Assim como eu, com o rosto tenso, estava Sebastião parado na porta. Desde que terminamos, parecia que toda vez que nos encontrávamos era sempre em situações que nos faziam perder a cabeça. E desta vez não era diferente: eu estava brincando e rindo com George, enquanto ele estava acompanhado de Lídia. Então era essa a tal "separação" que ele tanto mencionava? Homens e suas mentiras, não falhavam nunca. Recuperei-me rapidamente do meu momento de surpresa e desviei o olhar. Alguns rostos, quanto menos vistos, melhor. George, por sua vez, fingiu que não viu nada, segurou minha mão, mas em vez de tentar pegar meu celular, apenas sorriu e disse: — Se quer me fotografar, que tal outra hora, para você me pegar bem bonito? Aquela frase... Tinha um certo tom provocativo, íntimo, uma vibe de casal à vontade um com o outro.Sebastião se aproximou com passos largos: — Carolina, venha comigo lá fora.Era uma ordem, uma exigência de alguém acostumado a ser obedecido, e ainda por cima, com Líd
Ao ouvir Lídia conversando com a enfermeira, finalmente entendi que ela havia caído no parque de diversões e acabou ameaçando a gravidez. No fim das contas, ela realmente se meteu em encrenca, mas quem mandou? Ela insistiu em ir se aventurar no parque, agora tinha que encarar as consequências.Com o soro já aplicado, Lídia e Sebastião se sentaram bem em frente a mim e George. Pelo visto, ele não ia sossegar até causar algum problema essa noite. No entanto, ao se sentar, Sebastião ficou em silêncio, como se quisesse nos ignorar. Mas nós fizemos o mesmo: fingimos que ele era apenas ar.Contudo, não demorou muito para ele mostrar a que veio. Não podia ficar calado por muito tempo. Menos de dois minutos de silêncio e ele já estava me questionando:— Carolina, o que você quis dizer trazendo ele para casa hoje?Para ser honesta, eu já esperava essa reação histérica dele. Claro que ele estaria fora de si por causa da cena de hoje. Eu me mantive calma e respondi, com um tom de voz sereno:—
Eu senti claramente o corpo de George estremecer por um segundo. Ele provavelmente não esperava que eu fosse beijá-lo de forma tão repentina. Mas, no instante seguinte, sua mão grande envolveu minha cintura, e foi aí que me afastei dos seus lábios, sorrindo de leve para ele:— Prêmio por se comportar tão bem durante a injeção.Ao dizer isso, uma lembrança veio à tona: Sebastião, doente, sempre fazia um drama absurdo quando precisava tomar uma injeção. Ele morria de medo, a ponto de preferir sofrer em silêncio a ir ao hospital. Para ele, uma simples injeção era uma tortura medieval; parecia uma criança birrenta, a um passo de começar a chorar.Eu tinha que mimá-lo como uma criança mimada, tapando seus olhos e, às vezes, até deixando ele morder meu braço para aliviar a dor da agulha. A cada injeção que ele tomava, eu suspirava aliviada como se tivesse completado uma missão impossível. E ele ainda exigia uma recompensa depois, queria que eu dançasse, cantasse ou comprasse alguma coisa pa
Eu nunca tinha pensado nisso antes. Mas, se fosse para responder, provavelmente não. Afinal, não eu era de beijar muitas pessoas. Mesmo tendo gostado tanto do Sebastião, só o beijei de verdade quando ele estava doente, fraco ou dormindo depois de beber, e mesmo assim, era só na bochecha ou na mão.Mas o que aconteceu com o George agora foi um beijo de verdade, de lábios se tocando. Algo que eu e Sebastião raramente tivemos.Quando Sebastião me beijava, era só na bochecha ou na testa. Beijos de verdade, com paixão, nunca aconteceram.Lembro que ele me disse uma vez que estávamos tão acostumados um com o outro que já não sentia mais aquela chama, e por isso não conseguia me beijar com paixão.No fundo, o que ele sentia era falta de amor. Diziam que quando um casal se beijava de verdade, com intensidade, o corpo liberava dopamina, uma reação incontrolável. Então, quando não havia vontade de beijar, era porque não havia amor.— Eu não sou de fazer suposições. — Respondi para George.Ele ap
