Ela não acreditou e deu mais um tapa nele:— Não use a Carol para me distrair, eu não caio nessa.— Milha tia! — Chamei.Ela estremeceu ao me ouvir, virou-se e, ao me ver, os olhos brilharam, mas logo percebeu que eu provavelmente tinha presenciado a cena íntima e seu rosto ficou imediatamente vermelho.Ela soltou a mão do senhor João e veio na minha direção:— Carol, você chegou. Já comeu? Vou pedir para a tia Maria preparar algo.— Eu já comi. — Menti. Não tinha comido nada.Na hora, lembrei-me de que ainda não perguntei se George tinha comido.— Porque você não veio comer em casa? — Ela me repreendeu suavemente.Ela agia como se não tivesse visto George e não dirigiu nenhuma palavra a ele. Eu sabia que não era por falta de atenção nem por estar tão concentrada em mim. Essa era a maneira dela de mostrar sua desaprovação.Mas, como uma dama de uma família poderosa, a senhora Cátia não demorou muito a notar George e, após meia-minuto, olhou para ele:— É amigo da Carol, cert
George então virou a cabeça e olhou para mim.Ao mesmo tempo, senti a mão dele apertar a minha, claramente mais forte.Naquele instante, tive a sensação de que ele estava segurando o meu coração.Dizem que os dedos estão conectados ao coração, e essa frase nunca fez tanto sentido.— Vou dar tudo de mim para a Carina, amá-la como amo a minha própria vida e protegê-la.George me encarava, e nos olhos dele, profundos como o mar, havia um brilho suave. Diz que amor profundo como o oceano... finalmente entendi o que essa expressão significava.Embora nosso relacionamento fosse uma encenação, eu sentia que George estava me fazendo uma verdadeira declaração de amor.Esse homem é um verdadeiro cafajeste.Fazendo o falso parecer real.Ele disse isso e, então, me vi obrigada a corresponder. Levantei a mão para segurar a dele em resposta, mas sua postura me fez ranger os dentes; pedi que ele interpretasse, não que trouxesse esse teatro para a realidade.Por isso, levantei a mão e aperte
Desde que não era mais obrigada a praticar a caligrafia com o João, eu mal pegava numa caneta. Embora não fosse mais tão jovem, meu comportamento lembrava o de uma criança na escola: se havia uma oportunidade de evitar o esforço, eu não hesitava.— Não tem problema, escreva sem medo. O que sair está ótimo. — João me encorajou, estendendo a caneta em minha direção mais uma vez.Diante disso, não tive outra escolha a não ser aceitar.Eu já havia segurado aquela caneta antes, mas no instante em que a peguei dessa vez, ela pareceu muito mais pesada. Talvez fosse por estar mergulhada em tinta, ou talvez fosse o olhar cheio de expectativa de João.Ele esperava que eu ainda fosse capaz de escrever como antes, que eu ainda tivesse no meu coração e na minha mente apenas o Sebastião. Assim, eu continuaria sendo a menina da família Martins.Com a mão trêmula, comecei a escrever, mas, apesar dos meus esforços, as letras saíam desiguais, sem firmeza.Eu sabia que João não estava interessado na bele
João parou imediatamente, e eu pude notar que ele se desequilibrou por um momento.Rapidamente o segurei.— Tio...Ele se virou para mim.— Carol, por que está perguntando isso de repente?Eu me lembrei das palavras de George, mas não podia contar a João, então disfarcei.— Foi só um comentário, falei sem pensar.O sorriso no rosto de João desapareceu por completo, e sua expressão séria me fez sentir um frio na espinha.— Carol, o acidente dos seus pais foi, sim, uma fatalidade. Eu estive no local pessoalmente, e há registros policiais e laudos que confirmam isso. — Disse ele com um tom pesado.Na época do acidente, eu não fui ao local e nunca soube exatamente o que aconteceu.Eu sabia que João não havia permitido que eu fosse porque queria me poupar de ver algo tão cruel, mas isso se tornou meu maior arrependimento.— Carol, se você tem dúvidas, ou se não acredita, pode consultar os registros daquela época. — Ele continuou, seu rosto pálido, muito diferente do homem que há pouco sorri
