A voz de George era baixa, quase opressiva.Meu coração travesso se apertou um pouco ao olhar para o rosto dele, que estava mais magro do que antes. Pensei em como ele precisava cuidar da irmã, que acabara de se recuperar de uma doença grave, e agora ainda precisava me acalmar. Ele devia estar exausto.Imediatamente, minha vontade de continuar brincando com ele desapareceu. Puxei-o suavemente e, com um tom mais tranquilo, expliquei:— Eu e o Pedro somos só amigos, por isso falo dele à vontade na sua frente, porque minha consciência está tranquila.Assim que terminei de falar, percebi que a frase não tinha soado como eu queria, mas não corrigi.Na verdade, o fato de eu não mencionar certas coisas não significam que eu me sinta culpada.Pelo contrário, não falar sobre isso é só porque eu já não me importo mais.— Eu sei, mas ainda assim, me sinto incomodado. — George respondeu, sinceramente.Eu compreendi, afinal, se fosse ele falando de outra pessoa na minha frente, também ficaria desco
Ele tinha uma expressão tensa e sombria, completamente diferente de qualquer outro momento.— Ah? — O homem olhou para mim surpreso novamente. — Me enganei? Não pode ser. Sua noiva é tão bonita, eu não poderia confundir...— Minha noiva está em casa agora, acompanhando meus pais — Disse Sebastião enquanto dava grandes passos, afastando-se.— Ah? Não é...? — O homem ainda estava chocado, olhando fixamente para o meu rosto. No entanto, vendo Sebastião se afastar, rapidamente correu atrás dele, murmurando enquanto ia: — Como pode ser tão parecida? É praticamente a mesma pessoa!Sebastião foi embora, sem me deixar numa situação embaraçosa com aquela mentira. Isso me surpreendeu.De acordo com o jeito dele, deveria ter admitido isso diretamente, o que me deixaria constrangido e ainda mais constrangeria o George.Mas ele não fez isso.E, mesmo ao passar por mim, manteve-se frio, como se realmente não me conhecesse.Esse Sebastião parecia mudado, diferente do que era antes.Não havia mais aq
Eu não sabia exatamente quando o celular parou de tocar, só lembrei que, quando George me carregou do banheiro para a cama, meu corpo estava completamente mole, como se cada osso tivesse perdido a força.Cansada, tão cansada que nem conseguia levantar as pálpebras, eu me encolhi sob o cobertor e, sentindo o calor aconchegante, caí no sono.— Descanse um pouco. Vou preparar algo para você comer. — A voz rouca e gentil de George soou perto do meu ouvido.Dei um leve murmúrio de consentimento e me entreguei ao sono profundo.Porém, em meio ao sono leve e confuso, parecia que ouvia o celular tocando insistentemente.Eu não queria me mover, nem abrir os olhos. Tateei ao meu lado, procurando George, mas o espaço estava vazio.— George, George... — Minha voz saindo baixa e arrastada.George veio rapidamente e inclinou-se ligeiramente para me ouvir. — O que foi?Sem abrir os olhos, murmurei: — Meu celular está fazendo barulho.— O quê? — Ele pareceu não entender direito.— O celular... está t
— Humm, mas não é sempre que você precisa tomar banho quando vai lavar o cabelo. — As palavras de George me fizeram rir.— Faça o que quiser, só não demore, senão o dia já vai clarear. — Disse eu rapidamente, empurrando-o para o banheiro, com medo de que ele fosse me puxar junto se demorasse muito.George, esse homem, à primeira vista, parece o tipo frio e sem interesse, com uma aura de austeridade e uma atitude quase imune a mulheres. Um homem que parece ser incapaz de se entregar a qualquer tipo de tentação.Mas agora eu sei que, quando um homem experimenta disso, é como abrir as comportas de uma represa — impossível de controlar.Ele foi tomar banho e eu aproveitei para arrumar a mesa. Isso era algo que meus pais sempre me ensinaram, desde pequena: nunca deixar pratos e talheres sujos durante a noite.Enquanto ainda estava organizando a cozinha, a campainha tocou.A princípio, pensei ter ouvido errado, imaginei que fosse a campainha de outro quarto. Porém, conforme o som persistiu,