— Sou eu!A voz familiar ecoou pelo corredor.Segurei o corrimão e parei de repente, sentindo o alívio percorrer meu corpo.Depois de alguns segundos, me virei e continuei subindo as escadas, até ver George, encostado na parede, meio escondido na sombra.A lembrança do nosso encontro anterior me deixou sem saber o que dizer. Mas a verdade era que ele tinha me assustado, então deixei transparecer minha irritação:— Você não sabe que desse jeito acaba assustando as pessoas?— Hum. — Foi tudo o que ele disse.Aquele "hum" dele... Tão frio e distante, era impossível não ficar irritada.Eu estava prestes a dizer mais alguma coisa, mas ele se adiantou, falando em um tom baixo:— Não vai acontecer de novo.Isso me deixou sem palavras. Peguei a chave e comecei a destrancar a porta, mas, antes de conseguir, ele falou novamente, em um tom ainda mais profundo:— Sobre hoje à noite... Eu pensei demais. Não vai se repetir.Fiquei surpresa com a confissão. Virei-me para olhar para ele, e George já e
Eu soltei uma risada contida e assenti:— Quero pegar logo o jeito dos negócios da empresa.— Entendo, mas você está chegando cedo demais. E olha que a empresa não paga hora extra. — Edgar brincou.Sorri de leve.— Estou fazendo isso de forma voluntária.— Por isso que você chegou a ser chefe de departamento. Se todo mundo tivesse a sua dedicação, o Grupo Sol estaria no topo em pouco tempo. — Edgar comentou, me elogiando de forma exagerada, como sempre fazia.Ele tinha esse jeito de falar, misturando o sério com o brincalhão. Eu já sabia que não dava para levar tudo ao pé da letra.— Mas, falando sério, o crescimento da empresa não pode depender só de você. Eu vejo o quanto você se esforça, e já comentei com o grande chefe. Ele disse que não quer mais que você exagere. Se você acabar tendo um problema de saúde, quem vai sair perdendo é a empresa. — Edgar disse, me tirando qualquer chance de continuar chegando cedo.Tudo bem. Assim, pelo menos, eu não precisaria mais fugir do George.No
O grande chefe era uma figura enigmática. Ninguém o via, mas ele parecia saber de tudo o que acontecia na empresa.Sebastião virou sua fúria para Edgar.— Não aprovou? Você sabe com quem está falando? Sabe quem eu sou? — Ele parecia um magnata arrogante, cheio de si.Edgar, com sua xícara de café na mão, respondeu com um sorriso que não chegava aos olhos:— Meu chefe sabe muito bem quem você é. E foi exatamente por isso que ele decidiu não fechar o negócio.Edgar não era de falar muito, mas quando falava, acertava em cheio.Sebastião ficou à beira de explodir.— Quem é seu chefe? Ele acha que pode sobreviver em Cidade A sem fazer negócios comigo?— Meu chefe disse que, mesmo que ele saísse de Cidade A, ainda assim não faria negócio com você. — Edgar respondeu, provocando ainda mais.O rosto de Sebastião ficou visivelmente mais escuro, as veias em sua testa pulsando de raiva.— Tudo bem. Vocês vão se arrepender. Diga isso ao seu chefe. — Sebastião falou, com os dentes cerrados.— Pode d
— Sr. Edgar, você tem alguma informação sobre o grande chefe? — Perguntei. Já que não conseguia vê-lo pessoalmente, ao menos saber quem ele era poderia me dar alguma clareza.Edgar levantou os olhos para mim:— Agora você está curiosa sobre o chefe?— Sim, ele é muito misterioso, e isso só me deixa mais curiosa. — Respondi com sinceridade.Edgar terminou de moer o café e, cheirando o aroma que subia do pó fresco, comentou:— Humm, que cheiro bom.Ele me olhou e sorriu:— Que tal? Vou preparar uma xícara para você.— Não precisa. — Respondi. A verdade é que eu estava inquieta demais para apreciar um café. Minha curiosidade sobre o chefe misterioso já havia tomado conta de mim.Edgar levantou o recipiente com o pó de café na minha direção:— Esses grãos foram um presente do grande chefe. Tem certeza de que não quer experimentar?— Prefiro conhecer o homem por trás do café do que tomar o café que ele me enviou. — Falei, deixando claro o que realmente queria.Edgar soltou uma risada, mas n