Marcelo franziu levemente a testa, mas ainda assim tentou explicar:— Eu e Daniela não temos nada. Ela é apenas uma mulher que resgatei no caminho, junto com o filho dela.Esther soltou uma risada sarcástica ao ouvir aquilo.— Claro, eu já imaginei. Já ouvi histórias de quantas mulheres perdidas nessa guerra acabam precisando de ajuda. E você, bem, resolveu salvar justo ela. Não é porque achou que ela é bonita? Mas ela tem um filho, Marcelo. Se você tiver algo com ela, vai acabar como padrasto. Mas, se você gosta disso, quem sou eu para dizer alguma coisa?— Eu não sabia que ela tinha entrado na minha barraca. — Explicou Marcelo, tentando manter a calma. — Não é nada do que você está pensando. Eu só salvei ela porque o marido dela era do País B e nos ajudou muito antes de falecer. Só isso.Esther já estava no limite da paciência. Ela puxou o braço com força, se libertando do aperto dele, e respondeu de forma cortante:— Por que você está me explicando isso? Nós já nos divorciamos, Marc
Esther arregalou os olhos, completamente atônita. Tudo parecia um sonho. Ela não sabia como reagir.Marcelo, por sua vez, aprofundou o beijo, invadindo os lábios dela e roubando sua respiração, com uma intensidade que fazia o coração disparar.Ele puxou ela pela cintura, a abraçando com força, como se temesse perdê-la novamente. Seus gestos diziam tudo o que ele não conseguia colocar em palavras. Ele sentia saudade. Uma saudade avassaladora.Durante todos os momentos difíceis que enfrentou, era Esther quem reacendia sua vontade de viver. Ela era sua força, sua razão para seguir em frente.Esther, aos poucos, sentiu o calor desse sentimento. Ela percebeu a intensidade daquele abraço, o desespero contido naquele beijo. Não resistiu. Passou os braços ao redor das costas largas dele e respondeu com toda a paixão que guardava em si.Ela fechou os olhos, mas não conseguiu conter as lágrimas. Não sabia por que estava chorando, mas parecia impossível segurar a emoção.Uma lágrima escorreu pelo
— Eu não estou bem aqui? — Marcelo disse, com um leve sorriso no canto dos lábios. — Perto do que eles passam, minha vida é um luxo.Essas palavras fizeram os olhos de Esther arderem, quase transbordando em lágrimas. Ela olhou para cima, tentando segurar o choro. Não queria se deixar levar pela emoção que ele despertava nela, algo que sempre a desarmava.— Então, me diz uma coisa. Como foi que o meu veneno foi neutralizado? Onde você conseguiu o antídoto? — Perguntou ela, com a voz embargada de curiosidade e incredulidade.Era difícil acreditar que, depois de tanto esforço de várias pessoas para encontrar uma solução, o antídoto tivesse aparecido como se fosse obra do acaso.Marcelo ficou em silêncio por alguns segundos, como se pesasse as palavras.— Eu consegui pedindo.— Pedindo a quem? — Esther franziu a testa.— Ao meu pai. — Disse Marcelo, de forma direta.A resposta pegou Esther de surpresa.— Seu pai?— Não o Vitor. — Corrigiu ele, o tom frio. — Meu pai biológico.Esther ficou
— Tem certeza? — Perguntou Marcelo, com a voz rouca. — Você não vai se arrepender?Ele queria a confirmação de Esther, não queria que ela tomasse uma decisão por impulso.— Não vou me arrepender. — Respondeu ela, olhando diretamente nos olhos dele. — Estamos casados há tanto tempo, pelo menos uma vez... Vamos ser um casal de verdade.Esther nunca exigiu muito de Marcelo, mas não conseguia aceitar que tudo entre eles fosse apenas de aparência. Afinal, como alguém que já amou tanto podia se contentar com um casamento de fachada?Mesmo já tendo um filho juntos, ela ainda sentia que faltava algo, como se houvesse um vazio que precisava ser preenchido antes do fim inevitável.— Tudo bem. — Disse Marcelo, se inclinando para beijar os lábios dela.O beijo começou suave, quase como se ele estivesse tocando algo sagrado, como se Esther fosse um presente inestimável que o destino lhe deu.Enquanto ele deslizava os dedos pelo corpo dela, cada toque era delicado, cheio de carinho. Esther sentia co
