— Sr. Sebastião, não temos mais tempo! — Avisou a comissária de bordo, com uma expressão preocupada.Eu sabia que até os aviões particulares têm horários de voo e precisam seguir as regras de decolagem e aterrissagem, e que, se eu fizesse uma ligação, perderíamos mais tempo.— Deixe para lá. — Disse eu, enquanto me acomodava.— Um minuto. — Sebastião falou, olhando para a comissária.Ele então me entregou o celular. Fiquei um pouco surpresa. Ele realmente estava me permitindo fazer essa ligação.Em situações normais, ele poderia facilmente se recusar, tanto por razões profissionais quanto pessoais.Olhei para ele, sem entender muito bem. Não pude deixar de perceber que, depois que ele desapareceu, parecia ter mudado. Algo nele estava diferente, mais fechado, mais distante do que antes.Com meu olhar confuso, Sebastião não explicou nada. Apenas se virou e olhou pela janela do avião.— Pode decolar. — Disse eu, entregando o celular para a comissária.Sebastião me lançou um olhar surpreso
— Não, acho que não. Só estou eu e ele em casa, agora até os gatos e os cachorros obedecem a ele. Quem ia o fazer ficar bravo? — Cátia parou de falar aqui.Eu senti que algo não estava certo. Antes que eu pudesse perguntar, Cátia segurou minha mão com força.— Não... Não é isso. Ele disse que ia deitar um pouco no sofá. Coincidentemente, meu telefone tocou e, enquanto eu atendia, pareceu que ele também recebeu uma ligação.Seria que foi esse telefonema que o estimulou?Imediatamente perguntei:— Tia, onde está o telefone do tio?Cátia colocou a mão no bolso.— Não trouxe... Talvez esteja em casa.Agora não dava mais para voltar e pegar, mas eu tinha a sensação de que esse telefonema tinha algo a ver com isso.Miguel e Sebastião voltaram rapidamente, mas ambos estavam com um semblante sombrio. Provavelmente, Miguel sabia mais sobre a condição de João e deve ter contado a verdade a Sebastião.Meu coração apertou ainda mais. Eu queria entender melhor a situação, mas Cátia não me deixava i
Ele falava de uma forma tão cansada que, de repente, minhas lágrimas caíram.Eu já havia visto João de várias maneiras, sempre cheio de energia, firme e forte, mas nunca o vi tão fraco assim.— Não chore, Carol... Não chore. — Disse João, levantando a mão com dificuldade, tentando enxugar minhas lágrimas.Eu segurei firme a mão dele e esfreguei as lágrimas na minha própria roupa.Ah!A roupa não era minha, era de Sebastião.Fui puxada do hotel por ele, usando apenas o pijama. Quando entrei no carro, ele me deu o seu casaco. Na hora, quis recusar, mas eu só estava com o pijama de alças e não queria sair assim. Então, acabei vestindo e acabei usando até agora.— Tá bom, não chore. — Eu levantei o rosto, enxugando as lágrimas, tentando forçar um sorriso amargo.João me olhava, com um olhar gentil e ao mesmo tempo complexo, o que me deixou inquieta. Apertei mais a mão dele.— Tio, você vai ficar bem. Vai dar tudo certo, eu sei que vai.— Eu sei como está meu corpo. — João falou, com voz fr
Além disso, o acidente dos meus pais sempre me deixou com dúvidas.— Não. — João negou de imediato. — Eu disse isso, mas não quero que você pense bobagens... Eu... eu só acho que você deveria focar... no seu trabalho, no futuro com o George...João estava falando cada vez com mais dificuldade. A enfermeira veio tentando impedir, mas foi barrada por um gesto de João. Ela então disse, com voz suave:— Só mais um minuto.Eu sabia o quão grave era a condição de João, e embora estivesse ansiosa para entender o que estava acontecendo, priorizei sua saúde.— Tio, podemos conversar depois, você precisa descansar agora. — Eu sugeri.Ele, porém, segurou minha mão com força, sem querer soltá-la.— Carol, promete para o tio. — Pediu ele.As palavras dele me afetaram profundamente. Ele estava tão insistente que me fez sentir ainda mais que havia algo de estranho no acidente dos meus pais. Mas eu sabia que ele não tinha a intenção de falar mais sobre isso. Perguntar não faria diferença.Agora, o ven
O cheiro familiar, também sufocante.Eu fiquei paralisada, sem conseguir me mover, até que a voz baixa de Sebastião ecoou: — Agora você já se importa tanto com ele?Meus dedos, que estavam pendurados, se fecharam em um punho. Antigamente, eu também me importava assim com ele.Até para sair para um simples jantar com Luana, eu sentia a necessidade de o avisar, mas ele não ligava. Agora, toda a minha atenção foi dada a outro, e ele ficou irritado, ainda se permitiu questionar.— Claro, como poderia não me importar com meu homem? — Eu disse, olhando nos olhos dele.Eu também sabia como matar com palavras, quando necessário.Embora eu soubesse que Sebastião e eu já estávamos cada vez mais distantes, isso não significava que ele não pudesse mais me ferir. Em momentos inesperados, ele ainda sabia como arrancar pedaços do meu coração.Portanto, se eu tivesse a chance de lhe dar uma pequena mordida, para aliviar a dor das feridas que ele me causou no passado, não haveria nada de errado nisso.
