Eu nunca tinha pensado nisso antes. Mas, se fosse para responder, provavelmente não. Afinal, não eu era de beijar muitas pessoas. Mesmo tendo gostado tanto do Sebastião, só o beijei de verdade quando ele estava doente, fraco ou dormindo depois de beber, e mesmo assim, era só na bochecha ou na mão.Mas o que aconteceu com o George agora foi um beijo de verdade, de lábios se tocando. Algo que eu e Sebastião raramente tivemos.Quando Sebastião me beijava, era só na bochecha ou na testa. Beijos de verdade, com paixão, nunca aconteceram.Lembro que ele me disse uma vez que estávamos tão acostumados um com o outro que já não sentia mais aquela chama, e por isso não conseguia me beijar com paixão.No fundo, o que ele sentia era falta de amor. Diziam que quando um casal se beijava de verdade, com intensidade, o corpo liberava dopamina, uma reação incontrolável. Então, quando não havia vontade de beijar, era porque não havia amor.— Eu não sou de fazer suposições. — Respondi para George.Ele ap
— Sou eu!A voz familiar ecoou pelo corredor.Segurei o corrimão e parei de repente, sentindo o alívio percorrer meu corpo.Depois de alguns segundos, me virei e continuei subindo as escadas, até ver George, encostado na parede, meio escondido na sombra.A lembrança do nosso encontro anterior me deixou sem saber o que dizer. Mas a verdade era que ele tinha me assustado, então deixei transparecer minha irritação:— Você não sabe que desse jeito acaba assustando as pessoas?— Hum. — Foi tudo o que ele disse.Aquele "hum" dele... Tão frio e distante, era impossível não ficar irritada.Eu estava prestes a dizer mais alguma coisa, mas ele se adiantou, falando em um tom baixo:— Não vai acontecer de novo.Isso me deixou sem palavras. Peguei a chave e comecei a destrancar a porta, mas, antes de conseguir, ele falou novamente, em um tom ainda mais profundo:— Sobre hoje à noite... Eu pensei demais. Não vai se repetir.Fiquei surpresa com a confissão. Virei-me para olhar para ele, e George já e
Eu soltei uma risada contida e assenti:— Quero pegar logo o jeito dos negócios da empresa.— Entendo, mas você está chegando cedo demais. E olha que a empresa não paga hora extra. — Edgar brincou.Sorri de leve.— Estou fazendo isso de forma voluntária.— Por isso que você chegou a ser chefe de departamento. Se todo mundo tivesse a sua dedicação, o Grupo Sol estaria no topo em pouco tempo. — Edgar comentou, me elogiando de forma exagerada, como sempre fazia.Ele tinha esse jeito de falar, misturando o sério com o brincalhão. Eu já sabia que não dava para levar tudo ao pé da letra.— Mas, falando sério, o crescimento da empresa não pode depender só de você. Eu vejo o quanto você se esforça, e já comentei com o grande chefe. Ele disse que não quer mais que você exagere. Se você acabar tendo um problema de saúde, quem vai sair perdendo é a empresa. — Edgar disse, me tirando qualquer chance de continuar chegando cedo.Tudo bem. Assim, pelo menos, eu não precisaria mais fugir do George.No
O grande chefe era uma figura enigmática. Ninguém o via, mas ele parecia saber de tudo o que acontecia na empresa.Sebastião virou sua fúria para Edgar.— Não aprovou? Você sabe com quem está falando? Sabe quem eu sou? — Ele parecia um magnata arrogante, cheio de si.Edgar, com sua xícara de café na mão, respondeu com um sorriso que não chegava aos olhos:— Meu chefe sabe muito bem quem você é. E foi exatamente por isso que ele decidiu não fechar o negócio.Edgar não era de falar muito, mas quando falava, acertava em cheio.Sebastião ficou à beira de explodir.— Quem é seu chefe? Ele acha que pode sobreviver em Cidade A sem fazer negócios comigo?— Meu chefe disse que, mesmo que ele saísse de Cidade A, ainda assim não faria negócio com você. — Edgar respondeu, provocando ainda mais.O rosto de Sebastião ficou visivelmente mais escuro, as veias em sua testa pulsando de raiva.— Tudo bem. Vocês vão se arrepender. Diga isso ao seu chefe. — Sebastião falou, com os dentes cerrados.— Pode d
