— O que aconteceu para você ficar a tarde toda com ele? — Perguntou Marcelo, sem esconder o descontentamento.— Eu já expliquei. Acabei dormindo lá. — Respondeu Esther, sem muita paciência.— Se queria descansar, por que não voltou para cá? Você sabe que isso pode dar margem para fofocas. Um homem e uma mulher sozinhos... Não pega bem. — Insistiu Marcelo, com um tom mais sério.Esther arqueou uma sobrancelha, claramente irritada.— Fofoca por quê? Não estávamos sozinhos, havia crianças por perto. Além disso, eu e Bernardo somos inocentes. Quem quiser falar, que fale. Não estamos mais no século passado! Que mentalidade atrasada, hein?Marcelo apertou os lábios, e seu rosto escureceu com um misto de frustração e constrangimento.— E outra coisa. — Continuou Esther. — Hoje de manhã você sumiu, ninguém sabia onde você estava. Eu só fui cuidar da minha vida. Isso não é um problema, é? Mas deixa para lá, não quero brigar.Ela balançou a cabeça, indicando que queria encerrar o assunto ali.—
— Todo mundo na família confirmou! Eu sou sua irmã perdida há anos! — Rebateu Estrella, enfatizando as palavras.— Você mesma disse que foi separada da família por muito tempo. — Retrucou Bernardo, com um olhar frio. — E se a pessoa que voltou não for quem diz ser? Se não quiser que as coisas piorem, pare de interferir na minha vida.Estrella apertou os punhos com tanta força que as mãos tremiam. Aquela foi a primeira vez que Bernardo falava com ela em um tom tão duro. Ele duvidava dela! Isso deixou ela inquieta.Bernardo claramente não dava importância para ela, mas também não queria que ela atrapalhasse sua rotina. Evitava voltar para casa justamente para reduzir o contato com ela, já que a proximidade apenas aumentava seu desagrado.Porém, Estrella parecia incapaz de entender.Sem dizer mais nada, Bernardo se virou e foi embora, deixando Estrella sozinha, com uma expressão de fúria que deformava seu rosto.— Senhorita, não leve tão a sério o que o Sr. Bernardo disse... — Começou Ade
Esther observou Bernardo sair da sala. Assim que ele fechou a porta, ela se aproximou da escrivaninha. Havia algumas letras escritas e alguns livros estrangeiros empilhados.Curiosa, abriu um deles e viu um marcador cair.Ela o pegou. À primeira vista, parecia comum, mas o desenho no marcador chamou sua atenção. “Onde foi que já vi isso antes?”, pensando um pouco, Esther se lembrou daquele símbolo estava nas roupas das pessoas que a perseguiram junto com Rita. Um arrepio percorreu sua espinha. Não podia ser coincidência.Esse símbolo devia era um tipo de emblema. Estaria Bernardo envolvido com o Faraó?Antes que pudesse pensar em mais alguma coisa, Bernardo entrou, segurando duas tigelas de macarrão.— Está pronto. — Ele colocou as tigelas na mesa e sorriu de forma descontraída. — Vem comer logo.Esther rapidamente escondeu o marcador na manga e respondeu, tentando não demonstrar nervosismo:— Certo.Eles se sentaram um de frente para o outro. Na mesa, apenas o básico, macarrão simples
Esther ficou chocada. Estendeu o braço, olhando para a pulseira de contas que sempre usava.— O que você disse? Essa pulseira era da sua mãe?— Sim. — Bernardo fixou o olhar no pulso dela.— Isso é impossível. — Esther balançou a cabeça, incrédula. — Como você pode ter tanta certeza? É só uma pulseira comum. Não deve ser única.— É única, sim. — Bernardo respondeu com firmeza.Esther olhou para ele, confusa e atordoada.— Acho que você não entende muito de pedras preciosas, né? — Bernardo explicou com calma. — Aqui na nossa região, a jade é algo especial. Cada peça é única. Não existem duas iguais no mundo. Essa pulseira era da minha mãe, por isso eu tenho dúvidas sobre quem você realmente é. Será que você é só a Esther mesmo?Esther apertou os punhos. Tirou a pulseira e a colocou sobre a mesa.— Essa pulseira nem era minha. Um amigo me deu. Ele me entregou...A imagem de Geraldo surgiu na mente dela. Foi ele quem deu a pulseira. Mas nunca explicou o motivo. Apenas disse que era para t