— Tudo bem. — Concordei, olhando para Cátia. — Tia, nós vamos indo.Cátia pareceu perceber que eu não estava bem. Ela lançou um olhar para o andar de cima, provavelmente curiosa sobre o que eu e João havíamos conversado, mas não insistiu para que ficássemos.— Vão com cuidado.George e eu saímos. Assim que entramos no carro, antes mesmo de eu dar a partida, ele segurou minha mão.— O que aconteceu?— Nada demais. Só falei sobre meus pais. — Respondi, sem esconder nada dele.— Foi sobre o acidente? — George adivinhou imediatamente.Soltei uma risada um pouco amarga.— Culpa sua. Fiquei pensando nisso e quis perguntar.— E aí? — Ele insistiu.Lembrando das palavras de João, liguei o carro e pisei no acelerador, ao mesmo tempo em que dava minha resposta para George.— Um acidente, só isso.Enquanto saíamos da Mansão Martins, acrescentei:— O laudo da perícia está lá. Tudo documentado.George não disse mais nada, e seguimos nosso caminho. Já era noite, e as luzes da cidade brilhavam intens
Beijos, abraços, até mesmo de mãos dadas, tudo isso fazia parte de um acordo que eu havia feito com aquele homem no encontro às cegas. E agora George mencionava isso... Como ele sabia daquilo?Parece que, naquela noite em que ele deu uma surra no cara com quem eu havia saído, houve mais coisas que ele nunca me contou. Esse George nunca deixava de me surpreender.Mas ele não me beijou. Em vez disso, segurou firme a minha mão e abriu caminho pela multidão, levando-me a correr junto com ele...Foi a primeira vez que experimentei a sensação de correr no meio de uma multidão. As pessoas ao nosso redor olhavam surpresas, sem entender por que estávamos correndo, mas, educadamente, abriram espaço para que passássemos.A rua, normalmente caótica e cheia, foi se abrindo para nós. George me puxava pela mão, e de tempos em tempos olhava para mim, como se quisesse ter certeza de que eu estava bem. A cena parecia tirada de um filme, algo surreal e mágico.O vento bagunçava meu cabelo, e, enquanto co
— Então experimenta. — Disse George, levantando o sorvete dele em direção à minha boca.Instintivamente, virei o rosto para o lado, mas ele insistiu, erguendo o sorvete mais uma vez, como se não fosse desistir até que eu provasse. Não tive escolha a não ser abrir a boca e morder uma parte. O sabor era doce e cremoso, realmente muito bom. Embora não fosse ruim, eu ainda preferia o meu, que tinha um toque frutado e mais suave.Mas, ao ver o olhar de expectativa de George, não tive coragem de dizer isso e balancei a cabeça, fingindo estar impressionada.— Está ótimo! — Murmurei, com a boca cheia.— Agora quero provar o seu. — Ele disse, sem sequer tocar no sorvete dele, mas já fazendo esse pedido.Meu reflexo foi esconder o meu sorvete atrás do corpo, como uma criança que não quer dividir o doce.George riu.— Eu só quero experimentar um pouquinho, não vou pegar tudo. Que exagero!Depois de soltar uma risada, ele continuou:— Que mesquinha você é, hein?De fato, eu estava sendo um pouco
Eu pedi um açaí na tigela, meu favorito.George olhou para o meu pedido e franziu a testa.— O que foi? Não gosta de açaí? — Perguntei, provocando.— Acho que você não deveria comer tanto disso tarde da noite. É muito gelado. — Ele respondeu, sério.Eu ri.— Você entende bastante de mulheres, hein? Tem certeza de que nunca teve uma namorada?— Nunca. — Ele afirmou, com toda a certeza do mundo.Eu revirei os olhos, claramente não acreditando.— Tenho uma irmã, por isso sei que as meninas não devem comer coisas muito frias. Pode causar cólica. — Explicou George, interrompendo minha mordida.Uma irmã? Ele nunca havia mencionado isso antes.Parecendo ler meus pensamentos, ele acrescentou:— Minha irmã de sangue. Mesmos pais.Desviei o olhar, pegando outra colherada de açaí.— Você nunca tinha falado sobre ela.— Nunca tive a oportunidade certa de falar. — Disse ele, pegando uma colherada do açaí. Pude ver claramente que ele não gostou.Ele não era fã de açaí, assim como Sebastião nunca gos