Afinal, fui eu mesma que não consegui o empurrar, não é?Ele realmente sabe como ser pretensioso.Mas se ele quisesse se iludir, que se iluda. No fim, quanto mais forte for sua obsessão, mais ele feriria-se.Talvez isso seja uma punição do destino para ele, ou talvez meus pais, já no além, se sintam tocados pelos sacrifícios que fiz nos últimos dez anos, e por isso permitiram que Sebastião não conseguisse seguir em frente com o passado que tivemos.— Daniel vai te trazer o celular mais tarde, descansa bem quando chegar em casa. — Sebastião disse, antes de me soltar.Ele se foi, com a postura firme, como sempre foi.No passado, eu ficava cheia de felicidade ao ver a silhueta dele se afastando, mas agora, tudo que sinto era uma sensação de estranheza, quase como se fosse um estranho.Desci as escadas e, quando cheguei no hall, Daniel apareceu.— Assist. Carolina.Já não sou mais assistente dele, mas ele ainda me chama assim.Era só uma forma de se dirigir a mim, então não corrigi.— O
— O Sr. Sebastião disse que sua garganta está rouca e até pediu para o pessoal da loja adicionar ervas, fez o pedido no meio da noite e agora ainda está quentinho. — Daniel disse, colocando a pera assada em minha mão.Minha palma se aqueceu, e eu segurei a sacola com a pera assada, abaixando o olhar.Daniel já havia ligado o carro.— Assist. Carolina, posso te levar até o Bairro de Solana? — Ele perguntou.O Bairro de Solana era a localização do meu condomínio atual.Daniel fez a pergunta de maneira tão natural, e eu percebi que a razão de Sebastião ter aparecido no meu andar naquela noite estava mais clara agora, provavelmente Daniel havia investigado e passado a informação para ele.— Não. — Eu recusei.Daniel ficou surpreso por um momento e me olhou pelo retrovisor.— Então... — Ele hesitou.— Daniel, pode parar o carro? — Minhas palavras fizeram Daniel dar um sobressalto e ele estacionou na beira da rua.Ele me olhou desconfiado.— Assist. Carolina, você...Eu o interrompi.— Não v
Benedita acenou com a cabeça.— Sim, agora estou bem, saudável, quero viver uma vida normal e recuperar tudo o que perdi.Ver uma Benedita assim me tocou profundamente.— Certo, eu apoio. — Eu também estava de acordo, mas ainda perguntei com cautela. — Você consegue entender tudo isso? Se não, podemos procurar um professor particular.— Consigo. — Benedita sorriu alegremente. — Cunhada, eu sinto que, depois de trocar de coração, fiquei mais inteligente. Essas coisas são fáceis de entender.Eu fiquei surpresa por um momento, e Benedita colocou a mão sobre o peito dela.— Cunhada, você não acha que a dona do meu coração é uma pessoa super inteligente?— O que você está pensando? Inteligente usa a cabeça, não tem nada a ver com o coração. — Eu neguei rapidamente a ideia dela.Na verdade, aquele momento de surpresa também me fez pensar algo parecido.Mas eu preferi não deixar Benedita pensar assim, para evitar que ela desenvolvesse outras ideias.— Você sempre foi inteligente, seu irmão qu