Os olhos de Marcelo ficaram sombrios. Na noite anterior, o veneno que o afetava se manifestou novamente. Ele não conseguiu ficar ao lado de Esther.— Me desculpe. — Sua voz era baixa.— Não é desculpa que eu quero. — Esther respondeu, se soltando dele.Marcelo, no entanto, não permitiu, ele a puxou de volta para seus braços.— Ontem você estava brava e eu também. Tive medo de brigarmos mais. Achei melhor esperar você se acalmar para vir falar.No abraço dele, Esther levantou o rosto e olhou em seus olhos. Sabia que aqueles olhos não mentiam. Mas, mesmo assim, sentia que ele não entendia completamente o que se passava dentro dela.— Da próxima vez que eu ficar brava, você tem que me consolar. — Ela falou com firmeza. — Não importa se eu vou perdoar você ou não. Quero que você tente. Se você não fizer isso, vou achar que não se importa comigo. E, com o tempo, vou pensar que você não me ama mais.— É assim que funciona? — Marcelo ficou surpreso.Esther se sentou e o encarou.— Você só per
— Sumiu? Como assim a Luciana desapareceu de repente? — O coração de Esther disparou.— Não sei, não sei... Minha irmã disse que ia até a floresta caçar um javali, mas não voltou. Ela sumiu... — Kauan soluçava sem parar.— Caçar javali? Por quê?— Para cozinhar. — O garoto enxugou o rosto, mas as lágrimas não paravam de cair. — Minha irmã disse que não tinha mais carne em casa. Queria pegar um javali e preparar algo gostoso para você, professora Esther. O que a gente faz agora? Como vamos encontrar minha irmã?Kauan estava tão aflito que mal conseguia respirar, o rosto estava cheio de lágrimas e o nariz escorrendo.Esther respirou fundo, tentando se acalmar. Algo parecia estranho.— E seus pais? Onde eles estão?— Meu pai e minha mãe foram para a floresta procurar minha irmã, mas até agora não voltaram.— Então vamos também. — Esther pensou por um momento e completou. — Mas é melhor pedirmos ajuda. Quanto mais gente, mais rápido achamos ela.— Professora Esther... — Kauan gaguejou, ten
O rosto de Esther ficou sério. Ela não recuou. Pelo contrário, deu alguns passos à frente com determinação. Parou e, com a voz firme, disse:— Apareçam! Eu sei que vocês estão por aqui!De trás de uma árvore, surgiu Luciana. Seu rosto estava pálido, as mãos amarradas e os olhos vermelhos de tanto chorar. Ela tentava se soltar, mas seus esforços eram em vão.Luciana tentou gritar, mas algo tampava sua boca.Logo atrás dela, apareceu um homem com uma expressão sombria. Ele segurava uma faca encostada no pescoço da garota.— Esperei muito por você. — A voz dele era fria. — Se não quer que ela morra, fique quieta e venha até aqui. Nada de gritar.Esther observou a situação com cuidado. Depois de alguns segundos, ela sorriu, mas seu tom era irônico.— Vocês realmente se esforçaram para me atrair até aqui. Se queriam tanto me encontrar, era só falar. Não precisava de tudo isso.— Dentro da aldeia? — O homem deu uma risada seca. — Lá seria impossível pegar você. Tivemos que usar outras estrat
Ademir mudou a expressão no mesmo instante.— Como você sabe disso? Quem te contou?Esther estreitou os olhos, fingindo mistério.— Sei de muita coisa. Você acha que sua chefe quer me matar por quê?Ademir hesitou, mas logo pareceu entender. Ele bufou e acusou:— Foi o Sr. Bernardo que te contou, né? Você é esperta mesmo, enganou até ele! — O tom dele ficou mais hostil, cheio de desprezo.— Por que você não fala da maldade da sua chefe? — Esther respondeu, o encarando.— Não fale dela! — Gritou Ademir, pressionando a lâmina contra o pescoço de Esther. — Está achando que pode falar o que quiser? Mais uma palavra e eu acabo com você!Esther engoliu em seco. A faca estava muito próxima, e ela sabia que qualquer movimento errado poderia ser fatal.Eles continuaram andando. Esther seguiu Ademir por entre as árvores. Ele parecia conhecer bem o caminho.— Você conhece bem essa floresta, né? Caminhou por aqui muitas vezes? — Perguntou Esther, tentando puxar conversa.Ademir revirou os olhos.—