebastião...— Para todos, já somos marido e mulher. — Sebastião me interrompeu.E daí? Ele quer casar comigo por causa dos outros? Eu queria que ele case comigo por me amar, por querer passar o resto da sua vida comigo.Com um clique suave, Sebastião fechou a caneta que segurava, seu olhar caiu sobre o documento em minhas mãos, e disse: — Vamos pegar a certidão de casamento na próxima quarta-feira.
O dia todo, fiquei pensando sobre essa questão. Até à tarde, quando ele veio me chamar, eu ainda não tinha a resposta, mas o segui mesmo assim.O hábito era algo terrível. Em dez anos, me acostumei com ele e também a voltar para a casa dos Martins depois do trabalho.— Por que você não está falando? — No caminho de volta, Sebastião provavelmente percebeu que eu estava de mau humor e perguntou.Fiquei em silêncio por alguns segundos e, finalmente, comecei a falar: — Sebastião, e se nós...Antes que eu pudesse terminar a frase, o celular dele tocou. O viva-voz mostrou um número não identificado, mas eu vi claramente que Sebastião apertou o volante com força. Ele estava nervoso, algo raro.Instintivamente, olhei para o rosto dele, mas ele já tinha desligado o viva-voz e atendido com o Bluetooth: — Alô... Ok, estou indo agora.A ligação foi curta. Ele desligou o telefone e olhou para mim. — Lina, tenho uma urgência para resolver e não vou poder se levar para casa.Na verdade, antes mesm