— Sr. Sebastião, não temos mais tempo! — Avisou a comissária de bordo, com uma expressão preocupada.Eu sabia que até os aviões particulares têm horários de voo e precisam seguir as regras de decolagem e aterrissagem, e que, se eu fizesse uma ligação, perderíamos mais tempo.— Deixe para lá. — Disse eu, enquanto me acomodava.— Um minuto. — Sebastião falou, olhando para a comissária.Ele então me entregou o celular. Fiquei um pouco surpresa. Ele realmente estava me permitindo fazer essa ligação.Em situações normais, ele poderia facilmente se recusar, tanto por razões profissionais quanto pessoais.Olhei para ele, sem entender muito bem. Não pude deixar de perceber que, depois que ele desapareceu, parecia ter mudado. Algo nele estava diferente, mais fechado, mais distante do que antes.Com meu olhar confuso, Sebastião não explicou nada. Apenas se virou e olhou pela janela do avião.— Pode decolar. — Disse eu, entregando o celular para a comissária.Sebastião me lançou um olhar surpreso
— Não, acho que não. Só estou eu e ele em casa, agora até os gatos e os cachorros obedecem a ele. Quem ia o fazer ficar bravo? — Cátia parou de falar aqui.Eu senti que algo não estava certo. Antes que eu pudesse perguntar, Cátia segurou minha mão com força.— Não... Não é isso. Ele disse que ia deitar um pouco no sofá. Coincidentemente, meu telefone tocou e, enquanto eu atendia, pareceu que ele também recebeu uma ligação.Seria que foi esse telefonema que o estimulou?Imediatamente perguntei:— Tia, onde está o telefone do tio?Cátia colocou a mão no bolso.— Não trouxe... Talvez esteja em casa.Agora não dava mais para voltar e pegar, mas eu tinha a sensação de que esse telefonema tinha algo a ver com isso.Miguel e Sebastião voltaram rapidamente, mas ambos estavam com um semblante sombrio. Provavelmente, Miguel sabia mais sobre a condição de João e deve ter contado a verdade a Sebastião.Meu coração apertou ainda mais. Eu queria entender melhor a situação, mas Cátia não me deixava i
Ele falava de uma forma tão cansada que, de repente, minhas lágrimas caíram.Eu já havia visto João de várias maneiras, sempre cheio de energia, firme e forte, mas nunca o vi tão fraco assim.— Não chore, Carol... Não chore. — Disse João, levantando a mão com dificuldade, tentando enxugar minhas lágrimas.Eu segurei firme a mão dele e esfreguei as lágrimas na minha própria roupa.Ah!A roupa não era minha, era de Sebastião.Fui puxada do hotel por ele, usando apenas o pijama. Quando entrei no carro, ele me deu o seu casaco. Na hora, quis recusar, mas eu só estava com o pijama de alças e não queria sair assim. Então, acabei vestindo e acabei usando até agora.— Tá bom, não chore. — Eu levantei o rosto, enxugando as lágrimas, tentando forçar um sorriso amargo.João me olhava, com um olhar gentil e ao mesmo tempo complexo, o que me deixou inquieta. Apertei mais a mão dele.— Tio, você vai ficar bem. Vai dar tudo certo, eu sei que vai.— Eu sei como está meu corpo. — João falou, com voz fr
Além disso, o acidente dos meus pais sempre me deixou com dúvidas.— Não. — João negou de imediato. — Eu disse isso, mas não quero que você pense bobagens... Eu... eu só acho que você deveria focar... no seu trabalho, no futuro com o George...João estava falando cada vez com mais dificuldade. A enfermeira veio tentando impedir, mas foi barrada por um gesto de João. Ela então disse, com voz suave:— Só mais um minuto.Eu sabia o quão grave era a condição de João, e embora estivesse ansiosa para entender o que estava acontecendo, priorizei sua saúde.— Tio, podemos conversar depois, você precisa descansar agora. — Eu sugeri.Ele, porém, segurou minha mão com força, sem querer soltá-la.— Carol, promete para o tio. — Pediu ele.As palavras dele me afetaram profundamente. Ele estava tão insistente que me fez sentir ainda mais que havia algo de estranho no acidente dos meus pais. Mas eu sabia que ele não tinha a intenção de falar mais sobre isso. Perguntar não faria diferença.Agora, o ven