— Sr. Edgar, você tem alguma informação sobre o grande chefe? — Perguntei. Já que não conseguia vê-lo pessoalmente, ao menos saber quem ele era poderia me dar alguma clareza.Edgar levantou os olhos para mim:— Agora você está curiosa sobre o chefe?— Sim, ele é muito misterioso, e isso só me deixa mais curiosa. — Respondi com sinceridade.Edgar terminou de moer o café e, cheirando o aroma que subia do pó fresco, comentou:— Humm, que cheiro bom.Ele me olhou e sorriu:— Que tal? Vou preparar uma xícara para você.— Não precisa. — Respondi. A verdade é que eu estava inquieta demais para apreciar um café. Minha curiosidade sobre o chefe misterioso já havia tomado conta de mim.Edgar levantou o recipiente com o pó de café na minha direção:— Esses grãos foram um presente do grande chefe. Tem certeza de que não quer experimentar?— Prefiro conhecer o homem por trás do café do que tomar o café que ele me enviou. — Falei, deixando claro o que realmente queria.Edgar soltou uma risada, mas n
As palavras de Ana fizeram meu coração disparar.— O que houve? Calma, explica com mais detalhes.— Vieram uns caras no parque de diversões para arranjar confusão com o George. São vários, todos cobertos de tatuagens, bem assustadores. — Ela disse, com a voz trêmula.O nó em meu peito se desfez um pouco. Pensei que fosse algo mais grave. Pelo visto, eram apenas encrenqueiros querendo problemas com George.Apesar de Ana estar claramente apavorada e de os homens parecerem ameaçadores, eu não me preocupei tanto. Algo me dizia que George saberia lidar com a situação.Eu mesma não entendia bem de onde vinha essa confiança, mas eu simplesmente sabia que ninguém conseguiria machucá-lo.— Eles já fizeram alguma coisa? — Perguntei.— Ainda não. Eles estão procurando por ele, mas logo vão encontrá-lo. O que faço, Carolina? Devo chamar a polícia? — Ana perguntou, quase chorando.Pensei por alguns segundos.— Primeiro, encontre George e pergunte o que ele acha. Deixe ele decidir se é caso para cha
As palavras seguintes de George me soaram estranhamente familiares. Edgar havia dito algo muito parecido mais cedo, ou melhor, não foi Edgar, mas sim o grande chefe, segundo ele. Isso fez com que meu olhar recaísse sobre George, mas logo descartei a ideia. Por mais que eu tentasse, não conseguia imaginar nenhuma conexão entre ele e o tal chefe.— Caramba, que coragem! — O careca à frente soltou uma risada sarcástica. — Já que você é tão durão, hoje vai aprender o preço de ser assim.Enquanto falava, ele estalou o pescoço, fazendo um barulho seco. Logo em seguida, gritou:— Quebrem tudo!Imediatamente, os homens atrás dele começaram a destruir o parque de diversões. George não se moveu, e eu sabia o porquê. Ele não estava com medo. Ele sabia que, se esses homens causassem danos no parque, estariam mexendo com algo muito maior: os negócios de Sebastião. A situação passaria a outro nível.Nesse momento, os seguranças do parque apareceram. Talvez não se importassem com os problemas pessoa
— O que está acontecendo aqui? — A voz fria de Sebastião ecoou pelo parque. Ele falava com aquele tom distante e autoritário típico de um CEO.A transformação era impressionante. Não havia mais traço do homem que, há pouco, estava tentando me provocar com piadas. Dizem que as mulheres mudam de atitude rápido, mas os homens, às vezes, não ficam atrás.O chefe dos seguranças, ainda pálido de susto e com as pernas trêmulas, correu até ele para explicar a situação.Quando terminou de ouvir o relato, Sebastião dirigiu seu olhar para George:— Então, tudo isso foi causado por uma rixa pessoal sua, George?Naquele momento, percebi que Sebastião estava tentando colocar a culpa em George.Mas George não mordeu a isca. Manteve-se em silêncio. Isso fez com que uma expressão irônica surgisse nos lábios de Sebastião.— George, o que está acontecendo? — Ele perguntou, com um tom de falsa curiosidade.— Foi exatamente como ele relatou. — Respondeu George, sem tentar se esquivar.Sebastião se abaixou,