Eu pedi um açaí na tigela, meu favorito.George olhou para o meu pedido e franziu a testa.— O que foi? Não gosta de açaí? — Perguntei, provocando.— Acho que você não deveria comer tanto disso tarde da noite. É muito gelado. — Ele respondeu, sério.Eu ri.— Você entende bastante de mulheres, hein? Tem certeza de que nunca teve uma namorada?— Nunca. — Ele afirmou, com toda a certeza do mundo.Eu revirei os olhos, claramente não acreditando.— Tenho uma irmã, por isso sei que as meninas não devem comer coisas muito frias. Pode causar cólica. — Explicou George, interrompendo minha mordida.Uma irmã? Ele nunca havia mencionado isso antes.Parecendo ler meus pensamentos, ele acrescentou:— Minha irmã de sangue. Mesmos pais.Desviei o olhar, pegando outra colherada de açaí.— Você nunca tinha falado sobre ela.— Nunca tive a oportunidade certa de falar. — Disse ele, pegando uma colherada do açaí. Pude ver claramente que ele não gostou.Ele não era fã de açaí, assim como Sebastião nunca gos
Eu não perguntei quem era aquela mulher ao lado do Pedro; só pelo jeito que estava vestida e maquiada, dava pra ver que não era a namorada oficial dele, mas apenas mais uma dessas aventuras passageiras. Assim que o Pedro foi embora, olhei de novo para a tigela de açaí e percebi que o George tinha comido tudo o que sobrou, sem cerimônia nenhuma.— Vamos comer outra coisa. — Disse ele, sem o menor pudor.Eu quase triturei os dentes de raiva, mas me controlei: — Tá bom.Dessa vez, ele me levou a uma barraquinha de pizza e pediu duas fatias. Pra minha surpresa, não roubou a minha parte. Pelo visto, ele não era exatamente fã de açaí, só não queria que eu tomasse tanto gelado. Esse homem era cheio de manha, mas, no fundo, parecia que se importava comigo de verdade.Depois da pizza, continuamos a passear. Vimos barraquinhas vendendo cachorrinhos, gatinhos e várias plantas e flores.No final, comprei duas mudas de plantas pra ele: — Seu apartamento tá muito sem vida. Tô te dando essas plan
Assim como eu, com o rosto tenso, estava Sebastião parado na porta. Desde que terminamos, parecia que toda vez que nos encontrávamos era sempre em situações que nos faziam perder a cabeça. E desta vez não era diferente: eu estava brincando e rindo com George, enquanto ele estava acompanhado de Lídia. Então era essa a tal "separação" que ele tanto mencionava? Homens e suas mentiras, não falhavam nunca. Recuperei-me rapidamente do meu momento de surpresa e desviei o olhar. Alguns rostos, quanto menos vistos, melhor. George, por sua vez, fingiu que não viu nada, segurou minha mão, mas em vez de tentar pegar meu celular, apenas sorriu e disse: — Se quer me fotografar, que tal outra hora, para você me pegar bem bonito? Aquela frase... Tinha um certo tom provocativo, íntimo, uma vibe de casal à vontade um com o outro.Sebastião se aproximou com passos largos: — Carolina, venha comigo lá fora.Era uma ordem, uma exigência de alguém acostumado a ser obedecido, e ainda por cima, com Líd
Ao ouvir Lídia conversando com a enfermeira, finalmente entendi que ela havia caído no parque de diversões e acabou ameaçando a gravidez. No fim das contas, ela realmente se meteu em encrenca, mas quem mandou? Ela insistiu em ir se aventurar no parque, agora tinha que encarar as consequências.Com o soro já aplicado, Lídia e Sebastião se sentaram bem em frente a mim e George. Pelo visto, ele não ia sossegar até causar algum problema essa noite. No entanto, ao se sentar, Sebastião ficou em silêncio, como se quisesse nos ignorar. Mas nós fizemos o mesmo: fingimos que ele era apenas ar.Contudo, não demorou muito para ele mostrar a que veio. Não podia ficar calado por muito tempo. Menos de dois minutos de silêncio e ele já estava me questionando:— Carolina, o que você quis dizer trazendo ele para casa hoje?Para ser honesta, eu já esperava essa reação histérica dele. Claro que ele estaria fora de si por causa da cena de hoje. Eu me mantive calma e respondi, com um tom de voz sereno:—