Logo cedo, eles foram chamados para trabalhar, o que deu espaço para Esther sair discretamente da barraca de Marcelo.Mesmo assim, as palavras de Durval, que não tinha ideia do que aconteceu, ainda ecoavam na mente dela. A lembrança da noite anterior fez seu rosto esquentar, mas ela respondeu com naturalidade:— Dormi muito bem, obrigada. Continuem com o trabalho de vocês.— Beleza, Srta. Esther! — Disse Durval, voltando ao serviço, sem perceber nada de estranho.Embora soubesse que a noite anterior foi real, Esther não conseguia evitar a sensação de que tudo parecia um sonho. Ainda mais com a ausência de Marcelo, que deixou a situação um pouco misteriosa.Ela decidiu não pensar muito no assunto. Se Marcelo voltasse, certamente ele falaria com ela. Por ora, Esther seguiu até onde algumas mulheres estavam trabalhando, ajudando a secar ervas medicinais.Assim que chegou, ouviu Luciana gritar animada:— Esther! Até que enfim você apareceu! Dormiu até tarde, foi? Ah, sabia que o professor
Elas não conseguiam esconder a preocupação com Bernardo. Ele, no entanto, parecia calma e as tranquilizou:— Não precisam se preocupar comigo.Esther o observou atentamente. Apesar da tragédia que assolou a aldeia, Bernardo parecia saber de tudo, mas não demonstrava nenhuma emoção a respeito.Ele então olhou para ela, com uma expressão amigável.— E aí, como tem sido para você? Já se acostumou com a vida aqui?— Já me acostumei. — Respondeu Esther. — Me dou bem com todo mundo.— Que bom. — Comentou ele, com os olhos brilhando brevemente antes de continuar. — Ouvi Luciana falar sobre o capitão Marcelo. Ele é do seu país, não é? Vi que estão ajudando a reconstruir a escola.— Sim, ele é. — Respondeu Esther.Bernardo fez um comentário que soou mais como uma provocação sutil:— Os soldados do seu país são bem altruístas, não é? Ajudando os aldeões sem esperar nada em troca.O tom dele deixava claro que ele duvidava da sinceridade dessa bondade, mas não tinha nenhuma expressão especial em s
— Talvez não seja isso que você está pensando. — Disse Ademir, tentando consolar Estrella sem sequer refletir muito.Os olhos de Estrella brilharam frios, cheios de frustração.— Então o que é? Meu pai já me reconheceu. Por que ele não? Ele esqueceu como éramos próximos quando crianças? Como é que agora, depois de adultos, tudo mudou?— Talvez seja porque você acabou de voltar. — Ademir tentou mais uma vez apaziguar a situação. — O Sr. Bernardo deve estar se ajustando ainda. Ele passou anos te procurando, não se esqueça disso.Estrella soltou uma risada amarga.— Procurando? Não parece que ele me vê como irmã!— Não é isso... —Ademir tentou explicar.— Não é? Ele trata aquela mulher tão bem! Ele até deu um presente pra ela! Nem pra mim ele trouxe algo, mas pra ela sim! — Exclamou Estrella, com a voz cheia de ressentimento e raiva. — Isso não vai ficar assim. Se ele gosta tanto dela, vou acabar com ela! Se eu não posso ter, ninguém mais vai ter!Ademir hesitou, mas respondeu com firmeza
A flecha se cravou com força no tronco de uma árvore próxima.Esther ficou paralisada, o seu coração batia descompassado. O ataque foi tão inesperado que ela demorou a processar o que tinha acontecido.Bernardo, com o semblante sério, olhou em direção à floresta. O atirador, percebendo que havia falhado, não perdeu tempo e fugiu rapidamente, desaparecendo entre as sombras.— Você está bem? — Perguntou Bernardo, desviando o olhar da floresta para Esther.Ela ainda olhava para o local de onde a flecha havia sido disparada, com os olhos arregalados. A intenção do ataque era clara. Eles queriam tirar sua vida. E agora? Estava em um lugar considerado seguro, cheio de pessoas, mas alguém ainda assim havia tentado matá-la. Por quê? Quem poderia odiá-la tanto?— Esther? — Bernardo chamou novamente, com a voz mais firme.Esther piscou algumas vezes e finalmente voltou a si. Seguiu o olhar de Bernardo para a floresta, mas tudo estava tão escuro que era impossível ver qualquer coisa. O agressor j