Eu senti claramente o corpo de George estremecer por um segundo. Ele provavelmente não esperava que eu fosse beijá-lo de forma tão repentina. Mas, no instante seguinte, sua mão grande envolveu minha cintura, e foi aí que me afastei dos seus lábios, sorrindo de leve para ele:— Prêmio por se comportar tão bem durante a injeção.Ao dizer isso, uma lembrança veio à tona: Sebastião, doente, sempre fazia um drama absurdo quando precisava tomar uma injeção. Ele morria de medo, a ponto de preferir sofrer em silêncio a ir ao hospital. Para ele, uma simples injeção era uma tortura medieval; parecia uma criança birrenta, a um passo de começar a chorar.Eu tinha que mimá-lo como uma criança mimada, tapando seus olhos e, às vezes, até deixando ele morder meu braço para aliviar a dor da agulha. A cada injeção que ele tomava, eu suspirava aliviada como se tivesse completado uma missão impossível. E ele ainda exigia uma recompensa depois, queria que eu dançasse, cantasse ou comprasse alguma coisa pa
Eu nunca tinha pensado nisso antes. Mas, se fosse para responder, provavelmente não. Afinal, não eu era de beijar muitas pessoas. Mesmo tendo gostado tanto do Sebastião, só o beijei de verdade quando ele estava doente, fraco ou dormindo depois de beber, e mesmo assim, era só na bochecha ou na mão.Mas o que aconteceu com o George agora foi um beijo de verdade, de lábios se tocando. Algo que eu e Sebastião raramente tivemos.Quando Sebastião me beijava, era só na bochecha ou na testa. Beijos de verdade, com paixão, nunca aconteceram.Lembro que ele me disse uma vez que estávamos tão acostumados um com o outro que já não sentia mais aquela chama, e por isso não conseguia me beijar com paixão.No fundo, o que ele sentia era falta de amor. Diziam que quando um casal se beijava de verdade, com intensidade, o corpo liberava dopamina, uma reação incontrolável. Então, quando não havia vontade de beijar, era porque não havia amor.— Eu não sou de fazer suposições. — Respondi para George.Ele ap
— Sou eu!A voz familiar ecoou pelo corredor.Segurei o corrimão e parei de repente, sentindo o alívio percorrer meu corpo.Depois de alguns segundos, me virei e continuei subindo as escadas, até ver George, encostado na parede, meio escondido na sombra.A lembrança do nosso encontro anterior me deixou sem saber o que dizer. Mas a verdade era que ele tinha me assustado, então deixei transparecer minha irritação:— Você não sabe que desse jeito acaba assustando as pessoas?— Hum. — Foi tudo o que ele disse.Aquele "hum" dele... Tão frio e distante, era impossível não ficar irritada.Eu estava prestes a dizer mais alguma coisa, mas ele se adiantou, falando em um tom baixo:— Não vai acontecer de novo.Isso me deixou sem palavras. Peguei a chave e comecei a destrancar a porta, mas, antes de conseguir, ele falou novamente, em um tom ainda mais profundo:— Sobre hoje à noite... Eu pensei demais. Não vai se repetir.Fiquei surpresa com a confissão. Virei-me para olhar para ele, e George já e
Eu soltei uma risada contida e assenti:— Quero pegar logo o jeito dos negócios da empresa.— Entendo, mas você está chegando cedo demais. E olha que a empresa não paga hora extra. — Edgar brincou.Sorri de leve.— Estou fazendo isso de forma voluntária.— Por isso que você chegou a ser chefe de departamento. Se todo mundo tivesse a sua dedicação, o Grupo Sol estaria no topo em pouco tempo. — Edgar comentou, me elogiando de forma exagerada, como sempre fazia.Ele tinha esse jeito de falar, misturando o sério com o brincalhão. Eu já sabia que não dava para levar tudo ao pé da letra.— Mas, falando sério, o crescimento da empresa não pode depender só de você. Eu vejo o quanto você se esforça, e já comentei com o grande chefe. Ele disse que não quer mais que você exagere. Se você acabar tendo um problema de saúde, quem vai sair perdendo é a empresa. — Edgar disse, me tirando qualquer chance de continuar chegando cedo.Tudo bem. Assim, pelo menos, eu não precisaria mais fugir do George.No